Há Verão na ilha (última parte) Mas também na minha terra…


Não há terrinha por este Algarve todo e, em regra, pelo país inteiro, que não celebre neste mês as suas festas tradicionais. É assim também no caso de Pechão, freguesia do concelho de Olhão, onde vivi e cresci e onde os meus pais mantêm a sua residência há quase quarenta anos.


1 – A ilha onde há Verão todos os dias do querido Agosto deste ano recebeu na semana que passou a visita há muito esperada de um Levante que se fez notar de imediato pelos decibéis do som quente das fortes ondas vindas de sueste, aquecendo substancialmente as águas das praias de toda a costa do sotavento algarvio para grande alegria de todos os "praiantes" por estas zonas presentes. 

Foi ainda a semana em que "recebi" na ilha uma visita muito especial. A minha numerosa família veio à praia – no dia seguinte à festa de Verão que fazemos todos os anos, por esta altura, em casa dos meus pais, onde nos reunimos não apenas para jantar, mas também para, simplesmente, festejarmos a vida, o que fazemos com gosto e pela noite dentro – e, como não poderia deixar de ser, ao marAmais, onde desde o início do mês tenho estado diariamente (à tarde) a partilhar com todos os seus clientes, residentes e visitantes, a vasta selecção musical que preparei e que, de certa forma, acabou já por se tornar numa espécie de "banda sonora original" que tem marcado e continuará a marcar até ao último dia do mês este Verão neste espaço fantástico da ilha virado para o mar com o imponente Farol ali mesmo atrás de nós!

As tardes aqui, não são nem pretendem ser, festas de dança como os clássicos sunsets de final de tarde e que ganham toda uma outra dimensão quando falamos dos que são produzidos pelo "Cais Aqui" onde podemos desfrutar do melhor pôr de sol de toda a ilha. No “marAmais”, a sonoridade cool, melódica e de rítmo lento dos mais variados estilos que se misturam e complementam, desde a bossa nova à soul, passando pelo funk, o disco e, não raras vezes, com algum atrevimento mais pop, cativam muitos dos clientes que, em regra, acabam por ficar durante mais de uma das cerca de três horas e meia de duração de cada set diário.

A este propósito, partilho um episódio giríssimo, quanto improvável, ocorrido no passado sábado e que acaba por ser um reflexo da verdadeira magia que a ilha nos proporciona.

No meio de tantas pessoas que diariamente frequentam este spot, encontrava-se um grupo de cerca de dezasseis ingleses – homens e mulheres, todos na casa dos cinquenta a sessenta anos – de férias no Algarve e que, em boa hora, resolveram passar o dia na ilha. Naturalmente, cheios de sede e muito bem-dispostos pela tranquilidade do nosso mar, em tudo oposto ao “mau feitio” do mar britânico, foram tomando os seus “drinks” uns atrás dos outros, seguidos por outros mais.

Fui-me apercebendo que todos eles conheciam grande parte das músicas que naquela tarde tocava, pois não apenas as cantarolavam, como claramente sabiam as respectivas letras. Maioritariamente dos clássicos, embora remisturados e com uma nova roupagem rítmica que os torna mais actuais. Versões feitas por DJ’s e produtores musicais que respeitam, no essencial, a estrutura original dos temas a que no meio chamamos de “edits”. Um dos momentos altos foi o tema “Lovely Day” de Bill Withers que contagiou todos os presentes que a eles se juntaram no coro.

A tarde prosseguiu o seu rumo com mais música, entre copos e petiscos até ao derradeiro minuto final.

Tenho por hábito encerrar os meus sets com um tema mais “slow” ou “downtempo”. Não usando naturalmente sempre o mesmo tema, nem necessariamente um clássico do conhecimento generalizado. Porém, até por força desta circunstância que relatei, optei por um tema em linha com os anteriores e que nunca tinha passado ali. Mal se ouviu o primeiro acorde da música, uma inesperada e efusiva reacção de todos os elementos daquele grupo de ingleses, demonstrou de forma amplamente barulhenta um estado de pura satisfação que ecoou por todo o bar e praia.

