“O que faço normalmente é mexer um pouco nelas quando mas dão como se estivesse a fazer contas para o troco que tenho de dar”. Jorge Santos (nome fictício) tem 67 anos, trabalha num quiosque de jornais da Rua de Santa Justa e não acha bem estar a confirmar a veracidade das notas à frente dos clientes. Mas diz já ter arranjado técnicas para não ser enganado: “Comercialmente, não seria muito correto estarem a dar o dinheiro e nós a verificar à frente deles se são falsas quando nos suscitam dúvidas”.
Mas nem todos os lojistas pensam da mesma forma. O i percorreu ontem várias ruas da Baixa lisboeta e falou com diversos comerciantes. De restaurantes a tabacarias, passando por lojas de grandes marcas e cafés, a resposta foi quase sempre a mesma: quando há desconfiança ou as notas são de maior valor é sempre feita uma verificação.
Uns assumem-no e fazem a verificação em frente aos clientes, outros correm mais riscos e esperam que estes saiam antes de riscar a nota ou passá-la na máquina de ultravioleta.
Maria Borges tem 40 anos, trabalha na sapataria Seaside há vários anos e só foi enganada uma vez. E, desde aí, nunca mais facilitou. Esta gerente de loja conta que até hoje recebeu “apenas uma nota falsa de 50 euros há uns tempos” e que nem sequer se apercebeu logo. Apenas soube “que era falsa quando a nota foi entregue ao banco”: “Aí, a Seaside teve prejuízo”. Desde esse momento, explica, todas as notas que passam pela loja são verificadas com caneta e com a máquina de ultravioleta, lembrando que “são as notas de 20 euros para cima que geram mais cuidado”.
É preciso ter a certeza antes de dizer que a nota é falsa A gerente desta loja da Rua Augusta afirma que é preciso ter muito cuidado antes de dizer a um cliente que uma nota é falsa: “Arriscamo-nos a estar errados e, aí, o cliente pode acusar-nos de estarmos a mentir”.
A técnica de Maria Borges para não cometer erros é nunca dizer que uma nota é falsa. “Quando estranhamos um bocado damos logo a nota de volta e pedimos outra”, explica ao i.
Jorge Santos entende bem o que diz esta funcionária da sapataria. O dono do quiosque de jornais diz que, além de não confirmar o dinheiro à frente dos clientes, há notas de que nem sequer duvida e, por isso, nem perde tempo. Enquanto treina o seu francês e inglês com vários turistas que atende, explica ao i que nas últimas duas décadas – o quiosque está aberto desde o ano 2000 – teve apenas “dois ou três casos” em que recebeu notas falsas. Casos em que nem teve dúvidas: “Tratavam-se claramente de cópias”.
Jorge conta ainda que, no que toca a moedas, verifica sempre o que lhe é dado, “porque não é a primeira vez que [lhe] dão moedas de outros países para ver se passa”. “A maioria dos casos são de estrangeiros que, em dias de maior movimento, tentam aproveitar-se da situação”.
Quando é a experiência a confirmar as notas No número 232 da Rua Augusta está um dos estabelecimentos mais antigos da capital, por onde passam milhares de pessoas todos os dias. A Casa Canadá nasceu em 1920 e o dono, Américo Nascimento, de 91 anos, cresceu e viveu sempre com ela. Em declarações ao i, conta que também “não costuma receber muitas notas falsas”.
“O único caso de que me recordo foi há cerca de três anos, quando recebi uma de 200 euros, mas só nos apercebemos já quando estava no banco. Ficámos sem ela”, disse com um sorriso, lamentando não ter podido ficar com a nota falsa para a pôr em exposição na loja.
A Casa Canadá é um caso distinto dos anteriores. Ali não se usa caneta nem máquina de ultravioleta para verificar se as notas são falsas ou verdadeiras, apenas o conhecimento de quem lá trabalha. “Temos a nossa visão, a nossa experiência. As notas, normalmente, têm duas cores e relevo. E conforme a posição, a cor varia. A partir daí, dá para ver”,
Talvez por questões comerciais há, no entanto, exemplos de lojas que não fazem a verificação do dinheiro. A Zara é um desses casos, segundo contou ontem ao i, logo após o almoço, a gerente da loja da Rua Augusta: “Nenhuma nota é verificada, isso são questões tratadas mais tarde pela empresa”.