Algarve. Menos turistas em julho mas setor está de olhos postos em agosto

Algarve. Menos turistas em julho mas setor está de olhos postos em agosto


Hotéis com vagas, restaurantes que reforçaram pessoal sem necessidade e bolas-de-berlim devolvidas: foi este o cenário que se viveu em julho num dos destinos de eleição.


O Algarve perdeu turistas em julho, mas isso não apanhou de surpresa os responsáveis do setor. As perspetivas dos empresários já apontavam para um abrandamento, mas foram agora confirmadas pelos dados da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). A taxa de ocupação global média por quarto foi de 82,5%, ou seja, 3% abaixo do valor verificado em 2018. Ainda assim, o volume de vendas manteve-se inalterado face ao mesmo mês do ano anterior ao registar um aumento acumulado de 2,7% desde o início do ano.

A par das unidades hoteleiras, a redução do número de turistas teve principal impacto no alojamento privado, que geralmente tem maior procura nesta altura do ano. E as consequências não ficaram por aqui. Também o negócio da restauração e do comércio se ressentiu com esta quebra, como admitiu ao i o presidente da AHETA, Elidérico Viegas.

Aliás, esta é uma das queixas frequentes dos comerciantes algarvios. O i sabe que há restaurantes e lojas que reforçaram as suas equipas para enfrentar uma “enchente” de turistas e já estão arrependidos da decisão. “Contratámos mais trabalhadores, o que implicou um aumento da despesa, mas durante o mês de julho não se justificou. Era frequente termos filas de espera à hora de jantar; agora, sempre que os clientes chegam encontram mesas disponíveis”, refere um dos donos de um restaurante na zona de Tavira.

O descontentamento também se reflete nos vendedores de bolas-de-berlim, reis de vendas nesta época. “Em anos anteriores era comum esgotarmos as bolas assim que chegávamos ao areal. Há dias em que atravessamos a praia e temos de levá-las de volta”. A instabilidade do tempo, vento e pouco calor, é apontada pelos comerciantes de bolas- -de-berlim como uma das razões para esta queda do negócio.

Ao i, Elidérico Viegas justifica esta quebra com a redução dos turistas holandeses (menos 17,5%) e alemães (menos 13,9%), dois dos mercados que apresentaram as maiores descidas. Já o mercado irlandês foi o que apresentou a maior subida, com um aumento de 13,7%, seguido pelo britânico (mais 6,4%).

As temperaturas altas nos principais mercados emissores e o ressurgimento da procura de outros países do Mediterrâneo explicam esta quebra. “Temos assistido a ondas de calor nos nossos mercados emissores em meses como maio e junho, o que faz de alguma forma também resfriar um pouco o ânimo de saída do território dos habitantes daqueles países”, refere.

Olhos postos em agosto Para o responsável, as perspetivas são mais animadoras para este mês, não fosse esta a altura escolhida para a maior parte dos portugueses irem de férias. “É natural que o Algarve receba em agosto mais turistas portugueses e isso irá inevitavelmente refletir-se no aumento da procura tanto de hotéis como de apartamentos e outro tipo de serviços que apoiam o turismo”, salienta.

Elidérico Viegas acredita que a taxa de ocupação hoteleira irá aproximar-se dos 95% em agosto. E as promoções de última hora levadas a cabo pelos operadores turísticos, companhias aéreas e hotéis poderão ajudar esta região a atingir níveis próximos do ano passado.

As incertezas vão continuar em setembro. O presidente da AHETA admite que a incógnita em torno do Brexit poderá contribuir para uma redução dos turistas britânicos no Algarve. “Por enquanto temos assistido a uma recuperação da libra face ao euro mas, a partir de setembro, nada garante que irá manter-se e, aí, iremos automaticamente perder turistas”, refere ao i.

“O nível de otimismo está a abrandar, as taxas de ocupação já não crescem ao ritmo de anos anteriores, mas fixam-se em valores elevados, e para a hotelaria será um bom verão”, resume Cristina Siza Vieira, CEO da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).

Procura vs. preço Elidérico Viegas garante que os preços são variados. Há ofertas para todas as bolsas – só depende da zona e do tipo de estabelecimento. E lembra que dentro das mesmas categorias há preços significativamente diferentes.

A escolha, obviamente, depende muito do agregado familiar. “Quem vai para o Algarve de férias são sobretudo famílias e a maioria prefere apartamentos, o que é natural porque querem estar todos juntos e, acima de tudo, porque é mais económico, uma vez que podem nesse espaço fazer todas ou apenas algumas refeições”. Já quem procura hotéis, segundo Elidérico Viegas, são sobretudo casais.

Também os valores diferem com a quantidade da oferta. Isto significa que as zonas com mais camas têm geralmente preços mais acessíveis e apresentam classificação mais baixa, atraindo pessoas com menor poder de compra. Já nas zonas onde há menos camas há tendência para os preços subirem.