É o que marca a agenda nesta e nas próximas três semanas que se avizinham. Os debates entre os partidos políticos com representação parlamentar é, e sempre será, um momento importante para a decisão de qualquer eleitor. De um total de 12 sessões de frente-a-frente já se cumpriram mais de metade e, por isso mesmo, é hoje possível avaliar alguns aspetos desta que é a melhor forma de apresentar as traves mestras de cada candidato a Primeiro-Ministro.
Não há quem esteja político – “estar”, porque ninguém o é e muito menos eternamente – e não tenha jeito algum para passar a sua mensagem aos eleitores que o rodeiam.
Saber falar em público, apresentar-se da forma correta, saber ouvir e não atropelar com soundbites quem está presente, colocar a voz num tom adequado a passar as suas ideias com assertividade, saber o que se diz e não se autolimitar à leitura de uma qualquer cábula sem pôr os olhos em quem os ouve, são apenas algumas das qualidades que qualquer aspirante a líder partidário, e consequentemente a governante (suponho que se anda na causa pública com ambição de vencer), devem fazer por ter.
Há quem nasça com algumas destas qualidades. Outros trabalham muito, durante muito tempo certamente, e também acabam por conseguir mergulhar na piscina da complexidade de se ser “bom” comunicador.
Nem todos terão ou irão alcançar as capacidades de oratória, dentro das suas diferentes ideologias, a níveis do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de Luís Marques Mendes, de Paulo Portas, de Francisco Assis, Pedro Santana Lopes ou ainda, de forma mais reativa, como Francisco Louçã ou Daniel Oliveira. É óbvio que não. Mas também não pensemos que só comunicar chega ou que é característica essencial para se cativar um país. Basta vermos Aníbal Cavaco Silva. Nunca foi reconhecido pelos seus pares como sendo um grande comunicador mas ainda hoje é quem esteve na política com maior número de vitórias em processos eleitorais.
À data de hoje, com a conclusão do debate de ontem à noite entre André Silva e António Costa, continuando já esta noite com o frente-a-frente entre Rui Rio e Jerónimo de Sousa, já é possível analisar e apresentar várias conclusões prementes ao interesse dos eleitores portugueses.
Começando pelo BE e pelo PAN há algo que chama logo à atenção de qualquer espectador atento: Tentam captar a simpatia, mexer em causas específicas e prometer muito, muito e muito. Aliás, sobre promessas, são 1196 propostas apresentadas pelo PAN. Tem tanto de utópico como de populista.
Sobre promessas podemos começar com um exemplo de proposta que vai neste sentido. Catarina Martins, líder do BE, afirmou reiteradamente que ambiciona nacionalizar a GALP. Fica bem no ouvido? Talvez. Atrai de forma populista os mais distraídos? Claro! Mas, e inclusive foi salientado em pleno debate, falar-se levianamente de algo com custos a rondar os 10 mil milhões de euros não pode passar em claro. Basta pensarmos. O atual Orçamento de Estado confere ao Ministério da Saúde precisamente 10.922,9 milhões de euros para gastar. Não será mais útil aos portugueses usar a verba que o BE quer aplicar na nacionalização da GALP, meramente por fim ideológico, na Saúde? É o mesmo valor. 10 mil milhões de euros.
Os debates, para além de promessas também podem ter momentos de total falha. Catarina Martins assumir publicamente que as linhas programáticas do BE são social-democratas é demagogo. Foi uma falha grande. Um projeto político inspirado na vertente do trotskismo não pode nunca ter cariz social-democrata. Mas estes momentos servem para ver e sentir a espinha dorsal de cada líder partidário, a do BE tem perdido pontos a vários níveis pelo seu ziguezaguear.
Ainda sobre a líder do BE, parceira do PS nas políticas dos últimos 4 anos, há uma “tirada” que ficará seguramente durante muito tempo na retina dos portugueses. A afirmação de que, cito, “a evaporação das águas das barragens é um problema complicado”… Pois. Complicado será a vida de quem a assessorou Catarina Martins para este momento.
