Miguel Gonçalves. “O que mais me chateia na praia são todos aqueles que violam a tranquilidade e o respeito”

Miguel Gonçalves. “O que mais me chateia na praia são todos aqueles que violam a tranquilidade e o respeito”


Oferecer a todos os portugueses os livros Carta ao Futuro, de Vergílio Ferreira, Portugal, de Miguel Torga, e Um Mundo Infestado de Demónios, de Carl Sagan, são as sugestões do astrónomo de uma ideia para Portugal. Seriam, no seu entender, roteiros intelectuais e de alma para conhecer melhor o nosso país, o homem e o…


Umas férias inesquecíveis?

Teria uns 16 ou 17 anos e foi mesmo com os meus pais e irmão: três semanas repartidas entre Jaussiers (uma vila lindíssima nos Alpes franceses), com direito a um pulo até ao norte de Itália, Nice e a famosa Côte d’Azur (e também com passagem pelo inesquecível Mónaco) e, finalmente, a Costa del Sol, no sul de Espanha.

Praia ou campo? Portugal ou estrangeiro?

Sou filho do mar e da serra com raízes no Porto, em Castelo Branco e numa aldeia no vale da serra das Talhadas. Por isso, tenho a felicidade de ter praia e campo e preciso de ambos para o meu equilíbrio. E sim, preferencialmente em Portugal!

Um segredo bem guardado do seu roteiro de férias?

Ah, precisamente a zona da serra das Talhadas, entre os concelhos de Castelo Branco e Proença-a-Nova. Uma região com um enorme potencial turístico, assim o queiram as autoridades e instituições locais e nacionais! 

Que notícia o fez rir nos últimos tempos?

A introdução das chamadas terapêuticas não convencionais e medicinas alternativas (que péssima designação!) no Sistema Nacional de Saúde e através de uma agenda e de partidos pouco respeitadores do que é a ciência e o método científico… pensando bem, não sei se mais ri ou chorei!

Quem gosta de seguir nas redes sociais?

Além dos grandes comunicadores de ciência nacionais e internacionais como Phil Plait, Ethan Siegel, Michio Kaku, Neil deGrasse Tyson, Carlos Fiolhais, Zita Martins, David Marçal ou António Piedade, sigo também páginas mais criativas e coloridas que vão desde “arte espacial” e foguetões a contadores de histórias (como a Clara Haddad), e também páginas de humor científico ou desportivo.

Ainda usa palhinhas e cotonetes?

Não, nada.

O que o chateia mais na praia?

Todos aqueles que violam o princípio básico da tranquilidade e do respeito – nomeadamente, quem acha que pode montar uma sessão de DJ em qualquer lugar da praia. Também fico particularmente fascinado com todos aqueles que comunicam via telemóvel em alta voz e aos berros: não estamos particularmente interessados em saber o que a tia Alice cozinhou para o almoço ou por que razão a Xana deu um estalo ao André!

Que música associa ao verão?

A mítica Lambada, que apareceu nos finais da década de 80 e início de 90, mas não vamos desenvolver este tema… 

Qual é o seu pior defeito?

Ao ler esta pergunta em voz alta disseram-me sem hesitação que seria a teimosia. Discordo frontalmente e ai de quem me contrariar! 

E virtude?

Novamente ao ler em voz alta e acompanhado, surgiu um certo silêncio… mas eu desconfio que seguir o lema “não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti” pode ser considerado uma virtude.

Uma boa grelhada mista ou salada de canónigos e afins?

Grelhada mista, mas também não dispenso uma boa salada ou sushi… lamento, sou omnívoro, uma espécie cada vez mais em extinção! 

Tem algum medo?

Tantos! Quando se é pai, os nossos medos aumentam exponencialmente com todos os contextos e eventos que nos rodeiam. O meu maior medo talvez seja esse mesmo – não estar à altura enquanto pai do filho extraordinário que tenho. Ou, pelo menos, de não estar à altura da dimensão dos meus próprios pais. 

E guilty pleasure?

Nutella… mas, uma vez mais, não vamos desenvolver esse tema! 

Gostaria de ter tido outra profissão? Qual?

Porteiro! É uma profissão desvalorizada, requer paciência, empatia e capacidade para lidar com a solidão – tudo requisitos tão esquecidos nos nosso tempo. 

Quem mandava dar um mergulho para refrescar as ideias?

Todos os que tiveram responsabilidade na gestão do nosso país desde o tempo dos Descobrimentos até à atualidade. Chateia-me profundamente a não rentabilização inteligente de uma boa ideia – e Portugal é sobretudo isso: uma excelente ideia que aguarda uma sábia concretização!

Uma ideia para Portugal (que desse para aplicar já na rentrée)?

Oferecer a todos os portugueses estes três livros: Carta ao Futuro, de Vergílio Ferreira, Portugal, de Miguel Torga, e Um Mundo Infestado de Demónios, de Carl Sagan. Roteiros intelectuais e de alma para conhecer melhor o nosso país (que, se calhar, não é tão distante assim do tempo de Torga), o homem e o nosso tempo.