Toda a gente quer igualdade de género e de mérito


Escrevo a propósito de Ursula Von der Leyen. Será a primeira mulher a presidir a Comissão Europeia. Muito bem! Por ser mulher, também, mas pelos méritos profissionais que a trouxeram até este patamar. Mãe de 7 filhos, formada em Medicina e posteriormente com uma Licenciatura em Economia, encontrou-se com a política apenas aos seus 45…


Escrevo a propósito de Ursula Von der Leyen. Será a primeira mulher a presidir a Comissão Europeia. Muito bem! Por ser mulher, também, mas pelos méritos profissionais que a trouxeram até este patamar. Mãe de 7 filhos, formada em Medicina e posteriormente com uma Licenciatura em Economia, encontrou-se com a política apenas aos seus 45 anos de idade. Um caso raro.

Hoje, com 60 anos de idade, é categórica a ascensão desde que foi eleita eleita representante na Assembleia Regional de Hanover em 2003. De Ministra alemã da Família até à pasta da Defesa no Governo de Angela Merkel parece que devorou uma década num ápice. Agora, a 1 de novembro de 2019 iniciará funções enquanto Presidente da Comissão Europeia.

Nem tudo foi um mar de rosas nesta eleição, sejamos honestos. Se é notória e meritória a caminhada política em apenas 15 anos de vida ativa, assim como para a história de todos é assinalável vivermos o período em que vermos uma mulher chegar à presidência da Comissão Europeia, também se assistiu na capital política europeia à mais expressiva votação contra de que há registo.

Não irei aflorar questões relacionadas com fragmentações partidárias do Parlamento Europeu ou abordar as rejeições sucessivas dos denominados SpitzenKandidaten: Manfred Weber ou Franz Timmermans.

Falemos de igualdade de género e de mérito.

Em primeiro lugar, a importância deste tema não é sequer questionável. Não surge só graças à eleição de Ursula Von der Leyen, até porque há muitas mulheres em lugar de mérito considerável, ou porque esta temática foi escolhida como o terceiro objetivo do Milénio para a Organização das Nações Unidas.

É mais que isso. A história demonstra que a evolução da sociedade evidenciou sempre uma melhoria nos critérios de igualdade de género.

Felizmente, hoje há muito por onde valorizar os casos em que o mérito de muitas mulheres fez com que ocupassem o maior palco de decisão.

Já falei da nova Presidente da Comissão Europeia. Vejamos outros.

Angela Merkel. Nunca irei perceber o porquê de tanta negatividade em torno da, porventura, maior líder europeia à data. Não é uma líder assertiva que “só por acaso” lidera desde 2005 a maior economia da Europa? É. Seguramente que é mérito.

Ursula e Merkel terão sempre, e daí termos de dar o “desconto da taxa de desonestidade intelectual”, a conotação de mulheres políticas de Direita. Margaret Thatcher, Angela Merkel e agora Ursula Von der Leyen.

Ainda sobre mulheres e a política, pensemos de forma rápida no sistema político-partidário português.

Quem não quer ver que temos hoje uma Assunção Cristas a liderar o CDS-PP, uma Catarina Martins a liderar o BE, uma Ana Catarina Mendes em função de grande destaque no PS, uma Heloísa Apolónia que até é a única cara do Partido Ecologista “Os Verdes”, ou que até nas duas maiores Juventudes Partidárias do país – JSD e JS – ambas as líderes são mulheres?

E fora do nosso cantinho português?

Podemos ignorar o impacto de Inés Arrimadas na política espanhola? Podemos esquecer que o Brasil teve a “Presidenta” Dilma Rousseff? Na Argentina não houve Cristina Kirchner a Presidente? Nos Estados Unidos da América não é Alexandria Ocasio-Cortez que hoje dá cartas e preenche a agenda mediática após ter galvanizado Bronx e Nova Iorque numa campanha popular e sem máquinas partidárias?

E Christine Lagarde? Uma das mais influentes personalidades da Europa. Diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 2011, percorrendo anos de crise severa na zona euro sob a sua liderança, não é caso claro de mérito?

E quando tanto se fala dos populistas e se apontam barreiras, muito bem, a esses excessos de incoerência que apela aos extremismos que devemos erradicar, é possível esquecer Marine Le Pen? Não é.

O lado bom e o lado mau não têm género, assim como o mérito está em ambos os lados. Nestas questões o foco deve ser a igualdade do mérito.

Todas estas líderes, sem apreciar ideologias ou ideias, têm os seus méritos. Em Portugal, ou “fora de portas”, todas chegaram aos cargos onde estão pela capacidade política e não pelo sexo com que nasceram.