Ficámos, eu e vários elementos do staff, curiosos, a olhar para eles na tentativa de compreender o motivo de tanta exaltação. Foi então que um deles, aparentemente dos mais velhos do grupo, veio ter comigo e me disse em inglês esta coisa extraordinária que reproduzo já devidamente traduzida:

“Olá, você não sabe, mas esta música que pôs agora a tocar é da banda de um grande amigo nosso e que está aqui mesmo connosco hoje…”

Fiquei absolutamente incrédulo perante tamanha coincidência, pois a probabilidade de ter fechado com outro tema qualquer era imensa. Não tendo, como é evidente, identificado previamente a pessoa em questão e feito um daqueles números inusitados de “meter” uma musiquinha qualquer de um músico que nos apareça pela frente, mesmo que nada tenha a ver com o que se está a passar…   

A música de que falamos é o tema “TRUE” da banda britânica SPANDAU BALLET, sendo o tal “grande amigo” dos outros quinze ingleses daquele grupo ali com ele presente, o Sr. STEVE NORMAN, saxofonista e percussionista desta mítica banda da pop britânica que marcou toda a década de 80 do século passado e de que é membro fundador.

Na parte final da canção, depois daquele magnífico solo de saxofone de sua autoria e que é marca indelével do referido tema, já com todos eles no meio do bar à volta do seu amigo Steve a que se juntaram outros dos ali presentes (que rapidamente se terão apercebido do que se estava a passar), cantou-se em uníssono:

“THIS MUCH IS TRUE, THIS MUCH IS TRUE,

I KNOW, I KNOW, I KNOW, THIS MUCH IS TRUE…”

Creio, pois, não haver melhor descrição que possa definir numa frase a magia da ilha!

2 – Se na ilha há Verão, em terra também o há e se vive o mês de Agosto de forma especial.

Não há terrinha por este Algarve todo e, em regra, pelo país inteiro, que não celebre neste mês as suas festas tradicionais. É assim também no caso de Pechão, freguesia do concelho de Olhão, onde vivi e cresci e onde os meus pais mantêm a sua residência há quase quarenta anos.

Estas festas são organizadas pelo histórico Clube Oriental de Pechão (filial número um do mítico Oriental de Lisboa) que tem dado ao longo dos anos grande prestígio ao atletismo nacional, de onde têm emergido vários atletas de renome internacional pela mão do treinador Paulo Murta, como é o caso actual da conhecida grande atleta Ana Cabecinha.

Foi no Clube Oriental de Pechão que há precisamente trinta anos iniciei uma relação de pura paixão pela música e pelo deejaying que durará até ao fim dos meus dias. Estávamos em 1989 quando mexi pela primeira vez nuns gira-discos e numa a mesa de misturas em ambiente real, nas matinées dançantes de Domingo à tarde que durante cerca de duas décadas funcionaram de forma incrível.

Era o tempo em que este género de eventos regulares existiam um pouco por todo o país e que, como tudo na vida, tiveram o seu apogeu e queda. Hoje, será coisa que talvez não passe pela cabeça de ninguém fazer, pois os adolescentes – principal público-alvo – passaram a frequentar directamente a noite sem primeiro experimentar a tarde…     

Este ano, a convite da organização do C.O.P., subi ao palco do recinto para um regresso às origens e ao passado musical, onde perante uma vasta plateia recheada de amigos e conterrâneos, alguns dos quais não via há muitos anos, revivemos durante mais de quatro horas, muitos dos temas da pop music internacional e nacional da grande década musical que foi, de facto, a de 80 do século XX.

No final, já para lá das cinco horas da madrugada, veio a cereja em cima do bolo que ali se apresentou sob a forma de bifanas e outras iguarias de tacho. O cansaço era já visivelmente sentido quando, finalmente, entrei em casa. Mas de coração cheio!       


