Um cavalo abatido e quatro feridos transportados de urgência para o hospital – foi o desfecho de uma tourada em Coruche este sábado. Durante uma homenagem ao bandarilheiro Manuel Badajoz, dois forcados e dois cavaleiros tiveram de ser levados para o hospital depois de serem colhidos por um touro. As quatro pessoas estão livres de perigo, mas o cavalo – ferido durante a corrida – teve de ser abatido.
Os acidentes foram acontecendo ao longo da noite, ficando os forcados João Ventura e Luís Fera, do Aposento da Moita, e os cavaleiros Ana Batista e João Moura Júnior, da ganadaria São Torcato, com ferimentos. Os cavaleiros Ana Batista e João Moura Júnior caíram do cavalo e foram retirados de imediato da arena. Já o forcado Luís Fera foi quem mais sofreu, estando ainda internado no Hospital de São José, em Lisboa.
Acidentes como estes não estão contabilizados, nem fazem parte das estatísticas. Os números dos acidentes nas arenas não são conhecidos – não se sabe ao certo quantos forcados e quantos cavaleiros são assistidos devido a ferimentos causados por quedas ou pelos touros. No entanto, os casos conhecidos de touradas que não acabam da melhor forma não são nulos. Desde 2000, morreram quatro forcados na arena, segundo dados recolhidos pelo i através das notícias divulgadas até ao momento.
Ao i, Hélder Milheiro, secretário-geral da PróToiro – Federação Portuguesa de Tauromaquia, garantiu que os acidentes são uma consequência habitual, já que a “tauromaquia é uma atividade que tem uma natureza distinta: tem como base a verdade (…) Aquilo que se realiza dentro da arena é verdadeiro. Não estamos numa dimensão de representação teatral”, salientou Hélder Milheiro, acrescentando que “não é habitual haver acidentes graves” e que “qualquer atividade pode ter acidentes, desde um ator no palco até uma atividade mais agressiva”.
Sobre a possibilidade de os acidentes, como o que aconteceu no passado sábado, afastarem espetadores, o secretário-geral da PróToiro garantiu que é uma questão que nem se coloca, lembrando novamente que os acidentes fazem parte de qualquer atividade.
Mais pessoas a assistir nos últimos dois anos
O número de espetáculos realizados tem vindo a diminuir ao longo dos últimos dez anos – em 2009 registaram-se 313 espetáculos e, no ano passado, 173. No entanto, a tendência decrescente não se verifica quando se fala em número de espetadores.
As pessoas que assistem a espetáculos tauromáquicos são cada vez menos se recuarmos dez anos, é um facto, mas a linha decrescente inverteu o sentido a partir de 2017 – ano em que se registaram quase 378 mil espetadores, mais 16 mil do que no ano 2016 (362 mil). Já em 2018, segundo o Relatório da Atividade Tauromáquica 2018, da Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAV), o número de pessoas que se deslocou às arenas foi de 379 mil.
Este número crescente verifica-se, curiosamente, nos anos em que o tema das corridas tem vindo a ser mais debatido. Recorde-se, por exemplo, o que aconteceu no ano passado: o projeto lei do PAN para abolir touradas foi chumbado pela maioria no Parlamento. O PAN queria a proibição total dos espetáculos, mas a proposta ficou pela discussão na generalidade, com os restantes partidos a acusar o PAN de estar contra a imposição de uma vontade significativa dos portugueses. Também em 2018, quase a fechar o ano, as bancadas do CDS, PSD e PCP aprovaram o IVA de 6% nas touradas.
Para Hélder Milheiro, a diminuição do número de espetáculos tem sobretudo a ver com os anos de crise económica. “A partir de 2016, começou uma fase de retoma económica e as pessoas sentiram uma folga no bolso e retomaram o consumo e o investimento em tauromaquia”, disse, adiantando que “sempre que existe expansão económica, há uma fase de grande expansão de espetáculos e de espetadores”.
Em relação ao crescente número de espetadores, há um dado novo a acrescentar. Hélder Milheiro explicou ao i que a tendência crescente de espetadores que se verificou nos últimos anos, muito provavelmente, vai verificar-se também no ano de 2019. “Ainda é um número preliminar, mas até ao dia 4 de julho realizaram-se 89 espetáculos e verificou-se um crescimento de 25% dos espetadores” em relação ao período homólogo do ano passado. E, alerta um dos responsáveis pela Associação Portuguesa de Tauromaquia, ainda não se registou o pico dos espetáculos, que deverá acontecer entre os dias 15 de agosto e 15 de setembro, período em que se registam “em média, 20 espetáculos por semana”.
Há ainda outra tendência a apontar: o número de espetadores que assistem na televisão às corridas de touros que são transmitidas em direto. Na última sexta-feira, a exibição da Corrida de Touros de Tomar deu a liderança das audiências à RTP1 durante o horário de transmissão, com um total de 455 mil telespetadores. No ano passado, a XXII Grande Corrida TV Norte, transmitida também pelo canal público, bateu igualmente recordes de audiências, com 460 mil espetadores.