Em memória dos ditadores

Em memória dos ditadores


Não são muitos os monumentos em memória de ditadores. Na Alemanha, o nazismo é tratado em todas as suas vertentes, mas não existe nenhum museu dedicado a Adolf Hitler. A casa onde nasceu, na Áustria, encontra-se vazia. Na Geórgia manteve-se o Museu Estaline, tal como foi erguido na sua versão soviética. Ironicamente, é nos países…


Espanha. O Vale dos Caídos é considerado o monumento mais importante do regime de Francisco Franco, ditador fascista espanhol que liderou o país vizinho até à sua morte, em 1975. É aqui que se situa uma das maiores basílicas do mundo, a Basílica de Santa Cruz do Vale dos Caídos e a sepultura de Franco e de José Primo de Rivera, antecessor do ditador. A 54 quilómetros de Madrid, na municipalidade de San Lorenzo de El Escorial, o mausoléu encontra-se no vale de Cuelgamuros. Foi erguido para recordar os soldados que morreram pelo ditador durante a sangrenta Guerra Civil de Espanha. No interior do monumento estão quase 34 mil cadáveres, metade dos quais por identificar.

Itália. Há duas décadas, a Câmara de Predappio, a pequena vila onde nasceu o ditador fascista italiano Benito Mussolini, decidiu autorizar o comércio de bugigangas, tais como pequenos bustos, T-shirts e fotos de glorificação e propaganda fascista e nazi. O objetivo era controlar a disseminação da propaganda de extrema-direita, limitando a venda do material a poucas lojas. Mas saiu-lhe o tiro pela culatra. Predappio, que apenas alberga cerca de 6500 pessoas, é hoje um lugar de culto ao fascismo italiano, cujos simpatizantes organizam, na vila, marchas, concentrações e eventos para celebrar três momentos: o nascimento de Mussolini, a sua morte e o aniversário da sua ascensão ao poder, conhecida como a Marcha sobre Roma.

China. O mausoléu de Mao Tsé-Tung, fundador da República Popular da China, foi construído em 1977, um ano depois da morte do ditador. A construção do monumento localizado na famosa Praça de Tiananmen, Pequim, envolveu cerca de 700 mil pessoas das diferentes províncias da China.

Embora o ditador comunista desejasse ser cremado, o seu corpo teve o mesmo destino que o de Lenine, fundador da União Soviética, e de Ho Chi Minh, ditador comunista do Vietname, tendo sido embalsamado e posto em exibição para o público. Na altura, os meios tecnológicos ao dispor do regime comunista estavam longe de ser o que são hoje. O embalsamamento do seu corpo envolveu o trabalho de cerca de 400 pessoas.

Geórgia. Na Geórgia há o Museu de Josef Stalin, em Gorin, onde nasceu o ditador da União Soviética, em 1878. A casa é uma das maiores atrações da cidade georgiana e é um sítio onde os visitantes podem experienciar a versão soviética sobre a vida de Estaline. O museu não faz pretensões de relatar nenhum dos crimes de Estaline enquanto liderou o regime socialista, nem da fome imposta à Ucrânia nem sobre as Purgas de Moscovo, permanecendo igual a quando abriu, em 1957, já depois da sua morte. No museu da pequena cidade da Geórgia, pode-se visitar uma minúscula casa de madeira e tijolos onde Estaline viveu durante os primeiros quatro anos da sua vida. O museu traça a sua vida desde os seus tempos na escola da igreja de Gori até à Conferência de Ialta, no final da Segunda Guerra Mundial.

Vietname. À semelhança de Mao Zedong, Ho Chi Mihn também queria ter sido cremado. Mas assim não quiseram os burocratas do Partido Comunista do Vietname. O Mausoléu Ho Chi Minh foi construído em 1973 e inaugurado em 1975, com materiais recolhidos de todo o país. O edifício situa-se no centro da cidade de Hanoi, a capital do Vietname, na famosa Praça Ba Dinh, onde o futuro ditador vietnamita leu a declaração de independência do país, em 1945, estabelecendo a República Democrática do Vietname. Nas profundezas do edifício, encontra-se o corpo pálido e frágil de Ho Chi Minh num sarcófago de vidro. O mausoléu encerra dois meses consecutivos todos os anos, entre 4 de setembro e 4 de novembro, altura em que o corpo embalsamado vai para a Rússia para “manutenção”.

Áustria. A casa onde nasceu o fundador do Terceiro Reich, Adolf Hitler, está envolta numa disputa judicial há muitos anos. O edifício é detido pela família de Gerlinde Pommer, o atual proprietário, há várias gerações. O Governo da Áustria quer ficar com a casa, mas um dos problemas para o impasse judicial é saber se Pommer deverá ser compensado ou não pela perda do edifício. Mesmo tendo em conta este impasse, o Governo austríaco há muito que não sabe o que fazer com a casa onde nasceu o homem responsável pela morte de seis milhões de judeus. Na porta do edifício está uma placa onde se lê: “Pela paz, liberdade e democracia. Fascismo nunca mais. Os milhões de mortos são um aviso”.

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