Há Verão na ilha (última parte) Mas também na minha terra…


Não há terrinha por este Algarve todo e, em regra, pelo país inteiro, que não celebre neste mês as suas festas tradicionais. É assim também no caso de Pechão, freguesia do concelho de Olhão, onde vivi e cresci e onde os meus pais mantêm a sua residência há quase quarenta anos.


1 – A ilha onde há Verão todos os dias do querido Agosto deste ano recebeu na semana que passou a visita há muito esperada de um Levante que se fez notar de imediato pelos decibéis do som quente das fortes ondas vindas de sueste, aquecendo substancialmente as águas das praias de toda a costa do sotavento algarvio para grande alegria de todos os "praiantes" por estas zonas presentes. 

Foi ainda a semana em que "recebi" na ilha uma visita muito especial. A minha numerosa família veio à praia – no dia seguinte à festa de Verão que fazemos todos os anos, por esta altura, em casa dos meus pais, onde nos reunimos não apenas para jantar, mas também para, simplesmente, festejarmos a vida, o que fazemos com gosto e pela noite dentro – e, como não poderia deixar de ser, ao marAmais, onde desde o início do mês tenho estado diariamente (à tarde) a partilhar com todos os seus clientes, residentes e visitantes, a vasta selecção musical que preparei e que, de certa forma, acabou já por se tornar numa espécie de "banda sonora original" que tem marcado e continuará a marcar até ao último dia do mês este Verão neste espaço fantástico da ilha virado para o mar com o imponente Farol ali mesmo atrás de nós!

As tardes aqui, não são nem pretendem ser, festas de dança como os clássicos sunsets de final de tarde e que ganham toda uma outra dimensão quando falamos dos que são produzidos pelo "Cais Aqui" onde podemos desfrutar do melhor pôr de sol de toda a ilha. No “marAmais”, a sonoridade cool, melódica e de rítmo lento dos mais variados estilos que se misturam e complementam, desde a bossa nova à soul, passando pelo funk, o disco e, não raras vezes, com algum atrevimento mais pop, cativam muitos dos clientes que, em regra, acabam por ficar durante mais de uma das cerca de três horas e meia de duração de cada set diário.

A este propósito, partilho um episódio giríssimo, quanto improvável, ocorrido no passado sábado e que acaba por ser um reflexo da verdadeira magia que a ilha nos proporciona.

No meio de tantas pessoas que diariamente frequentam este spot, encontrava-se um grupo de cerca de dezasseis ingleses – homens e mulheres, todos na casa dos cinquenta a sessenta anos – de férias no Algarve e que, em boa hora, resolveram passar o dia na ilha. Naturalmente, cheios de sede e muito bem-dispostos pela tranquilidade do nosso mar, em tudo oposto ao “mau feitio” do mar britânico, foram tomando os seus “drinks” uns atrás dos outros, seguidos por outros mais.

Fui-me apercebendo que todos eles conheciam grande parte das músicas que naquela tarde tocava, pois não apenas as cantarolavam, como claramente sabiam as respectivas letras. Maioritariamente dos clássicos, embora remisturados e com uma nova roupagem rítmica que os torna mais actuais. Versões feitas por DJ’s e produtores musicais que respeitam, no essencial, a estrutura original dos temas a que no meio chamamos de “edits”. Um dos momentos altos foi o tema “Lovely Day” de Bill Withers que contagiou todos os presentes que a eles se juntaram no coro.

A tarde prosseguiu o seu rumo com mais música, entre copos e petiscos até ao derradeiro minuto final.

Tenho por hábito encerrar os meus sets com um tema mais “slow” ou “downtempo”. Não usando naturalmente sempre o mesmo tema, nem necessariamente um clássico do conhecimento generalizado. Porém, até por força desta circunstância que relatei, optei por um tema em linha com os anteriores e que nunca tinha passado ali. Mal se ouviu o primeiro acorde da música, uma inesperada e efusiva reacção de todos os elementos daquele grupo de ingleses, demonstrou de forma amplamente barulhenta um estado de pura satisfação que ecoou por todo o bar e praia.

