Nem Bond, nem Bond Girl, Lashana Lynch  é a nova 007

Nem Bond, nem Bond Girl, Lashana Lynch é a nova 007


Daniel Craig não deixará (pelo menos por agora) o papel de James Bond na saga que acompanha a personagem criada por Fleming. Mas, logo numa das cenas iniciais do filme que estreia em 2020, será substituído por uma nova agente interpretada pela atriz britânica Lashana Lynch. A nova 007.


Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan, Daniel Craig, uma lista longa, como teria que ser a de atores que, desde o início da década de 1960 vêm interpretando a personagem criada em 1953 por Ian Fleming. Sobre o novo capítulo da saga, aquele que tem sido chamado de Bond 25 e que tem estreia marcada para o próximo ano, sabia-se já que contaria com Rami Malek como um novo vilão – e com Daniel Craig, naquela que, já se sabia, seria a última vez que daria corpo ao agente dos serviços secretos britânicos.

Tudo na mesma até aqui – até ontem, o dia em que, citando uma fonte anónima ligada ao filme, o Daily Mail revelou qual seria o papel de Lashana Lynch no novo capítulo da saga: a nova agente 007.

E pode nem ser Bond, James Bond, a personagem que a atriz que interpretou recentemente a piloto de combate Maria Rambeau em Capitão Marvel, de Anna Boden e Ryan Fleck. Mas será mesmo ela, mulher e uma mulher negra, a próxima 007. E vamos à história.

Talvez o título Bond 25 tenha deixado de fazer sentido. Segundo aquele mesmo diário britânico, o 25.º filme da saga que, desde Dr. No, a primeira adaptação da obra de Fleming ao cinema, em 1962, tem tido James Bond como protagonista, voltará a contar com Daniel Craig como James Bond. Precisamente com ele, em modo de descanso, na Jamaica, abrirá o filme, numa cena em que é chamado de volta ao serviço, para combater um novo vilão (Rami Malek?).

“Bond deixou o serviço ativo e está desfrutando de uma vida tranquila na Jamaica. Sua paz dura pouco, pois seu velho amigo Felix Leiter, da CIA, aparece a pedir ajuda. A missão de resgatar um cientista torna-se mais complicada do que o esperado”, descreve a fonte citada pelo mesmo jornal.

Mas vem então a revelação: “Há uma cena decisiva no início do filme em que M diz ‘entra, 007’ e quem entra é a Lashana, que é negra, bonita e mulher”, contou a mesma fonte ao Daily Mail. “É um momento de deixar cair as pipocas. O Bond continua a ser o Bond, mas é substituído enquanto 007”.

Que alguém deixe cair o cesto das pipocas no momento em que Lachana Lynch entra pela sala é pouco provável depois de revelada esta informação. Daniel Craig não deixará, pelo menos por agora, de existir enquanto James Bond – e, segundo as informações ontem avançadas, não deixará de tentar enquadrar a personagem de Lynch no estereótipo para o qual, ao longo de seis décadas, foram sendo atiradas, uma por uma, as Bond Grils. Segundo foi revelado, Bond chegará a tentar seduzi-la – sem sucesso, desta vez.

Atrizes negras foi havendo ao longo dos 24 filmes da saga criada a partir de Fleming. Na década de 1970, em Diamonds Are Forever, Trina Parks interpretava a 27.ª Bond Girl, e em Live And Let Die, Gloria Hendry fazia o papel de Rosie Carver; na década seguinte, no décimo quarto capítulo de 007, Alvo em Movimento, a Grace Jones foi entregue o papel de May Day. Já em 2002, Halle Berry integraria o elenco do vigésimo filme da saga: 007 – Morre Noutro Dia

Papéis que num tempo herdeiro do movimento #MeToo, se invertem, por fim, neste filme em que vem uma mulher negra – a atriz britânica Lashana Lynch – assumir, numa história integrada na narrativa, o lugar até então ocupado por James Bond. Isto mesmo depois de, ainda no ano passado, a produtora Barbara Broccoli ter afirmado que “jamais” 007 poderia vir a ser uma mulher.

A notícia, que veio depois da confirmação de que, no remake em live action de A Pequena Sereia que a Disney está a preparar, também Ariel passará a ser negra, foi recebida com entusiasmo nas redes sociais. Mas, num artigo publicado ontem ao final da manhã no Guardian, Noah Berlatsky, autor de Wonder Woman: Bondage and Feminism, alerta para o facto de a celebração da substituição do agente 007 por uma personagem feminina poder ser “prematura”. E explica a sua desconfiança, num texto ao longo do qual percorrerá vários exemplos notando a importância de perceber a forma como será construída e tratada a personagem: “O homem branco não desiste do seu estatuto de herói tão facilmente”.

Produzido por Michael G. Wilson e Barbara Broccoli (MGM, Universal Pictures e Eon Productions) e com realização de Cary Joji Fukunaga, o chamado Bond 25, que está a ser rodado entre Itália e o Reino Unido, atravessou uma fase de pré-produção atribulada. Em 2017, Danny Boyle, que substituiria Sam Mendes na realização, largou o projeto, por discordâncias em relação ao argumento do filme. Antes disso, ainda em 2015, já Daniel Craig havia dito, voltando depois atrás, que preferiria “cortar os pulsos a interpretar Bond de novo”. A Bond, Craig voltará, parece certo. A 007, essa já é outra história.