Os sindicalistas com lugar no Parlamento

Os sindicalistas com lugar no Parlamento


Ser deputado e sindicalista não é incompatível. Muitos até aproveitam a projeção sindical para entrar na vida política. Rui Riso, Wanda Guimarães ou Jerónimo de Sousa são exemplos disso. O último caso surgiu há poucas semanas com a candidatura de Pedro Pardal Henriques a deputado pelo PDR.


Do mundo do sindicalismo para o da política. O último caso que mais deu que falar foi o do advogado Pedro Pardal Henriques, que apareceu ao lado dos Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas e agora é candidato a deputado pelo Partido Democrático Republicano (PDR), fundado pelo também advogado Marinho e Pinto. Mas o tema não é novo e há sindicalistas para todos os gostos – da esquerda à direita.

A única diferença que existe entre Pedro Pardal Henriques e Wanda Guimarães, Rui Riso, ou mesmo Jerónimo de Sousa, é que estes últimos sempre desempenharam cargos nos sindicatos que estavam ligados à sua profissão. No caso de Wanda Guimarães, por exemplo, a bancária entrou para o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. Jerónimo de Sousa, afinador de máquinas numa empresa metalúrgica, iniciou a sua carreira sindical no Sindicato dos Metalúrgicos de Lisboa. Já o advogado Pedro Pardal Henriques, apesar de pertencer ao sindicato que representa os motoristas de matérias perigosas, nunca foi motorista. Este tema, aliás, já despertou a atenção do Ministério Público, que pediu a dissolução da estrutura sindical, por existir um membro no sindicato que não trabalha por conta de outrem – esse membro é Pedro Pardal Henriques. Resta agora saber o que vai decidir o tribunal em relação ao advogado dos motoristas. Se for necessário, Pedro Pardal Henriques sai, mas ficará na lista dos sindicalistas candidatos a deputado.

O sindicalismo está de braço dado com a política e Ana Mesquita, Carlos Alberto Gonçalves, Jerónimo de Sousa, Wanda Guimarães, Pedro Roque, Rui Riso, Torres Couto, João Proença, Arménio dos Santos e Carla Barros, são apenas alguns exemplos de deputados que fizeram, ou ainda fazem parte de estruturas cujo objetivo é defender os trabalhadores de uma determinada classe.

Rui Riso, deputado socialista e dirigente sindical, disse este ano, em entrevista, que as diferenças entre ser deputado e sindicalista não são muitas: “Ambas as missões são difíceis, exatamente porque mexem em interesses instalados e têm de ser muito ponderadas e comedidas. Como sindicalista ou deputado, não podemos mentir, não podemos assumir compromissos que não possamos cumprir, não podemos enganar as pessoas”.

Acerca da representação do mundo sindical no meio da política, os sindicalistas socialistas queixaram-se a propósito da constituição das listas para as próximas eleições Legislativas. Wanda Guimarães recordou que “o PS_é um partido trabalhista, de esquerda, e devia ter outro cuidado com o mundo sindical”, acrescentando que a ausência de membros sindicais nas listas de candidatos a deputados “representa um empobrecimento do PS”.

 

Deputados e sindicalistas

Ana Mesquita

Dos sindicatos para o partido que, assumidamente, se coloca ao lado dos trabalhadores – o Partido Comunista Português. Ana Mesquita, arqueóloga de profissão, licenciada em Arqueologia e História, é deputada por Lisboa e até 2017 foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia (STARQ). Nessa data, passou para vogal de direção, onde permaneceu até este ano. Ana Mesquita é arqueóloga e fez parte de um sindicato que tem como objetivo proteger a sua profissão. Além disso, continua a defender a cultura e a arte no Parlamento. A deputada comunista exerce funções dentro da esfera política desde 2015 e é agora, para as próximas eleições legislativas, candidata em segundo lugar pelo Porto na Coligação Democrática Unitária (CDU), que junta o PCP e o partido ecologista Os Verdes.

Carlos Alberto Gonçalves

Deputado pelo Partido Social Democrata, eleito pelo círculo da Europa, Carlos Alberto Gonçalves já foi secretário-geral adjunto e presidente da mesa da Assembleia Geral do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas (STCDE) – sindicato afeto à Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP). Apesar de já não representar os trabalhadores dos consulados, Carlos Alberto Gonçalves é novamente candidato às listas do PSD pelo círculo eleitoral de Europa para as eleições legislativas do próximo dia 6 de outubro.

Wanda Guimarães

Eleita pelo Partido Socialista, é especialista em história laboral e sindical – e o simbolo do sindicalismo no género feminino. Wanda Guimarães, que se despediu por vontade própria da Assembleia da República em maio deste ano, pertenceu, até 2015, ao Conselho Geral do Sindicato do Bancários do Sul e Ilhas (SBSI). Ativa na União Geral de Trabalhadores (UGT), a sindicalista criticou recentemente a ausência de membros da UGT e da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) nas listas de candidatos a deputados do PS, em lugares elegíveis, para as próximas eleições. “O PS é um partido trabalhista, de esquerda. Devia ter outro cuidado com o mundo sindical”, disse Wanda Guimarães à Lusa, no final de julho. A bancária é uma das figuras mais conhecidas no círculo do sindicato dos bancários, depois de ter lutado pela igualdade de género no setor. Wanda Guimarães chegou a publicar, com Vera Santana, o livro Conversas em tempo de crise – A visão de uma sindicalista.