Ficámos, eu e vários elementos do staff, curiosos, a olhar para eles na tentativa de compreender o motivo de tanta exaltação. Foi então que um deles, aparentemente dos mais velhos do grupo, veio ter comigo e me disse em inglês esta coisa extraordinária que reproduzo já devidamente traduzida:

“Olá, você não sabe, mas esta música que pôs agora a tocar é da banda de um grande amigo nosso e que está aqui mesmo connosco hoje…”

Fiquei absolutamente incrédulo perante tamanha coincidência, pois a probabilidade de ter fechado com outro tema qualquer era imensa. Não tendo, como é evidente, identificado previamente a pessoa em questão e feito um daqueles números inusitados de “meter” uma musiquinha qualquer de um músico que nos apareça pela frente, mesmo que nada tenha a ver com o que se está a passar…   

A música de que falamos é o tema “TRUE” da banda britânica SPANDAU BALLET, sendo o tal “grande amigo” dos outros quinze ingleses daquele grupo ali com ele presente, o Sr. STEVE NORMAN, saxofonista e percussionista desta mítica banda da pop britânica que marcou toda a década de 80 do século passado e de que é membro fundador.

Na parte final da canção, depois daquele magnífico solo de saxofone de sua autoria e que é marca indelével do referido tema, já com todos eles no meio do bar à volta do seu amigo Steve a que se juntaram outros dos ali presentes (que rapidamente se terão apercebido do que se estava a passar), cantou-se em uníssono:

“THIS MUCH IS TRUE, THIS MUCH IS TRUE,

I KNOW, I KNOW, I KNOW, THIS MUCH IS TRUE…”

Creio, pois, não haver melhor descrição que possa definir numa frase a magia da ilha!

2 – Se na ilha há Verão, em terra também o há e se vive o mês de Agosto de forma especial.

Não há terrinha por este Algarve todo e, em regra, pelo país inteiro, que não celebre neste mês as suas festas tradicionais. É assim também no caso de Pechão, freguesia do concelho de Olhão, onde vivi e cresci e onde os meus pais mantêm a sua residência há quase quarenta anos.

Estas festas são organizadas pelo histórico Clube Oriental de Pechão (filial número um do mítico Oriental de Lisboa) que tem dado ao longo dos anos grande prestígio ao atletismo nacional, de onde têm emergido vários atletas de renome internacional pela mão do treinador Paulo Murta, como é o caso actual da conhecida grande atleta Ana Cabecinha.

Foi no Clube Oriental de Pechão que há precisamente trinta anos iniciei uma relação de pura paixão pela música e pelo deejaying que durará até ao fim dos meus dias. Estávamos em 1989 quando mexi pela primeira vez nuns gira-discos e numa a mesa de misturas em ambiente real, nas matinées dançantes de Domingo à tarde que durante cerca de duas décadas funcionaram de forma incrível.

Era o tempo em que este género de eventos regulares existiam um pouco por todo o país e que, como tudo na vida, tiveram o seu apogeu e queda. Hoje, será coisa que talvez não passe pela cabeça de ninguém fazer, pois os adolescentes – principal público-alvo – passaram a frequentar directamente a noite sem primeiro experimentar a tarde…     

Este ano, a convite da organização do C.O.P., subi ao palco do recinto para um regresso às origens e ao passado musical, onde perante uma vasta plateia recheada de amigos e conterrâneos, alguns dos quais não via há muitos anos, revivemos durante mais de quatro horas, muitos dos temas da pop music internacional e nacional da grande década musical que foi, de facto, a de 80 do século XX.

No final, já para lá das cinco horas da madrugada, veio a cereja em cima do bolo que ali se apresentou sob a forma de bifanas e outras iguarias de tacho. O cansaço era já visivelmente sentido quando, finalmente, entrei em casa. Mas de coração cheio!