Good Bye Lenine


Portugal, uma vez mais, vai em outubro desperdiçar a oportunidade de regenerar um conjunto de entraves que impedem a sua progressão em direção à modernidade e sustentabilidade económica.


O título deste artigo corresponde ao de um filme que aborda o choque que uma cidadã da antiga RDA (Alemanha Oriental) sofreu quando regressou a casa depois de um prolongado período em coma num hospital e durante o qual se deu a queda do muro de Berlim. Esta cidadã, defensora do modelo socialista, encontrou uma sociedade cujo funcionamento se alterou profundamente.

Pessoalmente assisti à queda do muro de Berlim com um enorme entusiasmo logo depois de ter sido o 1.º aluno Erasmus do ISCTE, universidade onde me licenciei. Esse entusiasmo levou-me na altura a visitar Berlim e comemorar aquela tão ambicionada mudança e evolução civilizacional. Também nós agora vivemos tempos que colocam em causa o modelo de sociedade que fomos ao longo das últimas seis décadas construindo. Poderia preencher o resto do artigo com Good Bye a uma série de personalidades que personificaram a construção de uma sociedade e uma cultura de integração, desenvolvimento e humanidade… Ficam alguns apenas: Good Bye Churchill, Good Bye Kennedy, Good Bye Delors, Good Bye Sá Carneiro, Good Bye Mário Soares.

A Trumpização da sociedade americana coloca em causa os princípios de democracia e civismo que nos habituámos a identificar nos EUA – país que bem conheço e frequentemente visito desde os cinco anos. A forma baralhada, abrupta, tensa e xenófoba como o Reino Unido, onde vivi e conclui Mestrado e Doutoramento,  trata a sua continuidade na União Europeia é, à luz do modelo de funcionamento da mais antiga democracia do mundo, um atentado a esses princípios que muitas vidas custaram aos pais e às gerações fundadoras. É imperativo unir a Europa para que possa efetivamente defender e preservar os princípios humanistas que levaram à sua construção. Em tempos de campanha eleitoral não vimos em Portugal nenhuma força política a manifestar a sua preocupação com estas matérias, e por maioria de razão não assistimos a nenhum debate onde as ameaças que pairam sobre este modelo de sociedade sejam efetivamente abordadas com propostas e ideias concretas. Sendo Portugal um dos países responsáveis pela globalização, atualmente híper dependente do ponto de vista económico dos seus parceiros europeus, seria de esperar uma posição substancialmente mais ativa e responsável sobre este tipo de causas que condicionam, e muito, o nosso eco sistema económico e social. Ao invés, assistimos a um debate sobre sondagens e arquiteturas de coligação. Como se não chegasse assistimos ao Bloco de Esquerda a afirmar que o seu programa é Social Democrata! Isto só é possível porque o espaço Social Democrata que deveria ser defendido e ocupado com atores e propostas de século XXI está entregue à irresponsabilidade e sobranceria de quem não entende as enormes ameaças e desafios que a atualidade da geopolítica em que estamos inseridos é alvo. Portugal, uma vez mais, vai em outubro desperdiçar a oportunidade de regenerar um conjunto de entraves que impedem a sua progressão em direção à modernidade e sustentabilidade económica. Lembro, por fim, que somos responsáveis e detentores da maior zona económica exclusiva marítima da Europa e que quando medimos a dimensão da área dos países incluindo espaço terrestre e marítimo, somos cerca de cinco vezes maiores que a Alemanha. Se mais fosse necessário para demonstrar a limitada capacidade dos sucessivos governos, este dado por si só é bem demonstrativo da pequenez no que à exploração de horizontes geopolíticos e económicos diz respeito. Estamos mal entregues e não se vislumbram grandes alterações. É no mínimo muito aborrecido.

Subscritor do manifesto Por Uma Democracia de Qualidade

Good Bye Lenine


Portugal, uma vez mais, vai em outubro desperdiçar a oportunidade de regenerar um conjunto de entraves que impedem a sua progressão em direção à modernidade e sustentabilidade económica.


O título deste artigo corresponde ao de um filme que aborda o choque que uma cidadã da antiga RDA (Alemanha Oriental) sofreu quando regressou a casa depois de um prolongado período em coma num hospital e durante o qual se deu a queda do muro de Berlim. Esta cidadã, defensora do modelo socialista, encontrou uma sociedade cujo funcionamento se alterou profundamente.

Pessoalmente assisti à queda do muro de Berlim com um enorme entusiasmo logo depois de ter sido o 1.º aluno Erasmus do ISCTE, universidade onde me licenciei. Esse entusiasmo levou-me na altura a visitar Berlim e comemorar aquela tão ambicionada mudança e evolução civilizacional. Também nós agora vivemos tempos que colocam em causa o modelo de sociedade que fomos ao longo das últimas seis décadas construindo. Poderia preencher o resto do artigo com Good Bye a uma série de personalidades que personificaram a construção de uma sociedade e uma cultura de integração, desenvolvimento e humanidade… Ficam alguns apenas: Good Bye Churchill, Good Bye Kennedy, Good Bye Delors, Good Bye Sá Carneiro, Good Bye Mário Soares.

A Trumpização da sociedade americana coloca em causa os princípios de democracia e civismo que nos habituámos a identificar nos EUA – país que bem conheço e frequentemente visito desde os cinco anos. A forma baralhada, abrupta, tensa e xenófoba como o Reino Unido, onde vivi e conclui Mestrado e Doutoramento,  trata a sua continuidade na União Europeia é, à luz do modelo de funcionamento da mais antiga democracia do mundo, um atentado a esses princípios que muitas vidas custaram aos pais e às gerações fundadoras. É imperativo unir a Europa para que possa efetivamente defender e preservar os princípios humanistas que levaram à sua construção. Em tempos de campanha eleitoral não vimos em Portugal nenhuma força política a manifestar a sua preocupação com estas matérias, e por maioria de razão não assistimos a nenhum debate onde as ameaças que pairam sobre este modelo de sociedade sejam efetivamente abordadas com propostas e ideias concretas. Sendo Portugal um dos países responsáveis pela globalização, atualmente híper dependente do ponto de vista económico dos seus parceiros europeus, seria de esperar uma posição substancialmente mais ativa e responsável sobre este tipo de causas que condicionam, e muito, o nosso eco sistema económico e social. Ao invés, assistimos a um debate sobre sondagens e arquiteturas de coligação. Como se não chegasse assistimos ao Bloco de Esquerda a afirmar que o seu programa é Social Democrata! Isto só é possível porque o espaço Social Democrata que deveria ser defendido e ocupado com atores e propostas de século XXI está entregue à irresponsabilidade e sobranceria de quem não entende as enormes ameaças e desafios que a atualidade da geopolítica em que estamos inseridos é alvo. Portugal, uma vez mais, vai em outubro desperdiçar a oportunidade de regenerar um conjunto de entraves que impedem a sua progressão em direção à modernidade e sustentabilidade económica. Lembro, por fim, que somos responsáveis e detentores da maior zona económica exclusiva marítima da Europa e que quando medimos a dimensão da área dos países incluindo espaço terrestre e marítimo, somos cerca de cinco vezes maiores que a Alemanha. Se mais fosse necessário para demonstrar a limitada capacidade dos sucessivos governos, este dado por si só é bem demonstrativo da pequenez no que à exploração de horizontes geopolíticos e económicos diz respeito. Estamos mal entregues e não se vislumbram grandes alterações. É no mínimo muito aborrecido.

Subscritor do manifesto Por Uma Democracia de Qualidade