Ursula von der Leyen não perdeu, até agora, uma única oportunidade de causar uma boa impressão. Já não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira. Na apresentação da Comissão Europeia a que presidirá e na gestão dos difíceis equilíbrios políticos, geográficos, nacionais, até de género (paridade absoluta, já que à presidente se juntam outras 12 mulheres e 14 homens), passou com distinção, impondo inclusive uma nova nomenclatura de comissariados que surpreendeu os eurocratas mais ortodoxos – a começar pelos jornalistas que há anos cirandam pelos corredores de Bruxelas e de Estrasburgo.
Von der Leyen apresentou-se com indumentária feminina, com um simples casaco cor-de-rosa por cima de uma camisa branca e com um sorriso matriarcal e sereno, inspirador de confiança e de esperança. E foi clara na afirmação da preocupação com as questões climáticas (que inteligentemente entregou ao homem que os socialistas queriam ter como presidente da Comissão e que ficou como primeiro vice-presidente, Frans Timmermans), com a área digital (da vice-presidente dinamarquesa, Margrethe Vestager), com a Europa virada para os cidadãos (do vice-presidente Valdis Dombrovskis, da Letónia), com o peso do Velho Continente no mundo (da responsabilidade do espanhol Josep Borrell) e com a qualidade da democracia e a evolução da demografia europeia (entregue à croata Dubravka Suica). Para a portuguesa Elisa Ferreira ficou a pasta da Coesão e Reformas. Uma pasta com que as autoridades nacionais se regozijaram, ainda que, diga-se de passagem, tenhamos ficado fora das vice-presidências (uma derrota para António Costa). Mais: o que está em causa é apenas uma questão de prestígio e não propriamente um benefício direto para o país – acaso Portugal beneficiou alguma coisa das presidências de Durão Barroso, em dois mandatos consecutivos? Ou a Cultura portuguesa foi particularmente bafejada pelos apoios concedidos pelo comissário Carlos Moedas? Ou a Justiça, quando o comissário foi António Vitorino? Ou mesmo antes, com Deus Pinheiro ou Cardoso e Cunha?
Não obstante, a escolha de von der Leyen, em favor de Elisa Ferreira e em detrimento do outro nome indicado pelo Governo português, Pedro Marques, foi obviamente a mais acertada. O Banco de Portugal perde uma potencial boa governadora, a Europa ganha uma competente comissária.