Notas falsas made in Portugal. PJ desmantela uma das maiores redes da Europa

Notas falsas made in Portugal. PJ desmantela uma das maiores redes da Europa


Esquema que permitiu a produção de pelo menos 26 mil notas de 50 euros era liderado por um português que vivia na Colômbia. Cinco pessoas foram detidas.


Portugal abrigava um esquema complexo de fabrico de notas de euro praticamente iguais às verdadeiras. Apesar da elevada qualidade, espécimes destas notas tinham vindo a ser apreendidos em países como França, Alemanha, Espanha e, naturalmente, Portugal – no total, 1 milhão e 300 mil euros de dinheiro paralelo. Nos últimos dias, a rede encabeçada por um português a residir na América Latina foi desmantelada numa megaoperação da Polícia Judiciária e da Europol, tendo sido detidas cinco pessoas.

“A Polícia Judiciária, através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção e com a colaboração da Europol, procedeu ao desmantelamento de uma das maiores redes de contrafação de moeda da Europa, comercializada através da comummente designada darknet, no âmbito de inquérito a correr termos no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa”, explicou ontem fonte oficial da PJ, adiantando que foi preciso envolver nos trabalhos outras unidades desta polícia, “designadamente da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica e do Laboratório de Polícia Científica”.

1833 notas apreendidas e cinco pessoas detidas No âmbito das oito buscas domiciliárias e não domiciliárias levadas a cabo pelas autoridades foram apreendidas “1833 notas falsas (1290 notas de 50 euros e 543 de 10 euros), perfazendo um total de 69 930 euros”.

Mas os inspetores da Judiciária também encontraram diverso material usado para o fabrico das notas, como “computadores, impressoras, papel de segurança com incorporação de filamento de segurança, hologramas e bandas holográficas autoadesivas, tintas ultravioleta, tinteiros, entre outros”.

Nesta investigação estão em causa os crimes de contrafação de moeda e associação criminosa, tendo sido detidos três homens e duas mulheres com idades entre os 26 e os 63 anos.

“Esta rede criminosa encontrava-se a operar desde pelo menos o início de 2017, tendo sido responsável pela produção de mais de 26 mil notas, maioritariamente de 50 euros”, esclareceu a PJ, adiantando que “as notas contrafeitas foram apreendidas em praticamente todo o espaço europeu, com maior incidência em França, Alemanha, Espanha e Portugal, atingindo um valor superior a 1 milhão e 300 mil euros”.

Eram publicitadas e vendidas na darknet A rede chegava até aos seus clientes sempre da mesma forma, através da darkweb, recebendo encomendas através de mensagens privadas enviadas através de um determinado mercado do lado obscuro da internet ou através de plataformas de comunicação encriptadas, descobriram os investigadores.

“Posteriormente, após o respetivo pagamento, em regra efetuado através de moeda virtual, as notas eram enviadas por via postal, a partir de Portugal, local onde se encontravam a ser produzidas”, conclui a investigação.

O grupo ficava com lucros entre os 20 e os 25% do valor total das notas contrafeitas.

Notas tinham muita qualidade e líder vivia na Colômbia Apesar de terem sido detetadas pelas autoridades de vários países europeus, dentro do mercado de moeda contrafeita, estas notas eram consideradas como sendo de elevada qualidade.

Como refere a Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, “a elevada qualidade das notas produzidas por esta rede criminosa era reconhecida por todos os compradores, assente na utilização de papel de segurança com incorporação de filamento de segurança, hologramas e bandas holográficas autoadesivas, tintas ultravioleta, marca de água e talhe doce”.

Todo o fabrico era, no entanto, comandado à distância desde há pelo menos um ano por um dos detidos. É que apesar de ser português, o alegado cabecilha do grupo tinha saído do país em 2018. “O presumível líder deste grupo criminoso, um cidadão português residente na Colômbia desde meados de 2018 e com antecedentes por crimes diversos, foi detido nesse país no âmbito de Mandado de Detenção Internacional emitido pelas autoridades portuguesas, na sequência de estreita colaboração com as autoridades colombianas”, anunciou ontem fonte da Judiciária em comunicado, acrescentando que, “nos últimos dias, as autoridades colombianas procederam à sua expulsão do país, tendo sido detido pela Policia Judiciária, já em território nacional”.

Os cinco detidos no âmbito desta operação, batizada como Deep Money, são portugueses e franceses e foram entretanto presentes a juiz de instrução criminal, tendo-lhes sido aplicada a medida de coação mais gravosa: “Na sequência da apresentação às autoridades judiciárias e judiciais competentes, para realização do primeiro interrogatório judicial e aplicação de medidas de coação, os cinco arguidos ficaram sujeitos à medida de prisão preventiva”.