Correia de Campos. “Costumo dizer que naqueles três anos como ministro envelheci por dez”

Correia de Campos. “Costumo dizer que naqueles três anos como ministro envelheci por dez”


Licenciou-se em Direito e a saúde foi um acaso. Orgulha-se das reformas que deixou no SNS. Hoje defende que a mais imperativa é a dedicação plena.


Defende que nunca houve tanto consenso para uma reforma que considera essencial no SNS: avançar com a “dedicação plena” dos profissionais, não a antiga exclusividade, mas novos mecanismos para que as equipas recebam incentivos em função de resultados e objetivos, como foram criados nas Unidades de Saúde Familiar que lançou enquanto ministro. Em fim de ciclo político, reta final também do seu mandato como presidente do Conselho Económico Social, Correia de Campos fala da nova perspetiva que passou a ter sobre a concertação social, dos desafios do SNS – que não acredita que esteja perto de pisar a linha vermelha mas precisa de um novo impulso –, da maioria absoluta que lhe permitiu fazer as reformas que quis na Saúde, dos tiros que apanhou – e que hoje vê Marta Temido apanhar – e junta outra ideia ao debate: porque não hão de os hospitais públicos atrair clientela que hoje recorre ao privado por questões de conforto?

Alertou nos últimos meses que o SNS está em risco de se transformar numa caricatura, mas distante de uma crise grave. Está mais pessimista do que há quatro anos?

Estamos num momento de viragem, com um Parlamento a terminar e outro que irá começar. Não podemos ser pessimistas, temos de ser absolutamente otimistas e até temos razões. Tivemos quatro anos de estabilidade e colmataram-se algumas faltas de recursos humanos, temos mais médicos e mais enfermeiros.

Mas há relatos de dificuldades nas escalas, os tempos de espera.

É evidente que há explicação para lacunas, houve por um lado o encurtamento do horário de trabalho e por outro um aumento da procura.

O regresso às 35 horas foi uma decisão acertada?

Foi a posição negociada e porventura foi um dos contributos para o resultado da estabilidade de que granjeámos nestes quatro anos. Não vale a pena isolar medidas e dizer se foi acertado ou errado.

Mas fragilizou o SNS?

O SNS tem muitas tensões e a mais importante é a demográfica. A população, envelhecendo, precisa de mais cuidados de saúde, vai mais vezes ao hospital, pelo que há um aumento de procura natural. Depois há um aumento de procura que é trazido pela tecnologia. A tecnologia medicamentosa está a aumentar a uma velocidade brutal. Em plena crise, entre 2011 e 2014, fechou-se um ciclo terapêutico, com grandes produtos que perderam patente, o que permitiu baixar mil milhões de euros na fatura farmacêutica. Esse ciclo terminou para ser sucedido por um muito mais dispendioso.

O caso do medicamento de Matilde, as novas terapias genéticas?

Esses são casos excecionais, mas hoje temos medicamentos novos que representam despesas anuais de centenas de milhares de euros para um só doente, 100 mil, 200 mil, 300 mil. Isto são fatores de tensão. Não podemos falar de um fator só. 

Leia a entrevista na íntegra na edição impressa do i, já nas bancas