O Governo virtual do Dr. Costa


O Governo congelou o país no que a projetos relevantes diz respeito, mas foi mestre na propaganda.


1. São tantas as coisas que o Governo não fez! Não fez aeroporto novo nem o começou ou publicou o estudo de impacto ambiental. Não fez ainda a autoestrada que liga Vilar Formoso a Espanha, nem a que ligaria a Sines. Não fez nenhuma ponte significativa. Não construiu nenhum hospital. Não há nota de mais linhas de comboio. De estações de metropolitano, nem falar. Não há renovada frota de autocarros. Não há praticamente nenhuma unidade de saúde significativa. Não há novas embaixadas nem consulados materiais para apoiar os emigrantes, que continuam a partir em massa. De substancial não há nada ou praticamente nada, qualquer que seja a área. Há, sim, as atribuições cada vez mais alargadas do fisco, transformado numa verdadeira polícia totalitária que aterroriza a cidadania. Mas, em contrapartida e com as eleições à porta, não há dia que o Governo não anuncie uma medida extraordinária. Tudo o que não funciona é de repente desbloqueado com medidas virtuais que, claro, não vão aplicar-se imediatamente, mas entrarão em vigor futuramente, mais ou menos em outubro, depois das eleições, de forma também imaterial. É o milagre do Simplex! De rompante surgem 119 soluções caídas do céu que supostamente vão resolver a maioria dos problemas burocráticos do indigenato português. Por via delas, chegaremos ao paraíso. Ele é nos cartões de cidadão, ele é na saúde (onde as maternidades que iam fechar rotativamente deixam de o fazer de um momento para o outro), ele é nos impostos, ele é na Segurança Social. Tudo está prometido em pacotes milagrosos, cheios de brindes que deixam os mais crédulos entusiasmados e os mais experientes desconfiados. Simultaneamente, o Governo intervém para travar esta ou aquela medida deplorável que, obviamente, corre o risco de levar a levantamentos populares, como foi o caso da decisão da administração da Caixa Geral de Depósitos de só pagar juros a quem tivesse lá depositados mais de seis mil euros! Gerir a CGD como está a ser feito não tem mérito rigorosamente nenhum. A política do Governo está transformada num leilão de intenções ou de medidas avulsas tomadas ao sabor das necessidades do momento e que, normalmente, não passam de anúncios. Vivemos, como nunca, do oportunismo político, do ficar bem na fotografia e numa espuma mediática. Vão longe os tempos de Governos com projetos. Hoje governa-se com um mero sentido imediato, fruto de uma conjuntura internacional que nos tem favorecido, apesar de estarmos na cauda do crescimento europeu. Ou seja, temos um país congelado e uma propaganda a funcionar em pleno.

 

2. As contas sobre os tempos de espera no SNS são sistematicamente manipuladas. Veja-se: há quem espere um ano e até mais por uma operação. Mas a isso tem de se somar o tempo de espera que medeia entre a marcação no centro de saúde e, por exemplo, a primeira consulta da especialidade. Resultado: facilmente se chega a dois e três anos de demora. Coisas que qualquer cidadão sabe, mas que o Governo esconde, com a ministra Marta Temido a fazer barreira com ar de santinha.

 

3. Azeredo Lopes estranhou e ficou desgostoso por ter sido constituído arguido no caso de Tancos, e logo por prevaricação e denegação de justiça. Só mesmo ele para ficar surpreendido. Mais grave do que o desaparecimento das armas foi o achamento delas. E se, no primeiro caso, o ministro obviamente não sabia, é muito difícil acreditar que não soubesse das manobras que envolveram a recuperação. Se sabia, é grave. Se não sabia, é ainda pior. Quanto a António Costa, não se percebe evidentemente como é possível não ter sido informado do que se estava a passar. Há algo muito mal contado nesta história toda.

 

4. O Expresso anunciou em grande parangona que só 6% dos casos denunciados por corrupção vão a tribunal. Segundo se lê, tal significa que os meios para investigar não chegam. É isso que logo alegam a Judiciária e o Ministério Público. Ora, se alguém tem meios em Portugal são estas duas instituições, que funcionam em plena luz mediática, sempre com centenas de polícias e dezenas de procuradores na rua e com o apoio de escutas que aqui há tempos ultrapassavam as 14 mil em Portugal. Ora, face a tudo isto, o escasso número de idas a tribunal mais parece estar no excesso de triunfalismo com que se noticiam as operações, com entradas de leão e muitas saídas de sendeiro. Tudo com a cobertura de alguns jornalistas que deixaram de investigar para passarem a ser meros porta-vozes de reivindicações corporativas. E assim colaboram ativamente na destruição da vida de pessoas que, pelo simples facto de serem arguidos, são transformados em culpados e condenados na praça pública. Razão tem Rui Rio que não aceita esta nova inquisição, como ele explicou há dias na TVI.

 

5. Na Grécia, o sr. Tsipras foi varrido do mapa eleitoral. Aconteceu-lhe isso depois de ter governado o país aplicando uma austeridade terrível. Tsipras teve, no entanto, uma grande vantagem. Mostrou que, no poder e no Governo, todos se confrontam com a realidade e o duro quotidiano de ter de assegurar o funcionamento de um país com o que ele produz ou com o que ele consegue que lhe emprestem. Catarina Martins, as manas Mortágua e os bloquistas teriam tido o mesmo percurso e fim político se tivessem chegado ao Governo. Com os resultados eleitorais que têm alcançado vivem, porém, num limbo, estando no Governo e na oposição ao mesmo tempo. São o exemplo paradigmático dos treinadores de bancada.

