1. Há quem pense que ter o melhor de dois mundos é impossível. Não é verdade na política em Portugal. O Bloco de Esquerda é o albergue onde é possível, com cara alegre para uns efeitos e ar de zangado e condoído para outros, conforme a circunstância. Nuns dias, o BE é membro de uma geringonça de esquerda e tem apoiado o Governo socialista de forma ativa e consistente, viabilizando os Orçamentos e as medidas de fundo que assentam numa política de austeridade encapotada, digna da troika mas mais cínica, porque disfarçada com cativações, cortes em serviços do Estado, penalizações em pensões e pesadíssimos impostos. Noutros, o Bloco lança críticas histéricas ao PS, propondo medidas e leis impraticáveis ou que nunca serão aceites pelo parceiro socialista. É teatro político. É estar e não estar, para ficar sempre bem na fotografia. Se fossem de direita, os bloquistas eram apelidados de populistas. Mas será que não são?
A estas contradições políticas somam-se exemplos negativos de postura de vida. O caso Robles foi paradigmático e grave, consubstanciado num político e vereador da Câmara de Lisboa que se assumia contra a especulação imobiliária e a multiplicação de alojamentos locais mas era, afinal, um investidor e promotor imobiliário de um ramo que, por sinal, até tem valido a muita gente para sobreviver com trabalho. O caso pôs a nu uma sistemática contradição entre o que se proclama e o que se faz. Ora, na política, quando se apregoam valores, não há espaço para contradições.
Situações dessas são lamentáveis, mas existem também nos comunistas, que estão em disputa com o Bloco como se viu no recente boicote do PCP a Marisa Matias, impedindo-a de presidir ao grupo parlamentar Esquerda Unitária Europeia. O PCP de hoje ainda se mantém fiel à Rússia e à China, duas tiranias profundamente capitalistas, mas que emergiram de regimes comunistas. Na base desta subordinação está uma cultura anti-imperialista americana nascida do estalinismo. E não vale a pena dizer que é a América de Trump (um tipo repugnante) que está em causa, porque este ódio manteve-se no tempo de Obama e de Clinton.
2. O Montepio é uma enorme preocupação do nosso sistema económico e financeiro. Sofre, desde logo, de falta de estabilidade governativa. A associação mutualista não tem os seus órgãos sociais aceites oficialmente. O banco respetivo não tem o conselho de administração completo e a seguradora Lusitânia não tem conselho de administração nomeado. A esta jeitosa coleção soma-se mais de 14% de crédito malparado e um rácio de provisões para perdas futuras muito alto. Aguardam-se as contas consolidadas do universo Montepio, nas quais deve confirmar-se uma preocupante descida substancial dos capitais próprios. A degradação do Montepio acentuou-se, recorde-se, sob a tutela do ministro Vieira da Silva, responsável pela área mutualista, que entretanto se libertou, transferindo-a para a ASF, a supervisora dos seguros e fundos de pensões. Só nos falta um dia ver este Silva, numa comissão de inquérito do Parlamento, dizer que não sabia ou que não se lembrava do que se passava no Montepio, onde pontifica o seu amigo Tomás Correia. Entretanto, os novos dirigentes da ASF pediram elementos pessoais suplementares sobre responsáveis do Montepio. Esperemos que o regulador não deixe de se pronunciar rápida e cabalmente sobre o que se passa no grupo mutualista. É que há rumores de que Tomás Correia pode sair sem uma avaliação objetiva da sua gestão por via da obrigatória revisão dos estatutos, que deve ocorrer em agosto e obriga a novo processo eleitoral até ao fim do ano. Sair de fininho seria um descrédito total para o Montepio e a própria ASF.
3. Álvaro Amaro tomou posse ontem como deputado europeu. Como ficou expresso no final da sua ida ao tribunal de Viseu pelas declarações do seu advogado, o ex-presidente da Câmara da Guarda não está acusado do crime de corrupção. Ele há fontes e jornalistas que insistem sempre na mesma metodologia: tentar queimar na praça pública certas pessoas, sabendo que até as coisas se esclarecerem passam sempre muitos anos. Veja-se o que fizeram a Miguel Macedo.
4. Vejamos algumas provas recentes do estado de “prosperidade” a que chegámos. Houve quem esperasse oito minutos para ser atendido telefonicamente pelo INEM quando o tempo deveria ser sete segundos. Outros desistiram e não foram contactados de volta pelo serviço de emergência. No SNS, onde médicos e enfermeiros estão em greves simultâneas nestes dias, os pagamentos em atraso aumentaram 100 milhões de euros em dois meses. Estamos na fase mais perigosa de incêndios. Temos 40 meios aéreos de combate disponíveis quando devíamos ter 60, segundo promessa do Governo. Em 2018 emigraram 81 754 portugueses, mais 703 do que em 2017. No mandato socialista desertaram cerca de 260 mil compatriotas do cantinho à beira-mar plantado. As famílias pagaram mais 250 milhões de IRS. O Instituto de Medicina Legal é credor de 25 milhões de euros em perícias realizadas. Já (grande lata) só há 43 mil atrasos na atribuição de pensões. A Caixa Geral de Depósitos está, na prática, a levar dinheiro para guardar as economias de cada um no banco do Estado. Em contrapartida, os seus gestores vão receber 655 mil euros de prémios. E ainda há quem se queixe. Malandros e ingratos!
5. Há muitas Marias na terra. Mas há uma MARIA especial, nascida em Aveiro. Trata-se do Movimento de Amigos da Ria de Aveiro. É um fórum destinado a inventariar, intervir e refletir sobre as questões que digam respeito à defesa e respeito do ecossistema da Ria. Esta organização é um fator de agregação essencial das diversas vontades e movimentos que já existem. Espera-se que tenha efetiva capacidade de ser ouvida por quem tem a obrigação de defender o ambiente nos municípios de Albergaria-a-Velha, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Mira, Murtosa, Ovar e Vagos, numa lógica colaborativa e de defesa do bem-estar.
Escreve à quarta-feira