Julho de 2014. Meias-finais do Mundial 2014, disputado na América do Sul. Brasil-Alemanha, o encontro mais aguardado, numa espécie de final antecipada, que acabou por não acontecer. Pelo menos, não da forma esperada. O 7-1 imposto pelos alemães, selecionados por Joachim Low, ficaram na história, bem como o quarto título mundial que os germânicos acabariam por conquistar.
O resultado inédito fez manchetes nos desportivos por todo o mundo: “Surra histórica”; “Eterna desonra”; “Mineiraço”; “Humilhação”; “Pior que o Maracanazo de 1950”; “Derrota do Brasil será lembrada pelos próximos cem anos”; “Histórico, brutal, inacreditável”; “ Uma paulada futebolística”, “Uma bofetada na seleção brasileira”; “Naufrágio coletivo”; “Desastre”; “Terramoto”; “Calvário”.
Ficamos por aqui uma vez que esta página não seria sequer suficiente para replicar as restantes apreciações sobre a humilhação sofrida pelo Brasil de Luiz Felipe Scolari. E, sobretudo, porque este texto pretende falar sobre outro protagonista deste encontro: Marco António Rodríguez. O nome pode não soar familiar, mas o mexicano foi o árbitro desta meia-final histórica, no Mineirão.
Na altura com 40 anos, despediu-se da arbitragem precisamente depois desta partida. Iniciou a sua carreira em 1997, tendo apitado pela FIFA entre 2000 e 2014. Entre os jogos que apitou, destacam-se os três Campeonatos do Mundo em que participou (2006, 2010 e 2014).
No último Mundial, além do Brasil-Alemanha, o mexicano dirigiu outra partida que também deu que falar, embora por outros motivos: o Uruguai-Itália (1-0), disputado em Natal, ainda na fase de grupos, que ficou marcado pela mordidela de Luis Suárez a Giorgio Chiellini.
Depois de ter colocado um ponto final na carreira enquanto árbitro, Marco Rodríguez optou por tirar o curso de treinador, enfrentando agora o seu primeiro desafio desta nova fase.
Primeira experiência em Espanha O mexicano terá a sua primeira aventura enquanto treinador em Espanha. O ex-árbitro já assumiu o comando técnico do Salamanca CF, que milita na terceira divisão do futebol espanhol.
“Com convicção do que se espera e do que está por vir”, escreveu nas redes o novo técnico, que rendeu o compatriota José Luis Trejo, que viu a sua licença de treinador invalidada pela federação espanhola.
Marco Rodríguez já se encontra, de resto, a preparar o primeiro desafio do clube, que arranca a época no próximo fim de semana, com a receção ao Arenas Club, referente à primeira jornada do campeonato 2019/20 da categoria.
O clube mais português de Espanha O Salamanca continua a reerguer-se depois de, em 2013, sufocado pelas dívidas, ter sido anunciado o fim do clube. Porém, a história dos salamantinos remonta a 1923, ano da sua fundação. Pelos charros passaram, aliás, vários nomes conhecidos do futebol português.
Na década de 1990, o clube atravessaria um dos melhores momentos da sua história. O antigo internacional português João Alves, que alinhou pelos espanhóis entre 1976 e 1978 (destacando-se como o melhor marcador da liga na segunda época), seria, na década de 1990, chamado para construir um plantel capaz de chegar ao principal escalão.
Depois de ter passado pelo campeonato português, levou até Salamanca Paulo Torres e Nuno Afonso (Campomaiorense), Miguel Serôdio (Boavista), Agostinho (Sevilha), Pauleta (Estoril), Taira e César Brito (Belenenses).
Embora já sem o treinador luso, foi em 1997/98, que o clube de Castela e Leão, que ficou conhecido como o clube mais português de Espanha, chegou à primeira divisão – brilhando com as vitórias diante do Barcelona, Atlético de Madrid ou Valencia. Terminou naquela época o campeonato em 14.º lugar.
O conto de fadas terminaria, porém, dois anos depois, em 1999, altura em que o emblema desceu à segunda divisão, nunca mais voltando a marcar presença entre a elite.
Os problemas do clube começaram a agravar-se de tal forma que em 2012 Jorge Mendes fez chegar os jogadores Almani Moreira e Ronaldo Henrique ao estádio Helmántico. Próximo de José Hidalgo, antigo presidente do clube, também as tentativas do empresário português de tentar manter vivo o clube se revelariam infrutíferas. De tal forma que, um ano mais tarde, o clube fechava portas com dívidas que ascendiam os 23 milhões de euros.
Já em maio de 2017, novo volte-face, com os bens do Salamanca a serem adquiridos em leilão. A compra do clube, por parte do CF Salmantino UDS, equipa B, foi oficializada, com o atual presidente, Carlos Martín, a garantir também a possibilidade de usar o símbolo e o hino dos salamantinos para a temporada 2018/19.
Apesar de a caminhada ainda agora ter recomeçado, já houve entretanto mais portugueses a figurar na equipa.
Em 2018/19, o emblema espanhol contou com os defesas portugueses João Amorim e Ricardo Carvalho, de 27 e 23 anos, respetivamente. O último transferiu-se no final da temporada transata para o Villarrubia CF, também da terceira divisão espanhola.
Atualmente sem representação lusa, a ligação ibérica promete ainda assim renovar-se no clube, que sonha com a possibilidade de voltar a atingir o período áureo.