Como escrevi há 8 dias, este era possivelmente o jogo mais importante do campeonato. Se o Benfica ganhasse, ficava não só com seis pontos de avanço mas sobretudo com um suplemento de confiança que poderia embalá-lo para um grande campeonato. E com o Porto sucederia o oposto: duas derrotas em 3 jogos poderiam ser um passaporte para a depressão.
Mas tudo se passou de forma contrária às previsões – como tantas vezes acontece no futebol. Mal o jogo começou, o Benfica passou de favorito a dominado. E nunca se conseguiu encontrar.
Como também é uso no futebol, basta uma equipa perder um jogo para tudo ser posto em causa. Pode ter ganho os 20 anteriores, que isso não interessa. Na véspera os jogadores eram os melhores do mundo, o treinador era o maior, a táctica era perfeita, o futebol praticado era excelente; passado um dia, os jogadores já não prestam, o treinador já tem imensos defeitos, a táctica é errada e a equipa não joga nada.
O futebol é assim mesmo, e sempre será. É comandado por paixões, e estas por definição são irracionais.
Vendo as coisas com frieza, o jogo da Luz desmontou alguns mitos. Dizia-se que o Benfica tinha um grande plantel – e até pode tê-lo; mas não tem uma grande equipa.
A defesa é inexperiente. O meio campo, com Florentino e Samaris (ou Taarabt), não é nada por aí além. E os avançados, Seferovic e Raul de Tomas, marcam poucos golos.
O que aguenta a equipa são os falsos extremos, Rafa e Pizzi. Mas anulados estes – como Sérgio Conceição ordenou – o Benfica fica reduzido a muito pouco. Foi isto que o jogo da Luz mostrou.
Todas as acelerações, todas as mudanças de flanco, todas as nuances do jogo – até a maior parte das concretizações – estão dependentes de Rafa e Pizzi. Ora, isso torna o conjunto muito fácil de controlar.
Uma palavra para a juventude da equipa do Benfica. Bruno Lage foi extraordinariamente temerário ao lançar sucessivos jovens do Seixal na equipa principal. Foram as ordens de Vieira e ele cumpriu. Os cofres do clube agradecem. Mas fica a ideia de que foram miúdos a mais e que a equipa perdeu maturidade. Na defesa, estão Nuno Tavares, Ruben Dias e Ferro, todos muito novos. No meio campo é Florentino. E só o ataque é composto por pesos-pesados: Seferovic e Tomas (que assina RDT, que parece a marca de um raticida).
Mas estes, como se disse, não marcam muitos golos. Se os mencionados Pizzi e Rafa não renderem, o Benfica é uma equipa quase inexistente.
Outro mito que o jogo da Luz desfez foi que o FC Porto tem uma equipa fraca. Além de ser um conjunto muito sólido, compacto, o Porto tem uma defesa muito experiente, um pivô defensivo excelente, Danilo, e temíveis jogadores na frente, como Marega, Zé Luís e o recém-chegado Luis Díaz.
O clássico de sábado relançou o campeonato e pôs tudo de novo a zeros. Mas a grande dúvida que fica é se na Luz não haverá miúdos a mais.