Se ganhar, o Benfica consegue uma significativa vantagem pontual e, sobretudo, psicológica: os seus jogadores interiorizam desde já a ideia de que são os melhores.
Para lá destas considerações gerais, o jogo da Luz proporcionará um curioso duelo de dois guarda-redes em foco.
Ambas as balizas foram notícia neste início de época. A do Porto porque, depois do problema cardíaco que atingiu Casillas, o clube queria arranjar um substituto à altura. Falou-se de muitos nomes – e a escolha acabou por recair sobre um dos menos falados: o argentino Marchesín, que subitamente desembarcou no Porto e passados dois ou três dias estava a defender a baliza portista num jogo oficial.
Não me lembro de um jogador que, vindo do estrangeiro, entrasse tão rapidamente na equipa. Mas justificou a escolha. Ainda a época vai no adro e já o vi fazer quatro ou cinco defesas daquelas a que chamamos “impossíveis”.
Também o benfica protagonizou um romance em redor do lugar na baliza. De repente, o grego Vlachodimos, um dos heróis da época passada, já não prestava, não sabia jogar com os pés, não dava a necessária confiança à equipa. Mostrando que a maioria dos comentadores de futebol está a soldo dos clubes – ou, pelo menos, quer estar de bem com eles –, durante noites a fio ouvi criticar Vlachodimos e elogiar um tal Perin de que jamais ouvira falar.
Subitamente, Perin – que só fez meia dúzia de jogos na época passada – era um guarda-redes de topo e Vlachodimos estava condenado a ir para o banco.
Até que a patranha se esfumou quando o homem veio cá, fez exames médicos e os clínicos constataram que, mesmo com muito boa vontade, não poderia jogar tão cedo. E assim sendo, seria suspeito Vieira contratá-lo.
Foi, pois, devolvido à procedência, com a promessa de que voltaria no Natal; mas bastariam uns dias para a falsidade da promessa ser desmascarada e o Benfica anunciar que deixava cair o homem.
Paz à sua alma.
Assim, no sábado, o clássico também vai ser um duelo de guarda-redes. De um lado, o substituto de Casillas, que já deu exuberantes provas de classe; do outro, um guardião que vem da época passada e, lamentavelmente, foi posto em causa no princípio desta pelas negociatas que enxameiam este desporto – e, se calhar, são inevitáveis.
Um universo que movimenta todos os anos milhares de milhões de euros em todo o mundo é especialmente apetecível para os pescadores de águas turvas. Que dinheiros de negócios menos claros não se esconderão atrás das milionárias transferências de jogadores de futebol?