Os meninos ricos de Albergaria dos Doze

Os meninos ricos de Albergaria dos Doze


O Estado decretou que, em Albergaria dos Doze, todos têm de ser educados de acordo com a cartilha da secretária de Estado Alexandra Leitão.


Albergaria dos Doze é uma freguesia do concelho de Pombal com cerca de dois mil habitantes. Em 1968, uma benemérita da freguesia decidiu abrir um colégio para as crianças da terra. António do Carmo foi um dos primeiros alunos deste externato. Filho de agricultores com apenas dois ou três anos de escola, os pais quiseram dar um futuro diferente ao seu filho e pagaram do seu bolso uma mensalidade para a qual, ainda hoje, o filho não consegue explicar em que matemáticas se inspiraram. “Os meus pais pagavam 400 escudos e o meu pai ganhava 500”.

Isto passou-se em 1970. Na aldeia, na altura, poucos sabiam ler ou escrever. Veio o 25 de Abril, consolidou-se a democracia e o Externato Liceal de Albergaria dos Doze tornou-se a porta de acesso a uma vida diferente para os filhos da freguesia. António do Carmo é agora o diretor do externato onde um dia entrou de calções e deu os primeiros passos de uma vida que lhe permitiu tirar o curso de Engenharia Geográfica. Quarenta anos bastaram para que a realidade de Albergaria dos Doze se tivesse transformado por completo. Os filhos de agricultores analfabetos são agora, graças à democracia, licenciados na sua maioria.

Não foi o Estado que mudou a realidade nesta freguesia do concelho de Pombal, foi a Dona Maria Emília Alegre. Os pais que não abandonaram a terra querem agora dar aos filhos a mesma educação de excelência que tiveram, mas o Estado, que um dia reconheceu o mérito deste projeto educativo e financiou as turmas dos meninos de Albergaria dos Doze, diz agora aos antigos alunos que não podem pôr os filhos naquela escola. A escola que os educou e que é ao lado da porta já não é boa – dizem os socialistas da Cinco de Outubro – para educar os seus filhos. O Estado manda que os meninos se metam num autocarro todos os dias e façam um percurso de 18 km por estradas tortuosas para frequentarem a secundária de Pombal.

Não é o que os pais escolheram para os filhos. Sai mais caro ao Estado. A escola está a transbordar. Os meninos têm piores condições. Mas o Estado que um dia valorizou o esforço e o mérito do externato de Albergaria dos Doze decretou agora que aquela é uma escola de meninos ricos.

O Estado decretou que, em Albergaria dos Doze, todos têm de ser educados de acordo com a cartilha da secretária de Estado Alexandra Leitão.

António do Carmo, o menino que conseguiu tirar uma licenciatura por causa do externato de Albergaria dos Doze, continua a resistir. Conta-nos que dos 170 alunos inscritos, 20 não têm financiamento. Entraram para o quinto ano e, no sexto, Alexandra Leitão mandou-os sair, mas eles não queriam, nem os pais.

O externato decidiu que não podia abandonar estes 20 e, em vésperas de começar mais um ano letivo, António do Carmo diz que vai fazer tudo para que estes meninos possam continuar a estudar nesta escola.

E como se já não fosse dor de cabeça bastante financiar alunos que o Estado abandonou por motivos ideológicos, o ano letivo 2019/20 começa com mais uma dor de cabeça: não há manuais escolares para reiniciar as aulas. Porquê? A resposta vem da IGeFE (Instituto de Gestão Financeira da Educação): “Sabe como é… as escolas com contrato de associação só têm manuais depois das escolas do Estado”.

A história de Albergaria dos Doze mostra-nos porque é que democracia é liberdade de escolha, não é imposição do Estado.

 

Cabeça-de-lista do CDS por Leiria