Mas quando se toca na política a clubite tende a prejudicar o olhar do mérito. Vejamos no mundo empresarial para facilitar o rol de exemplos.

Num mundo tão global quem não sabe o que é o YouTube? Todos sabemos. Todos usamos. Mas, quem é a CEO desta plataforma de streaming de vídeos e música desde 2014? Uma mulher. Susan Wojcicki. Sabia? Fica a saber.

Ana Patrícia Botín tornou-se chair do Banco Santander apenas em 2014. De lá para cá tornou o Banco Santander no maior banco de Espanha quando adquiriu a falência do Banco Popular em 2017.

Ginni Rometty é outra mulher de grandes méritos e reconhecido sucesso. É a CEO da gigante IBM e conseguiu colocar a computação cognitiva no centro da estratégia da empresa, um passo à frente de muitos como pilar para o futuro a que se junta a aposta massiva na blockchain e na computação quântica.

Para acabar, embora haja muitos mais bons exemplos, falemos de Mary Barra que é a CEO e chairman da gigante General Motors. Investiu largos milhões de euros em veículos elétricos e autónomos. Criou lucro. Reinventou. Mas no plano que hoje escrevo, saibamos que a sua empresa é mundialmente reconhecida pela total igualdade de salário entre homens e mulheres. É obra.

São vários os casos em que a paridade aplicada foi a do mérito. É assim que gosto de ver e viver no mundo.

Nunca um defensor da igualdade de género poderá ser um defensor de qualquer paridade do facilitismo só “porque sim”. Há caminhos diferentes para o desenvolvimento sustentável a este nível no nosso país, na Europa e no Mundo.

Há um caminho grande a percorrer para uma composição e aplicação real de mérito, de políticas e padrões de igualdade de género sem esquecer a realidade, a resposta aos novos problemas da sociedade, os seus desafios e as novas oportunidades que nos surgem à medida que o mundo pula e avança.

Sim, temos de incluir planos de ação e implementar mecanismos para reconhecer o papel de liderança das mulheres também. Temos de assegurar a sua representação e defender cada vez mais a igualdade e justiça salarial.

Saibamos que temos de continuar a evoluir.

Acima de tudo, homens e mulheres, primem pela igualdade do mérito. Só aí ganharemos todos, com os melhores nos melhores lugares.

 

Carlos Gouveia Martins

Toda a gente quer igualdade de género e de mérito


Escrevo a propósito de Ursula Von der Leyen. Será a primeira mulher a presidir a Comissão Europeia. Muito bem! Por ser mulher, também, mas pelos méritos profissionais que a trouxeram até este patamar. Mãe de 7 filhos, formada em Medicina e posteriormente com uma Licenciatura em Economia, encontrou-se com a política apenas aos seus 45…


Escrevo a propósito de Ursula Von der Leyen. Será a primeira mulher a presidir a Comissão Europeia. Muito bem! Por ser mulher, também, mas pelos méritos profissionais que a trouxeram até este patamar. Mãe de 7 filhos, formada em Medicina e posteriormente com uma Licenciatura em Economia, encontrou-se com a política apenas aos seus 45 anos de idade. Um caso raro.

Hoje, com 60 anos de idade, é categórica a ascensão desde que foi eleita eleita representante na Assembleia Regional de Hanover em 2003. De Ministra alemã da Família até à pasta da Defesa no Governo de Angela Merkel parece que devorou uma década num ápice. Agora, a 1 de novembro de 2019 iniciará funções enquanto Presidente da Comissão Europeia.

Nem tudo foi um mar de rosas nesta eleição, sejamos honestos. Se é notória e meritória a caminhada política em apenas 15 anos de vida ativa, assim como para a história de todos é assinalável vivermos o período em que vermos uma mulher chegar à presidência da Comissão Europeia, também se assistiu na capital política europeia à mais expressiva votação contra de que há registo.

Não irei aflorar questões relacionadas com fragmentações partidárias do Parlamento Europeu ou abordar as rejeições sucessivas dos denominados SpitzenKandidaten: Manfred Weber ou Franz Timmermans.

Falemos de igualdade de género e de mérito.

Em primeiro lugar, a importância deste tema não é sequer questionável. Não surge só graças à eleição de Ursula Von der Leyen, até porque há muitas mulheres em lugar de mérito considerável, ou porque esta temática foi escolhida como o terceiro objetivo do Milénio para a Organização das Nações Unidas.

É mais que isso. A história demonstra que a evolução da sociedade evidenciou sempre uma melhoria nos critérios de igualdade de género.

Felizmente, hoje há muito por onde valorizar os casos em que o mérito de muitas mulheres fez com que ocupassem o maior palco de decisão.

