Com piscinas, Joana Vasconcelos tem já uma relação de longa data. Ainda este ano foi revisitada em Serralves, em I’m Your Mirror, a exposição organizada pelo Museo Guggenheim Bilbao em parceria com o Museu de Arte Contemporânea de Serralves e a Kunsthall Rotterdam, essa obra exposta pela primeira vez no Cais das Colunas em 2010: Portugal a Banhos. Uma piscina em fibra de vidro com dez metros de comprimento (no caso, de altura) com a forma de Portugal continental. A forma encontrada pela artista para assinalar o centenário da República. “Portugal não pode deixar-se tornar numa piscina: cuidado, não nos deixemos afundar”, dizia a propósito da instalação da obra ao Público, com a ressalva de não querer “criticar o país” ou “fechar o discurso da obra, que é direto e conceptual”.
A verdade é que nos anos que viriam haveria de se afundar mesmo, Portugal – ou quase, que, feitas as contas, acabou por se ir conseguindo manter à tona. Com o boom do turismo, a nadar estará certamente. Nove anos volvidos, Joana Vasconcelos regressa às piscinas, desta vez num registo bem mais otimista, como pedem os tempos, com Gateway. Uma piscina circular revestida a azulejos, inaugurada no passado dia 28 de junho no Jupiter Artland, um parque em Edimburgo que alberga esculturas contemporâneas, bem como uma galeria de arte, a fazer jus ao nome de planeta com que foi batizado.
Não só por ser, como o descreve a artista, “um grande salpico que convida o público a imergir numa dimensão alegre e espirituosa, levando a uma conexão com a energia da Terra”, como que numa “entrada para outro universo do qual não estamos conscientes mas através do qual podemos flutuar”. Também pela “referência à ideia de piscinas como locais que promovem a comunidade; um espaço experiencial que é inerentemente social, lúdico e partilhado”. Para o desenho desse “salpico”, Joana Vasconcelos inspirou-se nas linhas do seu próprio mapa astral.
Comissariada pelo Jupiter Artlang a propósito do Edinburgh Art Festival, Gateway, uma verdadeira piscina, é descrita pelo diretor do Jupiter Artland, Nicky Wilson, como “uma das instalações mais interativas” alguma vez pensadas para o local. “E, certamente, uma daquelas que tiveram um maior impacto no jardim”.
Isto porque, a acompanhar a construção da piscina – revestida a um conjunto de 11.366 azulejos concebidos pela equipa de engenheiros e arquitetos do ateliê de Joana Vasconcelos em conjunto com os artesãos da Viúva Lamego – foi feito também um trabalho de redesenho do jardim na área envolvente, com a plantação de 3 mil árvores e arbustos de várias espécies, incluindo o prunus lusitanica, uma espécie de cerejeira também conhecida como gingeira-brava ou loureiro-de-portugal.
Para os azulejos, foram feitos cerca de 500 desenhos para diferentes escalas num processo que se prolongou por três anos. Isto porque “cada um dos azulejos foi cuidadosamente construído e pintado para a sua localização específica na obra”, com o desafio acrescido de não serem visíveis os cortes. “As linhas pintadas não são interrompidas/distorcidas pelos cortes dos azulejos.” Como explica o ateliê no dossiê para a imprensa de Gateway, “são daquele tipo de objetos que não têm duplicados”.