Enquanto a esquerda espanhola tentava entender-se para investir o socialista Pedro Sánchez como primeiro-ministro, o líder do Partido Popular (PP), Pablo Casado, assegurava que “a investidura é responsabilidade exclusiva de quem ganhou as eleições”. Contudo, o peso dessa responsabilidade passou em parte para o PP, graças ao desafio lançado pelo Ciudadanos (CC), que apelou a uma abstenção conjunta com os populares para evitar eleições antecipadas – uma proposta que Sánchez já aceitou de bom grado.
“Propus chegar a um acordo com o outro partido constitucionalista, com o Partido Popular”. anunciou o líder do CC, Albert Rivera. Por “constitucionalista”, Rivera quer dizer “que se opõe à independência das regiões autónomas” – algo proibido pela Constituição espanhola. A importância disto para o CC ficou bem patente nas três condições que colocou para permitir que os socialistas formem Governo.
Em primeiro lugar, Rivera exigiu que o PSOE rompa o seu acordo para o governo autonómico de Navarra – onde governa com apoio do Unidas Podemos e dos nacionalistas bascos do Euskal Herria Bildu (EH Bildu). Em alternativa, o CC quer que os socialistas negoceiem com Navarra Suma – uma coligação regional de que faz parte o CC, o PP e os conservadores do União do Povo Navarro (UPN).
A segunda condição é relativa aos independentistas catalães. Rivera exige que seja criado um gabinete para aplicar o artigo 155, que põe fim à autonomia regional em caso de incumprimento da Constituição – e que foi usado para a Catalunha, em 2017, após o referendo à independência da região. O CC não exige nada menos que mão dura quanto ao assunto, querendo que o PSOE ponha fora de questão qualquer indulto aos líderes catalães que neste momento estão detidos em Madrid.
Apenas a terceira condição não é relativa à unidade de Espanha, tendo Rivera recusado aceitar que o PSOE suba os impostos “às famílias”. O líder dos socialistas aceitou praticamente de imediato a proposta, sublinhando que “não há nenhum obstáculo real a que o PP e o CC se abstenham”. Segundo o El País, Sánchez salientou que os nacionalistas bascos não fazem parte do governo autonómico – logo, será um executivo “constitucional” pela definição de Rivera – e lembrou que o PSOE sempre apoiou a utilização do artigo 155 e que o objetivo do seu Governo até será baixar os impostos para a classe média.
Face a esta viragem brusca de Sánchez para a sua direita, o Unidas Podemos – que está há meses a negociar com PSOE, sem sucesso – ficou posto de lado. Segundo a porta-voz da direção do partido, Noelia Vera, o Unidas Podemos mantém “uma pequena esperança” de conseguir um acordo de coligação nos próximos dias – em que ou tentará formar um novo Governo, ou serão convocadas eleições.