Legislativas. Costa resiste a todas as polémicas. Porquê?

Legislativas. Costa resiste a todas as polémicas. Porquê?


Foram vários os casos que mancharam a imagem do Governo, mas a distância entre PS e PSD é cada vez maior. Qual é o segredo?


O caso das golas inflamáveis foi a última polémica no Governo socialista, mas está longe de ter sido a única. Desde 2015 que a governação de António Costa tem sido marcada por uma série de escândalos que chegaram a a levar a mais de uma dezena de demissões, entre as quais de ministros e secretários de Estado – como foi o caso do Familygate ou dos incêndios de 2017. No entanto, os socialistas parecem resistir a todos estes casos, conseguindo ainda aumentar a distância para o PSD nas sondagens. Se as eleições legislativas tivessem sido há duas semanas, segundo a previsão realizada pela Multidados para a TVI, Costa teria sido o grande vencedor com 35,5% dos votos dos portugueses, distanciando-se em 15 pontos percentuais do PSD (20,3%). Apesar de não estar perto da maioria absoluta, como indicou uma previsão anterior, os socialistas têm estado sempre à frente nas intenções de voto na corrida às urnas marcada para o próximo dia 6 de outubro.

Qual é o segredo? Em declarações ao i, o politólogo António Costa Pinto explica que, antes do mais, é preciso ter em mente que “o que aconteceu há dois ou três anos” já não tem qualquer influência nas eleições que se avizinham. Contudo, o que aconteceu “há cerca de sete meses” são “golpes” que podem interferir com os resultados eleitorais.

O professor universitário refere que os estudos apontam que “muito embora as sociedades tendam a punir partidos no poder associados pela opinião pública a dinâmicas de corrupção, nepotismo ou clientelismo”, estas situações têm um maior peso nas eleições quando se vive em períodos de crise económica.

“Por exemplo, se algumas destas polémicas tivessem acontecido no período da intervenção da troika em Portugal seriam mais importantes do que são hoje e a punição eleitoral seria, consequentemente, maior”, explicou o investigador e coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

OPOSIÇÃO TAMBÉM AJUDA Outro fator que pode explicar este fenómeno relaciona-se com a capacidade de os partidos de oposição conseguirem explorar as controvérsias e capitalizarem-nas politicamente. “O que nós verificamos é que sobretudo os partidos da direita por fatores de crise, como é o caso do PSD, ou por outros, não estão a capitalizar esses fatores”, esclareceu António Costa Pinto. Sobre este ponto, o especialista acrescentou que “é de salientar que este tipo de situações também são percecionadas pelos portugueses como questões dos partidos de Governo”. Isto é, considerando que, em Portugal, os partidos de Governo são o PS, PSD e o CDS, para os eleitores do BE ou do PCP, estas polémicas podem ser “indiferentes” no momento de votar.

Por outro lado, a abstenção é também um elemento a ter em conta. Porquê? Segundo o politólogo, muitas vezes, os sentimentos “anti-classe política ou anticorrupção expressam-se mais pela abstenção do que pela punição eleitoral de voto num partido de protesto”. Ainda assim, partidos que não são nem de esquerda nem de direita, como é o caso do PAN – que tem adquirido espaço nas intenções de voto em várias sondagens –, podem sair “ligeiramente beneficiados deste efeito de punição”, acrescentou o politólogo. Porém, António Costa Pinto destacou também que quanto mais perto estas polémicas se dão da data das eleições, maiores são as hipóteses de contaminarem os resultados de uma forma negativa, sobretudo “se dominarem e persistirem no palco mediático”.

Ou seja, as últimas sondagens ocorreram antes dos últimos “escândalos” que caíram sobre o Governo na semana passada, referentes às golas inflamáveis, que levaram à demissão do adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil, Francisco Ferreira, e da polémica com a empresa do filho do secretário de Estado da Proteção Civil, que trouxe a público vários casos de incompatibilidades dentro do Governo. O politólogo José Adelino Maltez sublinhou que estas últimas polémicas “podem ter custado 2% a António Costa” nas intenções de voto e que “ainda pode acontecer muita coisa” até ao dia das eleições.