Agosto é sinónimo de férias e muitos portugueses elegem o Algarve como destino de excelência. A procura dispara e os preços também. A fórmula é simples, como explica ao i, o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA): “É a lei da oferta e da procura a funcionar”. Elidérico Viegas não tem dúvidas: “Se nos dão mil, não vamos pedir cem e se agosto é o mês com maior procura é natural que seja tudo mais caro”. E acrescenta que “sempre foi assim e sempre há de ser”.
Ainda assim, o responsável admite que diariamente vai-se assistindo a variações de preços, já que a maioria das pesquisas são feitas através de plataformas online, tanto das agências de viagens como das próprias unidades hoteleiras. “O preço pode descer mais do que uma vez por dia, como também pode subir. Tudo depende da disponibilidade, e as unidades hoteleiras vão jogando com isso”, refere.
Apesar do sucesso deste destino turístico, Elidérico Viegas reconhece que este ano a taxa de ocupação deverá ficar aquém de anos anteriores. A estimativa é que se situe entre os 93 e os 95%, ligeiramente abaixo do que foi alcançado em 2018. No entanto, esta redução está a ser compensada por um pequeno aumento de preços. “Temos a sensação que existem menos turistas na região, mas do ponto de vista financeiro isso será compensado pelo aumento de valores que as unidades hoteleiras estão a cobrar”, afirma ao i.
Em relação ao risco do Algarve vir a ser um destino proibitivo para os bolsos portugueses, Elidérico Viegas afasta esse cenário. “Essa narrativa é recorrente no discurso nacional. Os preços caíram bastante em 2008, em plena crise económica, mas foram recuperando a partir de 2011 e 2012 até os valores que conhecemos atualmente”, adianta. E dá como exemplo o que se verificou em julho, altura de férias escolhida pelos portugueses que procuram “preços mais baixos e longe da loucura de agosto”. Nesse mês, a taxa de ocupação global média por quarto foi 82,5%, cerca de 3% abaixo da verificada em 2018, enquanto o volume de vendas manteve-se inalterado face ao mesmo mês do ano anterior, registando um aumento acumulado de mais de 2,7% desde o início do ano.
Elidérico Viegas lembra, no entanto, que os preços são variados. Há ofertas para todas as bolsas – só depende da zona e do tipo de estabelecimento. E lembra que dentro das mesmas categorias há preços significativamente diferentes.
A escolha, obviamente, depende muito do agregado familiar. “Quem vai para o Algarve de férias são sobretudo famílias e a maioria prefere apartamentos, o que é natural porque querem estar todos juntos e, acima de tudo, porque é mais económico, uma vez que podem nesse espaço fazer todas ou apenas algumas refeições”. Já quem procura hotéis, segundo Elidérico Viegas, são sobretudo casais sem filhos.
Também os valores diferem com a quantidade da oferta. Isto significa que as zonas com mais camas têm geralmente preços mais acessíveis e apresentam classificação mais baixa, atraindo pessoas com menor poder de compra. Já nas zonas onde há menos camas há tendência para os preços subirem.
Restaurantes fechados com fila à porta
Mas não é só o alojamento que beneficia com este aumento da procura. Também o setor da restauração acaba por ganhar com esta invasão algarvia. O i sabe que há restaurantes que reforçaram as suas equipas para enfrentarem uma “enchente” de turistas. Um reforço, ainda assim, insuficiente para evitar longas filas de espera.
Alguns turistas ouvidos pelo i admitem que vão para os restaurantes muito mais cedo do que gostariam para poderem garantir um lugar à mesa. Por isso, não estranhe se passar pela porta de um estabelecimento e vir pessoas à espera, mesmo com o espaço ainda fechado. “Prefiro estar aqui às 18h30 e ter a garantia que sou uma das primeiras pessoas a ter mesa do que vir duas horas depois e correr o risco de nem sequer conseguir jantar”, confessa Ana Ferreira.
Mas nem todos pensam assim. Fazer as refeições em casa – uma solução que não está disponível para quem opta por um quarto de hotel – é a alternativa encontrada para evitar filas ou poupar dinheiro.
Outra queixa dos turistas ouvidos pelo i diz respeito aos valores praticados nos bares de concessões de praia que, nalguns casos, chegam mesmo a triplicar de preço. “Não faz sentido atravessar o areal da praia e em vez de pagar um euro por um café pedirem-me 2,50 ou três euros pelo mesmo produto”, aponta Miguel Costa, que está a passar férias com a mulher na zona de Alvor.
Um cenário que, de acordo com veraneante, volta a repetir-se nos mais variados serviços: “Desde uma simples garrafa de água a um gelado”. “Está tudo a saque”, confessa ao i.
A estes custos extra há que somar ainda os gastos com toldos e espreguiçadeiras. Um serviço que está cada vez menos acessível à maioria dos bolsos dos portugueses. As travessias para a praias, em zonas como Tavira ou Vila Real de Santo António, também pesam no orçamento das férias. Por exemplo, para ir para a praia da Fábrica, na aldeia histórica de Cacela Velha, terá de desembolsar dois euros por cada viagem de barco de ida de volta.