Carlos Carreiras. “As praias  da minha vida são as três  em Cascais”

Carlos Carreiras. “As praias da minha vida são as três em Cascais”


O presidente da Câmara cascalense conta a atração pelo Tamariz (quando andava nos Salesianos), por Carcavelos (nos tempos da juventude) e pelo Abano (a praia da família), ao lado do grande Guincho.


Mulheres da minha vida? Tenho nove. Sou filho, marido, irmão, pai de cinco filhas e avô de uma neta. Praias da minha vida? São menos. Três. Todas em Cascais. Porque Cascais é, na minha modesta e isenta opinião, o melhor lugar para se viver um dia, uma semana ou uma vida inteira. E, sendo-o, é certamente o melhor lugar para formar memórias balneares inesquecíveis. Memórias essas partilhadas por pessoas nos quatro cantos do planeta. Porque não há muitas praias que tenham permitido um convívio tão próximo do cidadão comum com a realeza e com a aristocracia europeia, com os homens das letras e das artes ou com os grandes desportistas. As praias de Cascais são donas desse património imaterial que une cidadãos em qualquer tempo e latitude.

E, já que falo nisso, começo por uma das praias mais apreciadas pela família real espanhola: o Tamariz. É lá que moram algumas das minhas memórias de juventude. Era aluno salesiano, ali ao lado, e não eram poucas as vezes que me esgueirava durante os intervalos mais longos – ou deliberadamente esticados – para dar um mergulho com os meus colegas nos meses de aulas mais quentes. Não nos condenem. O Tamariz sempre teve esse efeito magnético. Não apenas sobre nós, jovens, mas sobre rigorosamente todos. Desde os anos 30 do século passado, o Tamariz ganhou fama como praia dos clientes sofisticados do casino, dos turistas do Hotel Palácio, dos estrangeiros que chegavam no Sud-Express, dos espiões, dos atletas do mergulho, dos fãs do bronze. Uma praia de todos, para todos.

Dou umas braçadas mais longas até à praia mais oriental do concelho, Carcavelos, onde passei os períodos mais longos da minha juventude. A razão não foi o surf nem as ondas – o meu talento desportivo começou e acabou no hóquei em patins. A razão foi uma simples comodidade geográfica: era a praia mais próxima de minha casa. Cresci em São Domingos de Rana, a uns quatro quilómetros do magnífico areal de Carcavelos, que naquela altura, como hoje, continua a ser muito procurado pelos cascalenses e por quem nos visita. A bola Nívea, que num tempo sem telemóveis cumpria a missão de ponto de encontro por defeito, já não está lá. O que nunca mudou foi a praia de Carcavelos como início de alguma coisa para alguém: é a praia que permite o primeiro contacto com o Atlântico a muitas crianças (das colónias de férias e não só); é a praia onde algumas delas aprendem a nadar; outras, a surfar. É uma praia que, na sua imensidão atlântica, incute um espírito de energia e aventura.

Termino naquela que é a minha praia de família: o Abano. Aninhada no parque natural, ao lado da irmã maior e mais famosa, o Guincho, o Abano é um paraíso na Terra. Um lugar retemperador, que permite reflexão e introspeção no meio de um cenário natural de tirar o fôlego. Os banhos de sol podem ser complementados com uma caminhada na Duna da Crismina (não conhece?, tem mesmo de resolver isso), uma aventura na serra ou uma experiência num dos melhores lugares para se conhecer a identidade gastronómica do país. Todas estas razões fazem do Abano um lugar esplêndido para carregar baterias em férias.

Ventoso? Bom, não vou mentir: há algumas reclamações relativamente ao vento. Não dos cascalenses, que há muito que o levam consigo para as férias – e, para além do mais, aqui em Cascais não dizemos mal da família.

Água fria? Bom, adaptando um ditado dos velhos lobos do mar aqui da nossa costa, diria que água quente nunca fez bom marinheiro.

E depois é como diz a música de uma banda cá da casa, os Ténis Bar: “Por ti, mergulhava no Guincho todo o ano”.

Por Cascais, eu também.