Todos os anos no Verão e, regra geral, em Agosto, é sempre um clássico no meio jornalístico, de comentário político ou de mera opinião, abordarem-se aqueles temas mais exóticos – como certos frutos – próprios da época quente e descontraída, preferencialmente escolhida pela maioria dos portugueses para as suas férias a que, vulgarmente, chamamos "silly season". Uma importação conceptual de origem anglo-saxónica à qual não se deu uma tradução lusitana oficial. Talvez pela sonoridade algo hilariante da palavra "silly".
Pessoalmente prefiro uma denominação em Português. Não por causa de quaisquer idiossincrasias linguístico-nacionalistas, nos dias de hoje, perfeitamente provincianas. Mas sim, por me soar melhor e dessa forma fugir um pouco à vulgaridade típica do "mainstream".
Sendo possíveis várias alternativas de tradução, algo que só a riqueza de uma língua como a portuguesa consegue, optei por época parva. Desde logo, porque parvo é benigno, tem graça, é ligeiramente ingénuo, reflete um comportamento tipicamente infantil, quanto inócuo e por vezes (não raras) exógeno à própria personalidade… Não chega a ser idiota. Está ali num quase, quase de onde não passa.
2019, está a ser um ano memorável no que à época parva diz respeito. Diria mesmo que não via tanta e tão boa, quanto diversificada parvoíce da época há já umas valentes temporadas a esta parte. Creio que a evidente melhoria da qualidade possa, de alguma forma, estar directamente relacionada com o aumento da concorrência de mercado, i.e., na quantidade de produtores de parvoíce que hoje temos em Portugal. Principalmente na área da parvoíce política. De longe, a mais apreciada e consumida pelos Portugueses, dentro e fora da época. De resto, o parlamento é uma estufa com selo de garantia que nos oferece belíssimas parvoíces políticas o ano inteiro e sempre com a marca de qualquer um dos seis (mais um) maiores e mais prestigiados produtores nacionais de parvoíce política, onde têm lugar de representação.
Porém, nos últimos tempos, este sector cresceu exponencialmente com o surgimento de uma série de novos produtores independentes que, embora não tendo ainda uma capacidade produtiva suficientemente robusta que lhes permita almejar uma entrada na estufa parlamentar de São Bento, têm no entanto dado mostras de qualidade nalguma da parvoíce que já produzem. Só não conseguem uma maior penetração no mercado por falta de apoios, nomeadamente, de divulgação na comunicação social e uma maior capacidade financeira para investir em publicidade…
Uma coisa é certa, se seis (mais um) produtores de parvoíce política fazem o que fazem, reconhecidamente, dezassete farão muito mais e melhor. Não apenas na época parva que o é por excelência, como durante todo o ano, desde que alguns destes novos produtores independentes consigam em Outubro garantir representação na estufa parlamentar de São Bento. Sabemos de antemão que não se vislumbra essa oportunidade para todos eles. Mas acredito ser quase certa a entrada de dois ou três deles na estufa a quem, naturalmente desejo, o menor empenho possível em matéria de parvoíce política. Até porque, como tudo assim o indica, haverá um reforço da quota do mais recente titular que lá entrou em 2015 e que tem feito nesta matéria um trabalho absolutamente notável. Diria que toda a sua actividade política é uma parvoíce ilimitada mas que tem, de facto, um eco incrivelmente parvo na sociedade. E essa realidade é uma verdade factual indiscutível e com uma tendência de crescimento de tal ordem que, os dois grandes têm já nas suas fileiras quem represente esta nova corrente filosófico-política de modo a passar para fora uma mensagem que indicie a prática de muitas dessas ideias parvas, por forma a conseguirem cativar alguns dos que estão e dos que vão a caminho da concorrência que, apesar de tudo, tem a enorme vantagem de ser o original por todos reconhecido e não uma cópia de marca branca produzida à pressa pelos grandes, de modo a poderem dizerem que também são pós-modernaços na defesa dos valores da mais básica parvoíce política.
Aliás, a esse propósito, ficou bem patente ao longo dos últimos quatro anos de actividade na estufa e em cada uma das épocas parvas anuais que a melhor parvoíce política não é necessariamente produzida pelos mais poderosos. De todo! Não é pelo facto dos dois maiores produtores nacionais dominarem praticamente três quartos da área total da estufa com 170 representantes dos 230 que lá têm lugar, que produzem parvoíce política em maior quantidade e de melhor qualidade. Errado. Pois, se nos recordarmos bem, a esmagadora maioria destes 170 representantes dos dois grandes não produziu absolutamente nada. Muitos nem terão lá posto os pés mais do que uma vez por semana. Outros fartaram-se de faltar sem sequer dar essa indicação. Pelo contrário, assinaram folhas de presença estando ausentes… Não estou com isto a dizer que esses digníssimos representantes não tenham capacidade para produzir boa parvoíce política, ou que lhes possa ter faltado talento. Não. O que digo é que faltaram simplesmente!
Posto isto, segue o meu ranking (por ordem crescente) desta época parva de 2019:
10º – CDS – Novo cartaz intitulado “Trabalhar faz sentido?”.
9º – ALIANÇA – Ocupação da ERC em protesto pela falta de cobertura da comunicação social.
8º – CHEGA – Candidatura Presidencial de André Ventura em 2021.
7º – PR – Afirma que aprendemos em cada novo incêndio.
6º – PSD – Excepção dada a candidatos suspeitos em processos criminais.
5º – BE e PCP – Manifestação em Lisboa contra Bolsonaro, em defesa da Amazónia.
4º – PS – Quer hortas no topo dos edifícios dos centros urbanos e paredes cobertas de verdura.
3º – GOVERNO – Utilização de WC escolares no âmbito da lei de auto-determinação de género.
2º – PAN – Duas praias no Algarve (uma no sotavento e outra no barlavento) para cães.
1º – PAN – Serviço Nacional de Saúde (SNS) para cães e gatos.