Igualdade de género na comunidade marítima A noite e o tempo (in)certo – ii


Garantir a plena igualdade do género nas diversas profissões associadas ao mar também é um passo para uma afirmação global, pujante e determinante da economia do mar.


A IMO (Organização Marítima Internacional) é uma agência especializada da Organização das Nações Unidas que procura estabelecer padrões regulamentares para o transporte marítimo, de modo que operadores e países implementem normas de segurança e de desempenho ambiental nos mares e oceanos e, naturalmente, no mar português.

Todos os anos comemora o Dia Mundial do Mar no dia 26 de setembro, organizando um evento sempre num país diferente e com uma temática específica. Este ano, o evento decorrerá na Colômbia, em Cartagena, e terá como tema “Empowering women in the maritime community”.

Ora, uma maior envolvência da mulher na comunidade marítima é um tema, de facto, muito atual e deveras bem escolhido, pois as atividades económicas associadas ao mar são predominantemente desempenhadas pelos homens e, como todos sabemos, chegou inclusive a haver a crença de que ter uma mulher a bordo era sinal de infortúnio certo.

Sendo certo que essas crenças são um passado longínquo, na verdade, ainda hoje se verifica que a maioria das profissões marítimas são ocupadas essencialmente pelo género masculino. A razão cultural deste facto é que se associa o tipo de trabalho no mar como duro e perigoso, não devendo ser um trabalho feminino.

Assim, contrariar esta tradição e estigma cultural no presente é, de facto, uma obrigação de todos e, principalmente, dos atores individuais e coletivos, das instituições e empresas públicas ou privadas e das entidades políticas, pois são condicionantes para um pleno acesso de uma parte substancial da população humana.

Ao garantir a plena igualdade do género feminino às diversas profissões associadas ao mar, inclusive no acesso ao topo da estrutura hierárquica, ao vencer superstições e receios infundados, ao criar condições para um envolvimento intelectual e emocional de toda a população, estaremos a permitir que o mar seja um elo mais presencial e forte no desenvolvimento da comunidade.

Sabe-se que a participação ativa das mulheres na atividade económica da sociedade é um fator determinante para tornar prósperas as economias dos países e setores de atividade, pelo que tornar a sua presença na atividade da economia azul forte e ampla seria certamente uma ajuda para a afirmação desta em Portugal e no mundo.

Portugal, com as suas ações de política pública de apoio na afirmação da igualdade do género, tem contribuído para a garantia de condições de ocorrência de uma ascensão natural de mulheres a lugares de topo, principalmente na área da investigação, ensino e gestão pública. No entanto, continuam a persistir lacunas substantivas ao nível da atividade empresarial e societária, tal como o acesso a atividades tradicionais marítimas (transporte marítimo, pescas, reparação e construção naval, etc.).

Importa, pois, melhorar os mecanismos existentes e criar outros, bem como ações de política pública mais eficazes para afirmar a igualdade de género com maior amplitude e vigor no mar português, permitindo às mulheres vislumbrar nas profissões marítimas uma boa opção de afirmação profissional e social.

O contributo da OIT para o aprofundar deste debate é de realçar e valorizar, pois estando a sua ação centrada no shipping, atividade económica marítima com grande impacto na empregabilidade e, naturalmente, na integração e ascensão social, manifesta o reconhecimento da necessidade de uma maior envolvência da mulher na comunidade marítima, o que certamente é uma forte ajuda para uma afirmação global mais pujante e determinante da economia do mar.

 

Gestor e analista de políticas públicas

Escreve quinzenalmente à sexta-feira