Graça Lobo. Da riqueza à miséria sem ressentimentos


A atriz agora vive na maior das misérias, andando de lar em lar, embora com a esperança de um futuro melhor, diga-se lar com melhores condições


Graça Lobo foi uma mulher que sempre se borrifou para o politicamente correto e teve uma vida fora da caixa. Nascida numa família abastada, foi andando pelo mundo – passou por conventos, já que o pai não gostou de saber que andava de vespas com rapazes quando estudava no Liceu Francês –, foi hospedeira em Bogotá, até que regressou a Portugal, onde foi aconselhada a fazer o Conservatório.

Numa entrevista de vida dada ao Diário de Notícias, Graça Lobo revela-nos como agora vive na maior das misérias, andando de lar em lar, embora com a esperança de um futuro melhor, diga-se lar com melhores condições. O que mais me fascinou na entrevista foi não existir o mínimo de azedume em relação às opções que tomou. Gastou o dinheiro como quis e não se arrepende. Lamenta apenas ter de viver com pessoas que não tiveram educação e que, por isso, a incomodam no dia-a-dia. Comem com as mãos, gritam, sangram à mesa, etc.

“O pior de viver aqui é a falta de dinheiro, o lar propriamente dito e as pessoas. E nunca imaginei que as pessoas vivessem assim, sem dinheiro, sem saber ler”, disse, numa demonstração de que teve uma vida que passou ao lado do mundo real da pobreza. Algo muito comum à generalidade das pessoas.

Graça Lobo fala dos amores da sua vida – a parte que envolve Júlio Pomar é hilariante: “Apaixonei-me por um homem feio, o Júlio [Pomar]. Foi uma grande, grande paixão, com um homem tão feio, tão feio, mas ele tinha uma magia qualquer. O Dr. Mário Soares disse-me uma vez: ‘Ó Graça, porque é que mulheres tão bonitas se apaixonam pelo Júlio Pomar, que é tão feio?’ Realmente, era feio” –, do que é viver com tão pouco dinheiro e do futuro. E é aqui que está outra história extraordinária. A atriz escreveu as suas memórias, mas parece que ninguém quer publicá-las. Porquê? Responde a própria: “As minhas memórias estão chocantes, as pessoas que gostam de mim chocam-se com o que escrevi. Tenho de arranjar um editor”, disse ao DN. Se Graça Lobo não tivesse sido uma loba, tudo seria diferente. Vivemos mesmo num país pequenino.