Se há regra que Isabel ii impõe no seio da família real é discrição. Mas príncipes, princesas, duques e duquesas pouco ligam ao que a matriarca diz. Agora é a vez de o duque de Iorque ser manchete em jornais de todo o mundo por conta do seu alegado envolvimento no esquema de tráfico de menores orquestrado por Jeffrey Epstein.
Há pouco mais de um mês, Epstein, de 66 anos, foi detido pelas autoridades norte-americanas por suspeita de envolvimento no tráfico sexual de menores. Foi colocado numa prisão de alta segurança, mas mesmo assim conseguiu enforcar-se na cela onde se encontrava. O FBI está agora a tentar perceber como é que o empresário nova-iorquino conseguiu pôr termo à vida numa cadeia onde os prisioneiros estão sob vigilância 24 horas.
Se foi suicídio? As autoridades o dirão. Uma coisa é certa: Epstein levou consigo para a cova todas as informações sobre este esquema de pedofilia que, alegadamente, era usado por figuras públicas. Quem eram essas pessoas? De onde vinham? Quais os seus segredos? Provavelmente, nunca se saberá ao certo quem esteve envolvido nesta rede, mas continua a correr muita tinta sobre o assunto. E um dos nomes mais comentados é o do príncipe André.
Na edição do passado dia 18, o tabloide Daily Mail publicou na capa uma imagem que mostra o duque de Iorque, terceiro filho da rainha de Inglaterra, em casa do empresário norte-americano. “André visto na casa de depravação de Epstein”, lê-se na manchete do jornal britânico.
O Daily Mail explica que as fotografias mostram “o príncipe André a acenar, divertido, a uma beldade morena quando esta abandona a mansão de 63 milhões de libras, em Manhattan”. “Parece que está à vontade, mas depois, durante uns segundos, olha à volta para ter a certeza de que ninguém testemunhou aquele breve encontro”, descreve o jornal, que explica que as fotografias, “captadas a 6 de dezembro de 2010”, foram tiradas “menos de uma hora depois de Epstein ter saído de casa acompanhado por uma jovem loira”.
“Como é que ele [André] não reparou nos sinais de depravação sexual?”, questiona o Daily Mail logo no título da notícia, disponível na sua página online.
A verdade é que Epstein e André já eram amigos há algum tempo: o empresário e o príncipe conheceram-se nos anos 90, através de Ghislaine Maxwell, filha do magnata britânico Robert Maxwell, ligado ao mundo da imprensa.
Nos anos que se seguiram foram fotografados juntos algumas vezes. O duque de Iorque chegou até a convidar o multimilionário a passar uns dias na casa de campo da família real britânica em Sandringham e no Castelo de Windsor.
A relação manteve-se, mesmo nas alturas em que o nome de Epstein vinha nas capas dos jornais associado a escândalos sexuais. Mas a manchete de ontem foi a gota de água e o Palácio de Buckingham decidiu pela primeira vez pronunciar-se sobre o assunto, negando qualquer envolvimento de André na rede de tráfico sexual.
“O duque de Iorque ficou chocado com as recentes publicações sobre os supostos crimes de Jeffrey Epstein. Sua alteza real rejeita a exploração de qualquer ser humano e sugerir que perdoaria, participaria ou encorajaria qualquer conduta desse tipo é repugnante”, refere a nota, citada pela BBC. Mas esta nota da casa real parece não ter conseguido pôr termo à especulação. A própria BBC, depois de citar a reação do Palácio de Buckingham, deixa a pergunta no ar: “O que estava o príncipe André a fazer em casa de um pedófilo?”
Problemas com a justiça E sim, não há problema em chamar as coisas pelos nomes. Epstein já tinha sido condenado pelo crime de abuso sexual antes de este escândalo da suposta rede de tráfico de menores rebentar.
Os problemas do nova-iorquino com a justiça começaram em 2005, quando os pais de uma adolescente de 14 anos disseram à polícia da Florida que a filha tinha sido vítima de abuso sexual por parte de Epstein. O número de queixas foi subindo. Em 2008 foi condenado por ter tido relações sexuais com uma menor de 18 anos que pertencia a uma rede de prostituição. Cumpriu 13 meses numa prisão norte-americana. Mas antes disso fez um acordo judicial: ao declarar-se culpado deste crime, a investigação federal aos alegados abusos perpetrados pelo multimilionário seria bloqueada. O acordo assinado com os procuradores permitia ainda que as alegadas vítimas fossem mantidas na ignorância e nada soubessem sobre os desenvolvimentos da investigação. Pouco depois de ser libertado foi fotografado a jantar com outros multimilionários, como Elon Musk (Tesla) e Jeff Bezos (Amazon).
Mas a justiça continuou a funcionar e, há cerca de um mês, Epstein foi detido e acusado de, entre 2002 e 2005, pagar a várias raparigas com menos de 18 anos para manter relações sexuais.