As manifestações dos coletes amarelos onde, supostamente, se exigiam melhores salários, provocando o caos em Paris com a pilhagem e destruição de dezenas de lojas, mereceu mais aprovação em Portugal do que a manifestação dos camionistas de matérias perigosas em Portugal, onde, curiosamente, também exigem mais dinheiro. É só ir buscar as capas aquando dos maiores confrontos em Paris e comparar com as que têm saído em Portugal sobre esta matéria. Lá fora, a população querer melhores condições de vida é saudável, por cá já são uns malandros.
Mas o que se está a passar diz muito de nós. Ainda a greve não começou e já há confrontos em postos de abastecimento, com automobilistas a quererem levar combustível em tudo o que é barril, jerricã ou afins, provocando a ira dos que estão atrás na fila. As imagens que nos chegam são arrepiantes, já que as mangueiras da gasolina ou gasóleo andam numa dança de mãos entre os automobilistas em confronto. Será que as pessoas não têm consciência que os materiais em causa são altamente inflamáveis? Por causa da corrida aos postos de abastecimento, há mesmo zonas, como Mafra, onde o consumo já está limitado a 25 litros por veículo. O conselho de Pedro Nuno Santos está mesmo a ser levado à letra e os portugueses querem os carros e jerricãs bem atestados antes da greve. As petrolíferas devem estar a bater palmas, pois vão ter um ano em cheio. Nunca venderam tanto combustível e produtos alimentares nas suas lojas.
À boa maneira lusitana, o Governo tentou dar um curso de formação à pressão a agentes da PSP e a guardas da GNR para estes conduzirem os camiões de matérias perigosas e não só. No entanto, os sindicatos já avisaram que alguns desses elementos não conduzem camiões há anos. Uma trapalhada completa.
Não sei se os motoristas têm ou não razão. O meu lado egoísta diz-me que não faz sentido provocarem o caos no país. O meu lado mais generoso leva-me a estar ao seu lado. Os portugueses ganham miseravelmente e chegou a altura de existir melhor distribuição da riqueza. Quem a gera tem toda a minha admiração, mas é óbvio que, havendo condições, os trabalhadores têm de ser melhor remunerados. Portugal não pode continuar a ser um dos países onde há mais disparidades salariais.