Ontem à noite, o papamóvel percorreu as ruas de Maputo, rodeado de milhares de pessoas que acenavam entusiasticamente bandeiras e lanternas de telemóveis, recebendo o Papa Francisco com uma estrondosa ovação. Há mais de 30 anos que um sumo pontífice não visita o país e, para celebrar a ocasião, foi decretada tolerância de ponto. A visita surge pouco depois de ter sido assinado um acordo de paz entre a Frelimo – o partido governante de Moçambique – e a Renamo, que pôs fim às hostilidades militares no país. Contudo, o país está em plena campanha eleitoral para as eleições – que poderão facilmente criar tensões entre as duas velhas forças rivais.
“É um momento para celebrarmos e estarmos juntos”, afirmou Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique, onde 26% da população segue a fé católica, enquanto o segundo grupo religioso mais numeroso é o islão, com 18% da população, segundo os censos de 2017. A defesa da diversidade e a convivência inter-religiosa estarão certamente na agenda da sua visita a Moçambique.
Note que boa parte dos muçulmanos concentram-se na região norte do país, em particular na província de Cabo Delgado, que há anos enfrenta ataques do grupo fundamentalista islâmico al-Sunnah wa Jamaah. Desde há algum tempo que os críticos acusam a resposta do Governo de estar ser demasiado pesada e militarizada. E ainda esta semana várias ONG’s de direitos humanos, que numa carta enviada ao Papa, descreveram a sua preocupação com “o aumento da intimidação e perseguição aos defensores dos direitos humanos, ativistas, organizações da sociedade civil e media, a deterioração da situação dos direitos humanos em Cabo Delgado”.
A várias organizações subscritoras da carta viram a sua visita “uma oportunidade genuína para o Governo moçambicano reafirmar o seu compromisso de defender os direitos humanos”. O Papa Francisco vai agora prosseguir, esta sexta-feira, o seu périplo por África, embarcando para Madagáscar e depois para a Maurícia.