DanGillmor, vencedor de um EFF PioneerAward, publicou sobre a importância de movimentos como a IndieWeb, para solucionar os frequentes problemas que temos assistido diariamente de fuga de informação nas plataformas que usamos no nosso quotidiano.
De facto, já todos estamos conscientes do alcance que as nossas publicações na internet podem ter e da dificuldade que pode ser remover tais publicações. Além disso, o escândalo de dados do Facebook-Cambridge Analytica recorda-nos que não só o que publicamos pode estar ao alcance de quem não pretendíamos.
Vazamentos de dados acontecem e temos noção de que tudo o que é digital está sujeito a ataques de terceiros, todavia, o mais grave é quando estes “vazamentos” são secretamente consentidos pelas corporações nas quais confiamos.
Surge assim o conceito da IndieWeb onde se apela à descentralização e distribuição da informação. Numa rede social centralizada a informação que respeita aos utilizadores é mantida numa localização única de rede. Assim, os demais utilizadores (outras localizações na rede) têm de confiar a sua informação a esta localização central.
A rede livre, é parte da IndieWeb e consiste numa rede social descentralizada iniciada com o GNU social (em torno de 2010). Hoje são vários os softwares usados nesta rede, onde se destaca o GNU social como uma alternativa ao Twitter, o Friendrica como uma alternativa ao Facebook e o Pixelfed como uma alternativa ao Instagram.
Alguns dos princípios chave da IndieWeb, segundo o site oficial, são:
– O teu conteúdo é teu: Quando se publicaalgo na internet, esta publicação deve pertencer ao seu autor e não a uma corporação. Muitas corporações tiveram os seus serviços terminados [o que me faz recordar o recente caso do Google+] e perdeu-se a informação dos seus utilizadores;
– Melhor conectividade: Os teus artigos devem alcançar todos os serviços, não apenas um, permitindo-se deste modo o envolvimento de todos. Do mesmo modo, comentários e outras interações podem entrar no teu servidor e assim podes encontrar toda a informação na mesma localização;
– Estás no controlo: Deves poder publicar o que entenderes, no formato que entenderes, sem seres monitorizado. Podespartilhar links simples e legíveis como meusitio.net/ideias. Estes links são permanentes.
Coloca-se então a questão sobre o controlo e segurança desta rede, não seremos vítimas de uma grande quantidade de spam devido à falta de uma entidade controladora central?
“Cada localização na rede tem um administrador. Quando um utilizador se serve dessa localização para atividades nefastas, o administrador pode atuar e neutralizar a ameaça à rede. No caso de uma resposta tardia por parte do administrador de tal localização, as demais localizações podem bloquear a comunicação (total ou parcial) provenientes da fonte prejudicial. Filtros automáticos de spam foram também implementados.”
– Diogo Cordeiro, atual programador principal do GNU social.
As instâncias constituintes da rede livre são tipicamente isentas de propaganda e suportadas exclusivamente por doações. Algumas destas instâncias são individuais e simultaneamente mantidas e utilizadas unicamente pelo seu proprietário. Os programas até agora referidos são de código aberto, permitindo-se deste modo a sua leitura e assegurando assim que os nossos dados estão a ser utilizados unicamente para os fins pretendidos.
Em alguns países, como Espanha, já verificamos uma forte adoção por estes meios de comunicação alternativos que se marcam como mais transparentes e respeitadores da privacidade dos utilizadores. De facto, as eventuais pequenas vantagens de experiência na utilização que verificamos em plataformas mais corporativas e proprietárias podem não constituir um verdadeiro benefício face à segurança e total conhecimento de onde e com que finalidades são os nossos dados pessoais utilizados. Devemos, por isso, aderir a movimentos como a IndieWeb numa perspetiva de recuperar a liberdade com que a Internet foi de princípio criada.
Silvério Cordeiro – Professor Associado, Universidade Fernando Pessoa