Já falei da nova Presidente da Comissão Europeia. Vejamos outros.

Angela Merkel. Nunca irei perceber o porquê de tanta negatividade em torno da, porventura, maior líder europeia à data. Não é uma líder assertiva que “só por acaso” lidera desde 2005 a maior economia da Europa? É. Seguramente que é mérito.

Ursula e Merkel terão sempre, e daí termos de dar o “desconto da taxa de desonestidade intelectual”, a conotação de mulheres políticas de Direita. Margaret Thatcher, Angela Merkel e agora Ursula Von der Leyen.

Ainda sobre mulheres e a política, pensemos de forma rápida no sistema político-partidário português.

Quem não quer ver que temos hoje uma Assunção Cristas a liderar o CDS-PP, uma Catarina Martins a liderar o BE, uma Ana Catarina Mendes em função de grande destaque no PS, uma Heloísa Apolónia que até é a única cara do Partido Ecologista “Os Verdes”, ou que até nas duas maiores Juventudes Partidárias do país – JSD e JS – ambas as líderes são mulheres?

E fora do nosso cantinho português?

Podemos ignorar o impacto de Inés Arrimadas na política espanhola? Podemos esquecer que o Brasil teve a “Presidenta” Dilma Rousseff? Na Argentina não houve Cristina Kirchner a Presidente? Nos Estados Unidos da América não é Alexandria Ocasio-Cortez que hoje dá cartas e preenche a agenda mediática após ter galvanizado Bronx e Nova Iorque numa campanha popular e sem máquinas partidárias?

E Christine Lagarde? Uma das mais influentes personalidades da Europa. Diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 2011, percorrendo anos de crise severa na zona euro sob a sua liderança, não é caso claro de mérito?

E quando tanto se fala dos populistas e se apontam barreiras, muito bem, a esses excessos de incoerência que apela aos extremismos que devemos erradicar, é possível esquecer Marine Le Pen? Não é.

O lado bom e o lado mau não têm género, assim como o mérito está em ambos os lados. Nestas questões o foco deve ser a igualdade do mérito.

Todas estas líderes, sem apreciar ideologias ou ideias, têm os seus méritos. Em Portugal, ou “fora de portas”, todas chegaram aos cargos onde estão pela capacidade política e não pelo sexo com que nasceram.

Mas quando se toca na política a clubite tende a prejudicar o olhar do mérito. Vejamos no mundo empresarial para facilitar o rol de exemplos.

Num mundo tão global quem não sabe o que é o YouTube? Todos sabemos. Todos usamos. Mas, quem é a CEO desta plataforma de streaming de vídeos e música desde 2014? Uma mulher. Susan Wojcicki. Sabia? Fica a saber.

Ana Patrícia Botín tornou-se chair do Banco Santander apenas em 2014. De lá para cá tornou o Banco Santander no maior banco de Espanha quando adquiriu a falência do Banco Popular em 2017.

Ginni Rometty é outra mulher de grandes méritos e reconhecido sucesso. É a CEO da gigante IBM e conseguiu colocar a computação cognitiva no centro da estratégia da empresa, um passo à frente de muitos como pilar para o futuro a que se junta a aposta massiva na blockchain e na computação quântica.

Para acabar, embora haja muitos mais bons exemplos, falemos de Mary Barra que é a CEO e chairman da gigante General Motors. Investiu largos milhões de euros em veículos elétricos e autónomos. Criou lucro. Reinventou. Mas no plano que hoje escrevo, saibamos que a sua empresa é mundialmente reconhecida pela total igualdade de salário entre homens e mulheres. É obra.

São vários os casos em que a paridade aplicada foi a do mérito. É assim que gosto de ver e viver no mundo.

Nunca um defensor da igualdade de género poderá ser um defensor de qualquer paridade do facilitismo só “porque sim”. Há caminhos diferentes para o desenvolvimento sustentável a este nível no nosso país, na Europa e no Mundo.

Há um caminho grande a percorrer para uma composição e aplicação real de mérito, de políticas e padrões de igualdade de género sem esquecer a realidade, a resposta aos novos problemas da sociedade, os seus desafios e as novas oportunidades que nos surgem à medida que o mundo pula e avança.

Sim, temos de incluir planos de ação e implementar mecanismos para reconhecer o papel de liderança das mulheres também. Temos de assegurar a sua representação e defender cada vez mais a igualdade e justiça salarial.

Saibamos que temos de continuar a evoluir.

Acima de tudo, homens e mulheres, primem pela igualdade do mérito. Só aí ganharemos todos, com os melhores nos melhores lugares.

 

Carlos Gouveia Martins