O homem é um animal essencialmente associativo, pelo que não admira que por todo o lado, em todas as épocas, surjam clubes disto e daquilo e de mais alguma coisa. Pois bem, no dia 6 de agosto de 1964, a Europa não se espantou grandemente quando o insigne prof. dr. Paul Adenauer, filho do antigo chanceler alemão Konrad Adenauer, passou a ser o mais recente apoiante do movimento criado pelo seu compatriota Hans Keller: o Clube das Pessoas Altas. E, do alto, do seu metro e noventa e oito, o que não fazia dele um dos mais altos dos altos, soltava a plenos pulmões o seu grito de guerra: “Queremos que haja uma alteração legislativa para proteger as pessoas altas! Toda a gente percebe, ou pelo menos tem a obrigação de perceber, que nós gastamos, pelo menos, mais 15% em vestuário do que as pessoas ditas normais. E sentimo-nos ofendidos por não termos ainda visto deferido o nosso pedido de redução de impostos para fazer frente à despesa com que somos assoberbados!”
Não estou aqui para discutir as razões ou falta delas de Herr Adenauer, mas não deixaria de, entretanto, perguntar se haveria o direito de sobrecarregar os impostos dos anões por gastarem, pelo menos, menos 15% em vestuário do que as pessoas ditas normais? Pelos vistos, não havia na Alemanha de 1964 nenhum Clube das Pessoas Baixas que se pronunciasse sobre a matéria. Enfim, para nós, portugueses, os alemães sempre foram mais para o calmeirão, a coisa entende-se.
Com sede em Bona, o Clube das Pessoas Altas gabava-se de que, dos pedidos feitos às autoridades, vários já tinham sido deferidos. Por exemplo, o Exército Federal Alemão passara a ter uma atenção especial aos soldados mais espigados, preparando uniformes de tamanhos maiores e entregando-os às unidades especiais que recebiam estes soldados especiais. Assim, sim. Valia a pena ter uma organização, um clube. A malta sentia-se compensada e pagava quotas sem se queixar. Andar lá por cima, de cabeça nas nuvens – literalmente –, já não era uma atividade solitária.
De tempos a tempos juntavam-se em assembleias-gerais, em salas de tetos altíssimos, presume-se, fazendo longuíssimas e germânicas vénias uns aos outros. Nos Estados Unidos, não tardaram a seguir o exemplo teutónico. Fundou-se o Clube das Pessoas Altas dos Estados Unidos da América.
Keller estava num sino. “Até já há hotéis a convidar-nos, pondo à nossa disposição camas e mobiliário à nossa medida de forma a obviar às dificuldades que costumamos ter nas reuniões do clube. Conhecemos bem as preocupações de todas as pessoas com excesso de altura e sentimo-nos bem, alegres e felizes, constituindo uma grande família de gente grande!”
Se calhar, para cima de dois metros, devíamos falar em altitude em vez de altura. Os membros do Clube das Pessoas Altas da Alemanha estavam numa fase de marketing muito ativa. Além de darem nas vistas por serem altos, os seus membros iam pelas ruas distribuindo distintivos de simbologia sugestiva para os transeuntes espetarem nas lapelas dos casacos. Viviam um tempo de enorme otimismo. À sua altura. E não existia entre eles o mais pequenino atrito…