PSD entre o inferno e o desastre: Rui Rio já atirou a toalha ao chão


A escolha de Filipa Roseta foi essencialmente motivada por uma razão: fazer concorrência a Assunção Cristas. É assim: Rui Rio tem uma obsessão anti-CDS/PP. Rio detesta o centro-direita e a direita. Está provado: a sua paixão cega por António Costa está interferindo com o seu bom juízo político.


1. É a única dúvida que resta quanto ao veredicto eleitoral do próximo dia 6 de outubro: se o PSD conhecerá o inferno eleitoral ou um mero desastre histórico. Rui Rio já desistiu de ganhar as eleições, concentrando-se agora no pós-outubro – que o mesmo é dizer que o presidente dos sociais-democratas só equaciona a forma de se manter na liderança do partido, mesmo no cenário de uma derrota desastrosa. A escolha dos cabeças-de-lista em quatro distritos evidencia à exaustão a descrença (e falta de vontade para contrariar o destino que ele desenhou) de Rui Rio no seu próprio sucesso: os nomes já conhecidos provam que iremos ter na Assembleia da República – infelizmente – um PSD à imagem de Rio nos próximos anos. Isto é: um PSD de perfil baixo na oposição, que procurará concórdias inconsistentes em vez de se assumir como alternativa consistente, que sofrerá do complexo de ser de centro-direita, lançando juras de amor eterno à esquerda. Numa palavra: um PSD absolutamente distante do seu eleitorado, mas muitíssimo próximo do PS de António Costa. Um PSD visceralmente inútil para os portugueses mas, ao mesmo tempo, profundamente útil para os interesses e conveniências de António Costa.

2. Será que os nomes escolhidos não têm mérito e talento? Com certeza que têm – o percurso profissional, académico e até político dos quatro nomes conhecidos até ao momento habilitam-nos a integrar as listas do PSD ao Parlamento. Já quanto ao talento político, ainda está por provar, e iremos analisar com muita atenção as suas intervenções no futuro. Sim, porque quem é cabeça-de-lista no Porto, em Lisboa, em Coimbra, em Braga e (para nós, especialmente) em Aveiro tem o dever – que não apenas o direito ou a faculdade jurídico-política – de intervir. De dar a cara. De ter pensamento próprio, dentro de uma lógica de articulação política, visando um objetivo comum – que normalmente seria ganhar eleições mas que, bizarramente, com Rui Rio é perder por pouco (ou melhor, obter o resultado menos mau possível). Por outro lado, tem-se afirmado que os nomes conhecidos representam uma renovação política, tendo-se a comunicação social de esquerda (claro, não poderia deixar de ser, já todos percebemos o filme…) enredado em longos e exaustivos encómios às escolhas de Rui Rio, porque refrescantes da classe política.

3. Ora, na verdade, as escolhas de Rio representam, apenas e só, um enorme tributo às opções de Pedro Passos Coelho. É um prolongamento ou continuidade do passismo. Porquê? Fácil: Margarida Balseiro Lopes não é renovação, é continuidade. Então Balseiro Lopes já não é deputada na atual legislatura? Tanto quanto sabemos, é deputada, tendo-se candidatado em 2015 também pelo distrito de Leiria, por opção de Pedro Passos Coelho… E Filipa Roseta? Filipa Roseta (cuja eleição poderá gerar uma situação insolitamente carinhosa de vermos a filha a fazer oposição à mãe, Helena Roseta, do PS, em plena Assembleia da República – até nisto Rui Rio é perfeito para Costa: Carlos César junta famílias; Rio mete famílias interpartidárias em desavença, desviando as atenções das famílias socialistas) é vereadora da Câmara Municipal de Cascais, liderada pelo braço-direito de Passos Coelho, Carlos Carreiras. Portanto, é mais um quadro do passismo que é aproveitado pela atual (fraca) liderança do PSD. Renovação? Sim, houve em 2015, feita por Pedro Passos Coelho; cumpre, pois, elogiar o anterior primeiro-ministro de Portugal pela renovação política efetuada, com efeitos retroativos.

4. Acresce que os resultados desastrosos do PSD em Lisboa nas duas últimas eleições justificariam uma aposta politicamente forte neste distrito – até porque o PS terá António Costa. Dir-se-á que o cabeça-de-lista é irrelevante; os cidadãos votam, na prática, no líder partidário que querem como primeiro-ministro. Contudo, nem sempre é assim: basta evocar o efeito galvanizador que a escolha de Fernando Nobre como cabeça-de-lista por Lisboa, em 2011, gerou em benefício do PSD de Pedro Passos Coelho. Os cabeças-de-lista – com o seu peso político pessoal – podem contribuir para a criação de dinâmicas de vitória. Parece-me que a escolha de Filipa Roseta foi essencialmente motivada por uma razão: fazer concorrência a Assunção Cristas. É assim: Rui Rio tem uma obsessão anti-CDS/PP. Rio detesta o centro-direita e a direita. Está provado: a sua paixão cega por António Costa está interferindo com o seu bom juízo político.

5. Uma derradeira questão se impõe: fala-se muito de renovação, de independência de pensamento, de liberdade dos nomes escolhidos face às velhas lógicas partidárias. Pois bem, esperamos, neste sentido, que os cabeças-de-lista do PSD às legislativas de outubro venham clarificar se assinaram aquele compromisso de lealdade absoluta, quase submissão política e intelectual, que Rui Rio exige aos candidatos a deputados. Porque a renovação política é incompatível com velhas práticas censórias do passado. A virtude política não se enuncia nem se proclama aos sete ventos; pratica-se.

6. E é assim, pouco felizes e nada contentes, que nós, patriotas do PPD/PSD, caminhamos para as eleições de outubro: o nosso partido, sob a batuta de Rui Rio (o homem que se está marimbando para isto tudo, como se provou pela sua ausência na reunião do PPE para decidir o futuro da Europa), terá ou um resultado infernal ou um resultado desastroso. Como foi possível tornarmo-nos o partido remix do poucochinho? Resta saber se será possível regenerar o PPD/PSD para o futuro… Não será fácil; todavia, confiamos – sabemos! – que estaremos à altura.

 

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