Tempos estranhos estes em que nos dizem tudo e não dizem nada. Em que tudo é bom e mau ao mesmo tempo. Que em nome de lucros desenfreados e de lobbies fortíssimos vamos sendo marionetas num teatro de campanhas publicitárias agressivas e mentirosas, que vão jogando as suas peças e comprando os seus peões para desferir “xeque” ao mercado. Qualquer coisa em que toque aparece-me logo alguém que me diz: “Cuidado, que isso faz mal a isto e mal àquilo”. Na televisão, supostos entendidos na matéria dizem-nos diariamente o que podemos e não podemos e, nas bancas das grandes livrarias, há carregamentos de livros de como comer saudável, de como envelhecer com a alimentação correta e de como seguir alimentações à base de produtos anti-cancerígenos.
A verdade é que eu vejo-os a tombar na mesma. Todos morremos, escusam de pensar que por comer menos uma fatia de chouriço ou mais uma salada de quinoa as coisas se vão alterar-se substancialmente. É lógico e evidente que existem alimentos mais nocivos do que outros, basta atentar na forma como são produzidos. Também é perfeitamente natural que nas escolas e em casa comecem a passar a mensagem de uma dieta equilibrada e de uma escolha mais criteriosa do que devemos fazer. E é obrigatório começar a fugir ao que nos é verdadeiramente prejudicial, tentando desde cedo educar as crianças para se habituarem a tomar melhores decisões, porque isto, na verdade, tem tudo a ver com hábitos – e esses têm que começar desde cedo.
O problema é que com tanta informação e desinformação perdemo-nos completamente entre o que é ou não certo. Basta ver que, hoje em dia, algumas das páginas mais vistas na internet são pesquisas no Google sobre os benefícios ou danos que este ou aquele alimento nos pode trazer. Mesmo os jornais já perceberam que este tipo de notícias – chamadas de “virais” – trazem um maior interesse às próprias páginas, apostando este tipo de informações para captar a atenção dos consumidores. “Descubra os 10 benefícios do gengibre”. “Descubra os benefícios das cores dos alimentos”. “Afinal, os hidratos de carbono são bons ou maus?”. Normalmente, depois de abrirmos uma destas páginas, surge alguém que se apresenta com um determinado currículo a dizer uma coisa e na página seguinte já outra pessoa vem dizer outra coisa completamente diferente…
Todos queremos um planeta melhor, todos queremos deixar algo de bom aos nossos descendentes e cada vez existe uma maior consciencialização para isso, nomeadamente na alimentação. O que não podemos é andar a usar os alimentos como nova moda de aldrabice onde todos são entendidos e em que tudo parece fácil. Até que eu veja alguém a viver eternamente e possa pensar que isso é derivado do que come acho que devemos continuar a comer um pouco de tudo e de tudo um pouco. Que devemos optar por alimentos mais naturais e menos processados já sabemos, mas também sabemos que muito do que é a determinação da nossa sorte cá na terra é genético – e que há quem morra cedo muito saudável e quem viva muitos anos com maus hábitos. Importante é parar com esta obsessão pela alimentação saudável como se isso fosse assim tão comprovado. Fundamentalismos nunca trouxeram nada de bom ao mundo e este também não trará, com toda a certeza.