A generalidade dos jornais publica-os entre julho e agosto, já há muitos anos, o que deve significar que agradam aos leitores.
Pois bem, também o Governo, através da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, decidiu este verão brindar os funcionários públicos com um questionário de 40 perguntas.
As três últimas são dedicadas ao período da troika:
“A reposição dos salários afetou positivamente a minha motivação no trabalho?”
“O descongelamento progressivo das carreiras é motivador?”
“Sinto-me hoje mais motivado no trabalho do que há cinco anos atrás?”
Não sei quantos funcionários públicos terão respondido e, entre eles, qual a percentagem de professores, mas o que sei é que o questionário gerou polémica porque foi interpretado por diversos sindicalistas como “propaganda política”.
Como parece ser normal nestas situações, tendo em conta a polémica, o ministro das Finanças terá mandado retirar o questionário.
Sinceramente, não vejo porquê.
Acho mesmo que o Governo devia fazer mais questionários, desta vez para todos os portugueses. Seria uma forma direta de avaliar o verdadeiro estado da nação.
Como não gosto de ficar nas encolhas, sugiro mesmo algumas perguntas:
“Sente-se motivado quando espera meses ou anos por uma consulta no Serviço Nacional de Saúde?”
“Sente que o dinheiro dos impostos que pagou ao longo da sua carreira contributiva está a ser bem gasto quando espera meses pelo pagamento da reforma a que tem direito?”
“Sente-se motivado quando, ao longo de meses, não tem respostas da Segurança Social sobre assuntos do seu interesse?”
“Sente que a austeridade terminou quando espera horas nas filas das lojas do cidadão e tem de voltar na manhã seguinte porque não é atendido?”
“Sente-se motivado para usar os transportes públicos, agora mais baratos?”
Enfim, poderia dar mais sugestões, mas fico por aqui, porque reservo algum espaço para o assunto da atualidade: a greve dos motoristas de matérias perigosas e de mercadorias.
Independentemente das razões das duas partes em conflito, da evidente batalha de protagonismos entre os representantes da Antram e do sindicato dos motoristas de matérias perigosas e do aproveitamento político por parte do Governo, levanta-se uma questão fundamental.
Tendo em conta a reação musculada do Governo ao decretar a requisição civil parcial e a tímida reação dos partidos à sua esquerda, que o apoiaram nesta legislatura, ao mesmo tempo que a oposição também pouco diz, estamos a assistir a um virar de página histórico nas lutas laborais em Portugal.
Isto é, quando acontecer uma nova greve dos profissionais de saúde, por exemplo, ou dos transportes públicos, como vai o Governo explicar que não recorre à requisição civil, tendo em conta o impacto que tais greves causam nos cidadãos em geral?
Este é um ensaio, sem dúvida, para o que aí vem. E bem podem a Intersindical e UGT ficarem agora caladas porque os sindicatos em luta não são seus filiados, mas serão sem dúvida os próximos alvos se o Governo socialista, que tudo indica o será na próxima legislatura, mostrar a “coragem” que agora exibe.
Veremos então o que vai acontecer.
Jornalista