Jerónimo de Sousa

O líder do Partido Comunista Português lembrou recentemente, a propósito de Pedro Pardal Henriques pertencer ao Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas, que “os sindicatos não devem ser espaço para protagonismos pessoais”. Jerónimo de Sousa começou a atividade sindical antes da política: foi afinador de máquinas numa empresa metalúrgica – onde começou com apenas 14 anos – e, depois disso, chegou à direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Lisboa. Um ano depois, em 1974, entra no PCP e, logo no ano seguinte, foi eleito deputado à Assembleia da República, onde continua nos dias de hoje. “Eu vim para a política, como jovem sindicalista, com o ardor da juventude, para ser capaz de dar a minha contribuição, o melhor que sabia e podia. Procurando, com os meus camaradas mais velhos, apreender aquela grande lição de que a política é uma coisa nobre desde que seja para servir os interesses dos trabalhadores e do povo e não a nós próprios”, disse Jerónimo.

Pedro Roque

Professor, deputado, secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT) e secretário-geral dos Trabalhadores Social Democratas (TSD). António Pedro Roque da Visitação Oliveira foi em 2013 secretário de Estado do Emprego no Ministério de Álvaro Santos Pereira, dois anos depois de ser nomeado secretário-geral adjunto da UGT em presentação de um sindicato de professores. Quando assumiu o cargo de secretário de Estado disse acreditar que a sua experiência ao nível sindical poderia trazer benefícios no diálogo entre Governo, empregadores e sindicatos. Hoje, Pedro Roque é deputado pelo PSD, faz parte da lista do partido para as próximas legislativas, surgindo como número três por Leiria e é o secretário-geral dos TSD, cargo que ocupa desde 2011.

Rui Riso

À semelhança de Wanda Guimarães, Rui Riso tem raízes sindicais no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), estrutura a que ainda hoje preside, o que acumula com a vice-presidência da UGT. Rui Riso, deputado socialista, é licenciado em Antropologia Social, mas bancário de profissão, daí a sua ligação sindicato que representa e que é um dos maiores do país. Nos últimos tempos, foi acusado pelos representantes dos trabalhadores do SBSI de não responder aos pedidos de reunião dos sindicatos para negociar, e de exercer “uma vergonhosa pressão sobre o Ministério do Trabalho” para fazer caducar as convenções coletivas. Sobre as diferenças entre ser deputado e ser sindicalista, Rui Riso afirmou recentemente em entrevista à comunição do SBSI: “Como sindicalista ou deputado, não podemos mentir, não podemos assumir compromissos que não possamos cumprir, não podemos enganar as pessoas”, acrscentando que “ambas as missões são difíceis, exatamente porque mexem em interesses instalados e têm de ser muito ponderadas e comedidas”.

Torres Couto

Fundador da UGT – central sindical que abandonou em 1995 – e líder sindical visionário. Torres Couto deixou a sua carreira política e sindical a meio, depois das suspeitas de ter desviado dinheiro do Fundo Social Europeu. O processo acabou em 2008 com todos os arguidos, incluindo Torres Couto, absolvidos por falta de provas. Depois de ser eleito secretário-geral da UGT, Torres Couto rapidamente saltou para a política e surgiu como deputado ao Parlamento Europeu, eleito pelo PS. A veia sindical permitiu unir a UGT à rival CGTP para a conhecida greve de 1988, obrigando o Governo de Cavaco a recuar nas medidas que prometiam facilitar os despedimentos dos trabalhadores. O escândalo da apropriação de verbas do Fundo Social Europeu por alguns dirigentes da UGT foi o único caso em que a Justiça se virou para a área sindical.

Arménio Santos

‘Histórico’ secretário-geral dos Trabalhadores Social Democratas (TSD), Arménio Santos já foi presidente dos Bancários do Sul e Ilhas. A carreira e lista de cargos que ocupou é longa. Licenciou-se em direito, mas seguiu o caminho de bancário. Foi fundador e secretário nacional da UGT e sentou-se no parlamento como deputado representante do Partido Social-Democrata. Os TSD são a organização autónoma sindical do PSD e Arménio Santos liderou o movimento de contestação da privatização do SAMS. Enquanto secretário-geral dos Trabalhadores Sociais Democratas foi um ponto de ligação que ajudou a diminuir conflitos entre a tendência social democrata e a socialista – coligadas diretamente no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas.

Carla Barros

Gestora de recursos humanos, deputada e membro do Conselho Geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (Sintap) – braço da UGT. A atual deputada na Assembleia da República pelo PSD integrou também a equipa de Pedro Roque nos TSD – Trabalhadores Social Democratas. As suas intervenções focam-se essencialmente nas questões dos trabalhadores com vínculos precários. O sindicato onde Carla Barros está filiada é presidido por José Abraão.

João Proença

Longo histórico como dirigente sindical: foi secretário-geral da UGT durante 18 anos e fundador e primeiro secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap). Atualmente, o engenheiro João Proença é presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE – subsistema de saúde dos funcionários públicos. Deputado na Assembleia da República durante dois anos, recebeu este ano a medalha de honra da Segurança Social. Recentemente, João Proença pronunciou-se sobre o pedido do Ministério Público de dissolução do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas: “O sindicato pode resolver este problema ao realizar uma nova assembleia constituinte sem Pedro Pardal Henriques e depois depositar os novos estatutos junto do Ministério Público”, disse ao Dinheiro Vivo. O ex-líder da UGT recordou que, em 2007, também a UGT alterou quatro estatutos da estrutura sindical na sequência de um pedido do Ministério Público.