 

Escreve à quarta-feira

 


O Governo virtual do Dr. Costa


O Governo congelou o país no que a projetos relevantes diz respeito, mas foi mestre na propaganda.


1. São tantas as coisas que o Governo não fez! Não fez aeroporto novo nem o começou ou publicou o estudo de impacto ambiental. Não fez ainda a autoestrada que liga Vilar Formoso a Espanha, nem a que ligaria a Sines. Não fez nenhuma ponte significativa. Não construiu nenhum hospital. Não há nota de mais linhas de comboio. De estações de metropolitano, nem falar. Não há renovada frota de autocarros. Não há praticamente nenhuma unidade de saúde significativa. Não há novas embaixadas nem consulados materiais para apoiar os emigrantes, que continuam a partir em massa. De substancial não há nada ou praticamente nada, qualquer que seja a área. Há, sim, as atribuições cada vez mais alargadas do fisco, transformado numa verdadeira polícia totalitária que aterroriza a cidadania. Mas, em contrapartida e com as eleições à porta, não há dia que o Governo não anuncie uma medida extraordinária. Tudo o que não funciona é de repente desbloqueado com medidas virtuais que, claro, não vão aplicar-se imediatamente, mas entrarão em vigor futuramente, mais ou menos em outubro, depois das eleições, de forma também imaterial. É o milagre do Simplex! De rompante surgem 119 soluções caídas do céu que supostamente vão resolver a maioria dos problemas burocráticos do indigenato português. Por via delas, chegaremos ao paraíso. Ele é nos cartões de cidadão, ele é na saúde (onde as maternidades que iam fechar rotativamente deixam de o fazer de um momento para o outro), ele é nos impostos, ele é na Segurança Social. Tudo está prometido em pacotes milagrosos, cheios de brindes que deixam os mais crédulos entusiasmados e os mais experientes desconfiados. Simultaneamente, o Governo intervém para travar esta ou aquela medida deplorável que, obviamente, corre o risco de levar a levantamentos populares, como foi o caso da decisão da administração da Caixa Geral de Depósitos de só pagar juros a quem tivesse lá depositados mais de seis mil euros! Gerir a CGD como está a ser feito não tem mérito rigorosamente nenhum. A política do Governo está transformada num leilão de intenções ou de medidas avulsas tomadas ao sabor das necessidades do momento e que, normalmente, não passam de anúncios. Vivemos, como nunca, do oportunismo político, do ficar bem na fotografia e numa espuma mediática. Vão longe os tempos de Governos com projetos. Hoje governa-se com um mero sentido imediato, fruto de uma conjuntura internacional que nos tem favorecido, apesar de estarmos na cauda do crescimento europeu. Ou seja, temos um país congelado e uma propaganda a funcionar em pleno.

 

2. As contas sobre os tempos de espera no SNS são sistematicamente manipuladas. Veja-se: há quem espere um ano e até mais por uma operação. Mas a isso tem de se somar o tempo de espera que medeia entre a marcação no centro de saúde e, por exemplo, a primeira consulta da especialidade. Resultado: facilmente se chega a dois e três anos de demora. Coisas que qualquer cidadão sabe, mas que o Governo esconde, com a ministra Marta Temido a fazer barreira com ar de santinha.

 

3. Azeredo Lopes estranhou e ficou desgostoso por ter sido constituído arguido no caso de Tancos, e logo por prevaricação e denegação de justiça. Só mesmo ele para ficar surpreendido. Mais grave do que o desaparecimento das armas foi o achamento delas. E se, no primeiro caso, o ministro obviamente não sabia, é muito difícil acreditar que não soubesse das manobras que envolveram a recuperação. Se sabia, é grave. Se não sabia, é ainda pior. Quanto a António Costa, não se percebe evidentemente como é possível não ter sido informado do que se estava a passar. Há algo muito mal contado nesta história toda.

 

4. O Expresso anunciou em grande parangona que só 6% dos casos denunciados por corrupção vão a tribunal. Segundo se lê, tal significa que os meios para investigar não chegam. É isso que logo alegam a Judiciária e o Ministério Público. Ora, se alguém tem meios em Portugal são estas duas instituições, que funcionam em plena luz mediática, sempre com centenas de polícias e dezenas de procuradores na rua e com o apoio de escutas que aqui há tempos ultrapassavam as 14 mil em Portugal. Ora, face a tudo isto, o escasso número de idas a tribunal mais parece estar no excesso de triunfalismo com que se noticiam as operações, com entradas de leão e muitas saídas de sendeiro. Tudo com a cobertura de alguns jornalistas que deixaram de investigar para passarem a ser meros porta-vozes de reivindicações corporativas. E assim colaboram ativamente na destruição da vida de pessoas que, pelo simples facto de serem arguidos, são transformados em culpados e condenados na praça pública. Razão tem Rui Rio que não aceita esta nova inquisição, como ele explicou há dias na TVI.

 

5. Na Grécia, o sr. Tsipras foi varrido do mapa eleitoral. Aconteceu-lhe isso depois de ter governado o país aplicando uma austeridade terrível. Tsipras teve, no entanto, uma grande vantagem. Mostrou que, no poder e no Governo, todos se confrontam com a realidade e o duro quotidiano de ter de assegurar o funcionamento de um país com o que ele produz ou com o que ele consegue que lhe emprestem. Catarina Martins, as manas Mortágua e os bloquistas teriam tido o mesmo percurso e fim político se tivessem chegado ao Governo. Com os resultados eleitorais que têm alcançado vivem, porém, num limbo, estando no Governo e na oposição ao mesmo tempo. São o exemplo paradigmático dos treinadores de bancada.

 

Escreve à quarta-feira