“Só quero um trabalho que pague as contas”


Por mero acaso, foi-me parar às mãos um romance escrito por uma jovem “influenciadora”. O tema não me interessava muito mas, por curiosidade, abri uma página ao calhas. Foi aí que encontrei a frase que serve de título a esta crónica, seguida de um chorrilho de queixas sobre o pai da personagem do livro (não…


A autora é uma millennial e o que não faltam são estudos e textos sobre a relação dos millennials com o mercado de trabalho. Antes do mais, é importante percebermos o que é isso de ser um millennial. A doutrina diverge, mas a maioria dos especialistas apontam para jovens nascidos entre 1981 e 1997. No entanto, havendo 16 anos de diferença, existem vários subgrupos. Supostamente, eu, por exemplo, encontro-me exatamente a meio.

Se fizerem uma pequena pesquisa vão encontrar os tais estudos de que falo e perceber que há vários fatores distintivos desta geração, no que ao mercado de trabalho diz respeito: não procuram empregos para a vida; não procuram enriquecer rapidamente; não valorizam a aquisição de bens materiais como carros ou casas; importam-se com as posições sociais, ambientais e inclusivas das empresas onde trabalham e das marcas que consomem; valorizam as experiências e gostam de ter tempo para experimentar coisas, portanto, não estão para colocar o trabalho como a primeira prioridade das suas vidas.

Quem me conhece sabe que é muito difícil ver-me como millennial. Tenho um orgulho brutal nos meus pais, precisamente por sempre terem trabalhado muito. Adoro trabalhar, empreender e fazer as coisas acontecerem. Gosto de carros quase tanto como de viajar ou experimentar bons restaurantes. Acho que as empresas devem ser modernas e inclusivas – mas acho também que é importante que tenham uma cultura de trabalho e de elevada exigência.

A minha maneira de ser e o meu percurso profissional fazem-me olhar para esta geração com desconfiança e, confesso, também com um certo medo do futuro. Custa-me perceber que o ócio seja mais importante que o trabalho, arrepia-me esta coisa urbano-depressiva das coitadas das “marias madalenas” que sempre tiveram tudo mas sofreram imenso porque os pais tinham de trabalhar muito, tenho dificuldade em entender o querer ter muitas “experiências” em vez de se focarem em saírem de casa dos pais e seguirem com a sua vida, e assusta-me o acharem que a realização profissional é algo meramente monetário, e não uma forma de realização pessoal.

Em abril, o Eco noticiou um interessantíssimo estudo da Randstad que define os millennials como a geração dos “otimistas” e onde alerta para a chegada em breve da geração Z ao mercado de trabalho, conhecida por serem os realistas. Aliás, o título da notícia é: “A geração Z vai trazer de volta o culto do trabalho”. Ao que parece, o facto de terem crescido na crise faz com que esta nova geração valorize mais o trabalho, a segurança laboral, os escritórios físicos e até mesmo o ter um trabalho para a vida – tornando-a muito próxima, na forma de encarar o trabalho, da geração dos seus pais – os tão mal-afamados workaholics.

A ser verdade esta transformação, o que acontecerá aos millennials? Serão esmagados por uma geração workaholic ainda no ativo e outra que começará em breve a entrar no mercado? Irão eles mesmo sofrer uma mutação, após saírem de casa dos pais aos 20 e tal ou 30 anos, e começarão a valorizar mais a carreira e o culto do trabalho? São perguntas muito interessantes, mas são também um aviso à navegação: antes do mais, às empresas, que têm de estar em constante atualização, e depois às famílias, que devem pensar hoje a forma de educarem os profissionais do amanhã.

 

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“Só quero um trabalho que pague as contas”


Por mero acaso, foi-me parar às mãos um romance escrito por uma jovem “influenciadora”. O tema não me interessava muito mas, por curiosidade, abri uma página ao calhas. Foi aí que encontrei a frase que serve de título a esta crónica, seguida de um chorrilho de queixas sobre o pai da personagem do livro (não…


A autora é uma millennial e o que não faltam são estudos e textos sobre a relação dos millennials com o mercado de trabalho. Antes do mais, é importante percebermos o que é isso de ser um millennial. A doutrina diverge, mas a maioria dos especialistas apontam para jovens nascidos entre 1981 e 1997. No entanto, havendo 16 anos de diferença, existem vários subgrupos. Supostamente, eu, por exemplo, encontro-me exatamente a meio.

Se fizerem uma pequena pesquisa vão encontrar os tais estudos de que falo e perceber que há vários fatores distintivos desta geração, no que ao mercado de trabalho diz respeito: não procuram empregos para a vida; não procuram enriquecer rapidamente; não valorizam a aquisição de bens materiais como carros ou casas; importam-se com as posições sociais, ambientais e inclusivas das empresas onde trabalham e das marcas que consomem; valorizam as experiências e gostam de ter tempo para experimentar coisas, portanto, não estão para colocar o trabalho como a primeira prioridade das suas vidas.

Quem me conhece sabe que é muito difícil ver-me como millennial. Tenho um orgulho brutal nos meus pais, precisamente por sempre terem trabalhado muito. Adoro trabalhar, empreender e fazer as coisas acontecerem. Gosto de carros quase tanto como de viajar ou experimentar bons restaurantes. Acho que as empresas devem ser modernas e inclusivas – mas acho também que é importante que tenham uma cultura de trabalho e de elevada exigência.

A minha maneira de ser e o meu percurso profissional fazem-me olhar para esta geração com desconfiança e, confesso, também com um certo medo do futuro. Custa-me perceber que o ócio seja mais importante que o trabalho, arrepia-me esta coisa urbano-depressiva das coitadas das “marias madalenas” que sempre tiveram tudo mas sofreram imenso porque os pais tinham de trabalhar muito, tenho dificuldade em entender o querer ter muitas “experiências” em vez de se focarem em saírem de casa dos pais e seguirem com a sua vida, e assusta-me o acharem que a realização profissional é algo meramente monetário, e não uma forma de realização pessoal.

Em abril, o Eco noticiou um interessantíssimo estudo da Randstad que define os millennials como a geração dos “otimistas” e onde alerta para a chegada em breve da geração Z ao mercado de trabalho, conhecida por serem os realistas. Aliás, o título da notícia é: “A geração Z vai trazer de volta o culto do trabalho”. Ao que parece, o facto de terem crescido na crise faz com que esta nova geração valorize mais o trabalho, a segurança laboral, os escritórios físicos e até mesmo o ter um trabalho para a vida – tornando-a muito próxima, na forma de encarar o trabalho, da geração dos seus pais – os tão mal-afamados workaholics.

A ser verdade esta transformação, o que acontecerá aos millennials? Serão esmagados por uma geração workaholic ainda no ativo e outra que começará em breve a entrar no mercado? Irão eles mesmo sofrer uma mutação, após saírem de casa dos pais aos 20 e tal ou 30 anos, e começarão a valorizar mais a carreira e o culto do trabalho? São perguntas muito interessantes, mas são também um aviso à navegação: antes do mais, às empresas, que têm de estar em constante atualização, e depois às famílias, que devem pensar hoje a forma de educarem os profissionais do amanhã.

 

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