Uma corrida de touros na passada sexta-feira mostrou que não é só para o touro que a noite pode acabar mal. Em Tomar, seis forcados tiveram de ser hospitalizados na sequência de ferimentos sofridos nas pegas, dois deles com gravidade. Quem lá esteve disse que parecia um filme de terror.
É evidente que “quem anda à chuva molha-se” e os forcados sabem os riscos que correm ao enfrentarem corajosamente animais bravios com centenas de quilos. O que é mais difícil de compreender é que haja quem se regozije com o facto de aqueles rapazes terem ficado feridos. Compadecem-se do sofrimento dos animais mas ficam satisfeitíssimos com o sofrimento das pessoas… Um pouco estranho, ou não?
A verdade é que este tipo de atitude pode ser enquadrado numa tendência mais vasta de certos grupos radicais de ambientalistas ou defensores dos direitos dos animais, que parecem estar numa cruzada contra a nossa própria espécie (a bem da natureza).
Há coisa de uma semana, apareceu um cartaz na Praia das Maçãs a dizer que se devia celebrar a quebra da natalidade em Portugal. “Celebrate Low Birth Rates”, dizia o reclame, pago por uma entidade holandesa. É verdade que a sobrepopulação constitui um enorme desafio. Mas será que Portugal, com a sua modesta população, faz parte do problema?
Há 62 anos, o ditador chinês Mao Tsé-tung dizia com indiferença: “Não tenho medo da guerra nuclear. Existem 2700 milhões de pessoas no mundo; não importa se algumas morrerem. A China tem uma população de 600 milhões; mesmo que metade seja morta, ainda ficam 300 milhões”.
Hoje, com perto de 8 mil milhões no planeta, são alguns grupos ditos ecologistas a assumir este tipo de discurso. Com atitudes como a celebração do sofrimento dos forcados de Tomar, torna-se difícil perceber onde acaba o seu amor pelos animais e começa o seu ódio pelos humanos.