Soares dos Santos e a impiedade na morte


Foi penoso, dramático até, constatar a inopinada fúria, a aviltante e infame desumanidade com que o BE, feroz e implacável, não perdoou a morte a Alexandre Soares dos Santos.


O respeito na hora da morte é um dos mais elementares exercícios de humanidade. Representa tolerância e preocupação pelo outro, uma trave-mestra de civilização, uma fronteira inultrapassável de dignidade. Infelizmente, nem todos assim a descortinam. Foi penoso, dramático até, constatar a inopinada fúria, a aviltante e infame desumanidade com que o BE, feroz e implacável, não perdoou a morte a Alexandre Soares dos Santos, tendo-o, num artigo repugnante, descrito como um vilão, um criminoso, um perigoso ideólogo, um impenitente Adamastor dos salários baixos. Este episódio é um fiel retrato do radicalismo numa penada, pisando sentimentos, esmagando sensibilidades, dessacralizando os momentos mais solenes na vida humana, em prol de uma doutrina que exibe o seu indisfarçável traço impiedoso, o mesmo e inconfundível, como tantos outros que povoam a história dos totalitarismos, que repudiava os sentimentos e destruía a singularidade de cada um de nós. Nestas ocasiões, o BE não esconde quem é – exibe com arrogância quem é, contando com os piores sentimentos que se podem apoderar do ser humano.

Ora, para além do mais, Soares dos Santos não foi nada disto. Mortal, terá cometido erros, seguramente. Porém, basta atentar no seu percurso: os princípios que o orientavam, a ambição responsável, o desvelo com que tratava os empregos que criava, a solidariedade que o unia aos seus trabalhadores, que procurava ajudar em momentos difíceis, a homenagem à liberdade e à civilidade em forma de fundação, a independência que cultivava, o desafrontamento com que não via as coisas a preto-e-branco, o seu sucesso, sim, sucesso. E é isso que o BE não suporta. Todo o sucesso é um perigo: desde a pessoa que vende um bem e é acusada de especuladora até quem trabalha e tem um pequeno negócio familiar. A iniciativa e liberdade de cada cidadão é um perigo, jamais uma oportunidade.

Quem nos dera ter mais pessoas que tivessem iniciativa e dependessem menos do Estado, para que aqueles que precisam possam depender mais, inovem, transformem organizações, melhorem a sua vida e a de outros.

Soares dos Santos era um homem livre. O BE não consegue perdoar isso.

 

Deputado do PSD