Quartos.  O maior entrave no acesso ao ensino superior

Quartos. O maior entrave no acesso ao ensino superior


O i falou com alguns estudantes de várias zonas do país e a opinião é unânime: os quartos são caros, a oferta é pouca e nalguns casos há falta de condições.


Entrar na faculdade, principalmente quando isso representa deixar a terra natal, é um grande passo na vida de um jovem estudante. Mas os desafios também começam nesta altura e encontrar casa ou quarto num momento em que os preços continuam a disparar pode ser um verdadeiro problema. Ou até uma grande dor de cabeça.

Fazendo uma breve pesquisa por alguns sites de alojamento ou de vendas online é possível perceber que os preços não são acessíveis a todas as carteiras, mas o i falou com alguns estudantes, um pouco por todo o país, que confirmaram que a exorbitância de preços é a principal dificuldade.

“Este ano consegui arranjar casa. Mas nos anos anteriores tive alguns problemas para conseguir arranjar”, explicou ao i David Costa, natural do Algarve mas a estudar no Estoril. A dificuldade em encontrar um sítio onde ficar foi tão grande que pensou mesmo em abandonar os estudos. Os preços são o fator mais impeditivo, uma vez que nem todos conseguem pagar rendas elevadas. “Os preços são exorbitantes e cada vez o são mais. Este ano estão ainda mais inflacionados devido à Nova [School of Business and Economics] ter aberto o ano passado. Portanto, toda a zona ali de Carcavelos deixa de ser uma opção para nós. Está pior que o Estoril”, diz.

Na zona que escolheu para morar, os preços, garante, rondam os 300 a 400 euros e, em muitos casos, não se justificam. “Há situações muito caricatas”, conta, enquanto recorda uma vivência recente: “Somos três e o senhorio da casa onde estivemos no ano passado não quis voltar a arrendar a casa por algum motivo pessoal”. A partir daí começou a árdua tarefa da procura. “Encontrámos um T0 em Cascais e a senhoria dizia que dava para os três, que tinha casa de banho, cozinha e tudo”, recorda David Costa. Mas, afinal, tudo não passava de um engano. “Quando fomos ver a casa percebemos que era uma casa partilhada, não havia T0 nenhum. Era apenas um quarto pequeno com uma cama de casal. A senhoria disse que abria o sofá e dava outra cama. E pensou que conseguíamos viver lá os três um ano inteiro. Isto tudo por 600 euros”, recorda.

O jovem estudante garante que casos como estes são uma realidade mas que, afinal, estes espaços acabam por ser alugados devido ao desespero dos estudantes.

Este ano é diferente também para Maria Caseiro, que veio da Ericeira para Lisboa. Vai estudar Jazz na Escola Superior de Música de Lisboa e, apesar de entusiasmada, encontrar um sítio a que possa chamar casa não está a ser fácil. “Tenho tido muita dificuldade no sentido em que, via internet, não costuma ser confiável e o boca-a-boca não tem revelado frutos”, garante. A jovem estudante explica ainda que os preços são “demasiado altos” e que nalguns casos não justificam o espaço, que diz parecerem “prisões”.

Já Sandra Duarte veio para Lisboa pela primeira vez para estudar Medicina Veterinária na Lusófona. É de Leiria e, tal como no caso dos restantes testemunhos, não tem conseguido encontrar quarto. Os preços são “exageradamente caros”, diz. “O que encontro na internet, muitas vezes já não está disponível quando vou marcar a visita. Os quartos são velhos para o preço que pedem e muitas vezes não são só para estudantes, o que não nos dá tanta segurança”, lamenta. E acrescenta: “Há casas com muito poucas condições”.

Queixas não acontecem só em Lisboa Ana Beatriz Gonçalves rumou de Seia, no distrito da Guarda, para Coimbra a fim de estudar Instrumentação Biomédica no Instituto Superior de Engenharia, mas encontrar um quarto para ficar não foi tarefa fácil, garante. “É difícil arranjar um quarto em condições ou casa que não seja só para rapazes”, explica ao i. Quanto aos preços, a posição é idêntica à dos restantes testemunhos: “São altos para a qualidade que os quartos apresentam”, lamentou, acrescentando que “há casas com muito poucas condições”.

A norte do país, em Vila Real, os preços são também um problema para muitos estudantes – não tão caros como na capital do país mas, em muitos casos, o poder económico também não é o mesmo. Adriana Ferreira estuda na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e vive na residência para estudantes por não ter outra opção. “Procurei quarto durante muito tempo, mas não consegui arranjar ou por ser caro ou por falta de condições. Como não sou de cá, decidi ir para a residência”, garante.

Ao i, explica as dificuldades pelas quais passou: “Os valores que pedem muitas vezes não incluem despesas como o gás, a luz e a água, e ainda temos de ser nós, estudantes, a fazer o contrato com uma operadora se queremos ter internet e pagar a despesa da mesma”. “Podem parecer preços acessíveis [entre 150 e 200 euros] mas, quando juntamos todas as despesas, com a alimentação, transportes e afins, torna-se muito mais caro”, garante.

A estudante, residente no concelho de Tarouca, em Viseu, garante ainda que há casas sem condições. “Falo de encontrar bichos em casa ao arrastar os móveis, por exemplo”.