O Parque Nacional de Monfragüe, na Estremadura espanhola – Comunidad Autónoma de Extremadura –, atravessado pelo rio Tejo e o afluente Tiétar, é considerado uma “das grandes jóias da natureza europeia” (sic). Particularmente apreciado pela riqueza faunística – diga-se em abono da verdade que o nosso Parque Nacional da Peneda-Gerês é, em termos paisagísticos, muito mais exuberante –, é nas altas escarpas rochosas dos rios, onde várias espécies nidificam, que se podem observar aves de grande porte, águias, abutres, milhafres, etc., e fruir o momento.
Perante a beleza e o respeito que nos infundem estes santuários da natureza, vem-nos à ideia, como uma ferroada, a devastação selvagem a que vem sendo sujeita a floresta amazónica, atentado agravado sob o curto consulado de Jair Bolsonaro. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, “o desmatamento na Amazónia cresceu cerca de 60% no mês de Junho de 2019 em comparação com 2018 (…) e atingiu a pior marca desde 2016”, dados que, arrogante, o Governo brasileiro desconsiderou. Ainda que, na Cimeira do G20 em Osaca, Bolsonaro tenha assegurado que não vai abandonar o Acordo de Paris, como tinha anteriormente insinuado. Mas o ignaro e tosco Presidente brasileiro não pára de nos brindar. Uma das pérolas foi a patética reacção à morte do grande cantor e compositor brasileiro João Gilberto; instado a pronunciar-se, soltou: “Uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, ‘tá ok?” Lamentável. Ora, num ambiente de laxismo e indecoro, tudo pode acontecer, e o inesperado acontece: numa cerimónia na cidade de Aracaju, Sergipe, com ministro federal e discursos, imediatamente após o do governador do estado, um empresário gaúcho presente gritou: “Belivaldo, você é mentiroso”; e suicidou-se ali mesmo com um tiro na boca! Oh Brasil!
Voltando à Extremadura, na encruzilhada de Monfragüe, Mérida e Cáceres fica a cidadezinha de Trujillo, um “precioso rincón extremeño”! Apenas com dez mil habitantes, Trujillo vive do turismo, não obstante a actividade agrícola, principalmente ganadeira, nas cercanias. A cidade, construída sobre um batólito granítico (elevação composta de grande massa de rochas magmáticas), estrategicamente sobressaindo
na planície estremenha, floresceu próspera como burgo medieval
e atingiu o auge do esplendor e desenvolvimento na Baixa Idade Média, a partir do séc. xii, como atestam os numerosos edifícios renascentistas e a heráldica associada. De resto, a extraordinária concentração de palácios e de magníficos brasões de pedra lavrada – surpreende porque, pequena, a cidade percorre-se de lés a lés em menos de meio dia – dever-se-á presumivelmente à riqueza e influência da nobreza rural estremenha que ali se estabeleceu, de que o trujillano Francisco Pizarro, o intrépido e cruel “conquistador do Peru”, é figura destacada. Do muito que há para ver, e embasbacar, a Plaza Mayor, que se nos depara logo à chegada, deixa-nos de pasmo em riste! E os entardeceres nas esplanadas a toda a roda são deleite garantido para os olhos e os ouvidos: a concentração chilreante da passarada é mais do que proporcional à dos belíssimos palácios! Encantamento!
Gestora
Escreve quinzenalmente, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990