E sobre o PAN? O que podemos concluir quando o seu Presidente André Silva tem (enorme!) espaço televisivo limita-se só ao (pequeníssimo!) espaço de matérias sobre ambiente. Será que os portugueses não merecem saber o que pensa este partido sobre Saúde? Educação? Habitação? Finanças Públicas? Amplitude do Estado, mais regulador ou menos? Iniciativa privada? Sobre o estado dos transportes públicos?
Naturalmente, e com mérito, têm propostas que reconheço total pertinência. Outras que discordo em absoluto como a questão trazida a público das sessões de reconciliação semanal entre condenados e as famílias das respetivas vítimas.
Mas a forma de estar a agir politicamente do PAN, de apenas ter causas pontuais, muito focadas nos direitos dos animais ainda (com alguns toques ecológicos não inovadores na esfera de propostas partidárias), e nada apresentar estruturalmente é escassa para servir de modelo de governança a todo um País. É preciso mais, na minha opinião, inclusive na acutilância de quem durante toda uma legislatura (4 anos não são 4 semanas…) acompanhou o trabalho da Geringonça para não se recordar do maior erro político do atual Primeiro-Ministro. Soube a pouco.
O PCP vive na negação do que apoiou durante 4 anos. Ainda em choque térmico pela traição socialista nas autárquicas e com manifesta insatisfação pela procura de resposta mediática sobre como será o futuro. Convive mal com o BE e isso afeta a aparente cordialidade com o antigo adversário do Largo do Rato.
António Costa e Rui Rio são os grandes motores deste ciclo de debates. Ambos têm marcado pontos positivos por formas diferentes. Parece tornar evidente que se percebe o porquê de serem os únicos líderes com aspirações reais a ter um projeto de Governo.
António Costa porque, por erro de todos os demais, marca sozinho a agenda e o ritmo dos temas que interessam ao Partido Socialista debater ou rebater. Tem conseguido passar ao lado das cativações financeiras, da falta de investimento público do seu Governo, do estado de degradação dos transportes públicos, das falhas do Estado nos incêndios, dos Familygate, do caos na Saúde e da falência do SNS a vários níveis e até da insegurança política em poder afirmar que irá manter Mário Centeno enquanto Ministro caso vença as eleições. Não pensemos que é inocentemente, há preparação e habilidade para o PS fintar as críticas que lhe são apontadas por toda a oposição. E, goste-se mais ou menos, reforça a ideia de preparação política do atual Primeiro-Ministro.
Rui Rio tem marcado pontos. O líder do PSD tem sido, de todos os televisionados, aquele que tem tido a linguagem mais simples e a maior coerência na explicação das suas ideias. Os portugueses têm reconhecido essa proximidade entre as ideias e a sinceridade na opinião. Economicamente tem aproveitado bem cada momento para dar “aulas” simples no campo que lhe é mais favorável. Tem sido coerente a apontar o caminho de como o PSD quer, sob base do programa económico apresentado pelo seu Mandatário nacional Joaquim Miranda Sarmento, reverter a elevada carga fiscal que aponta ao PS como posteriormente aumentar os níveis de investimento público para suprimir as falhas do Estado que todos os partidos (menos o PS) apontam.
Não têm sido debates com o grau de guerrilha que já se assistiu noutros tempos, se recuarmos a 2005 veremos que não havia espaço a conversas cordiais como aconteceu ao longo da passada semana.
No entanto, independentemente dos gostos pessoais, não é forçoso que debates tenham que conter berraria, esbracejar desenfreado ou acusações particulares para serem úteis ou memoráveis.
Os decibéis que interessam medem-se em propostas e caminhos alternativos que visem a melhoria da vida dos portugueses. Continuo a acreditar que esse é o propósito de cada um dos candidatos dos 19 partidos políticos que vão a votos a 6 de outubro.
Debata-se. Precisamos disso.
Carlos Gouveia Martins