Benfica-Sporting.  A Pantera Negra devorou leões trapalhões!

Benfica-Sporting. A Pantera Negra devorou leões trapalhões!


Vinte anos depois da inauguração do Jamor, nova tentativa de Supertaça. Quase uma Supertaça Europeia, no Restelo, em 1964. Um vendaval encarnado e 5-0 na Taça de Ouro da Imprensa! Ontem, houve outro Benfica-Sporting, já depois da hora de fecho do jornal.


Vinte anos após a inauguração do Estádio Nacional que meteu um jogo entre o Sporting (campeão) e o Benfica (vencedor da Taça) numa Taça do Império que foi uma espécie de Supertaça – devia ter tido continuação, mas não teve –, a Taça da Imprensa pôs frente a frente o Benfica (campeão) e o Sporting (vencedor da Taça) noutra tentativa de Supertaça que deveria ser para repetir e, mais uma vez, ficou fechada na gaveta a abarrotar das boas intenções.

Chamaram-lhe a Taça de Ouro da Imprensa e era um belíssimo troféu. Estádio do Restelo no dia 29 de março de 1964: uma Supertaça que quase foi uma Supertaça Europeia – o Benfica vinha de três finais seguidas da Taça dos Campeões Europeus, com vitórias nas duas primeiras; o Sporting estava à beirinha de ganhar a Taça dos Vencedores de Taças. Mais de 30 mil pessoas acorreram a Belém, sedentas de ver os melhores jogadores do país das duas melhores equipas do país.

Estava lá tudo e mais um par de botas: o chefe de Estado, o sr. ministro da Educação Nacional, o diretor-geral dos Desportos, o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa e mais uma catrefa de sumidades. Mas, como sempre acontece nestes casos, as sumidades estavam sobre o relvado: Coluna, José Augusto, Eusébio, Torres, Simões, Hilário, Morais, Fernando Mendes, Pérides, Mascarenhas e Figueiredo, por exemplo.

Depois, para surpresa geral, a coisa começou e acabou praticamente após ter começado. Querem ver? Nove minutos: José Augusto vai direito a Saturnino e dá-lhe um nó cego impossível de desatar. Em seguida senta mais dois e centra para a área do Sporting, onde surge Eusébio para o remate definitivo de tamanha faena.

“Bem, isto é só o começo”, pensou a malta em geral.

Dois minutos depois, o começo começou a ser o começo do fim. Alexandre Baptista e Alfredo ficam num vais-tu-ou–vou-eu perante Eusébio e Eusébio era um tipo essencialmente prático e não se deixava nas covas: correu para a baliza, esperou a saída de Carvalho, passou-lhe a bola por cima da cabeça e 2-0.

Estavam decorridos 13 minutos e Alfredo, desastrado, tenta atrasar a bola para Carvalho. Ui! Ui! Ui! Que atrapalhação. Torres esteve-se nas tintas. Meteu-se no meio da confusão e 3-0.

“Agora é que vão ser elas!”, tremeram os do Sporting. Corria-se o risco de uma cabazada das antigas, ainda por cima com aquela linha avançada dos encarnados, que não costumava ter piedade de ninguém.

Antes do intervalo: 4-0! Eusébio passou como uma flecha pelo seu amigo Hilário, ambos lá da Mafalala, centrou, Carvalho, outra vez numa baralhação de ideias e de decisões, atira-se tarde e a más horas, Torres aparece no seu estilo de galifão e marca outra vez.

O público do Benfica ruge de felicidade. Já os leões lambem as feridas.

Os dez primeiros minutos do segundo tempo foram todos de Eusébio: um remate a rasar o poste, outro a roçar na barra e um movimento carregado de brilhantismo a desgraçar a vida ao pobre Saturnino antes de disparar com violência inaudita para o 5-0!

“Mas isto, afinal, vai até aos quantos?”, já se inquietava a rapaziada de verde e branco.

O vendaval acalmou. Os jogadores do Benfica pareceram satisfeitos. Trocavam a bola entre si, ignoraram a baliza. E levaram a taça. Que não se repetiu. Mais uma vez…