Sucede que o jovem – muito corpulento – teve um azar dos Távoras, e logo num dos primeiros jogos, por sinal contra um dos grandes rivais, deu um frango monumental.
Esta circunstância, a juntar à enorme quantia paga por ele, fez com que se tornasse o patinho feio da Luz. E Luís Filipe Vieira, o responsável pelo negócio, foi posto no banco dos réus.
No fim da temporada, dado o ambiente criado à sua volta – e mais alguns enormes frangos à mistura –, tornava-se impossível manter Roberto na Luz. Mas como despachá-lo, depois da época desastrosa? Quem daria um cêntimo por ele? Enganavam-se os que assim pensavam. Subitamente, aparece alguém disposto a pagar pelo rapaz 9 milhões! Nem mais, nem menos. Vieira pôde ser o último a rir: o Benfica ainda ganhava dinheiro com o jogador.
Vem isto a propósito da estranha transferência de João Félix. O presidente do Benfica começou por dizer que não o venderia – e, para ilustrar a sua determinação, fixou-lhe uma cláusula de rescisão inatingível: 120 milhões de euros.
Era, obviamente, um preço muito acima do que alguém estaria disposto a pagar por ele. Se Ronaldo fora transferido por 100 milhões, se Hazard estava para ser transferido por 100 milhões, quem iria pagar 120 milhões por um miúdo de 19 anos que ainda dera poucas provas e na seleção fora um fiasco?
Pois bem: como por encanto, apareceu o Atlético de Madrid disposto a dar esse dinheiro! Um jogador praticamente desconhecido fora de Portugal – e que mesmo em Portugal só era conhecido há seis meses – tornava-se a quarta maior transferência de sempre do futebol mundial. Fantástico!
Falando mais a sério, se do ponto de vista das provas dadas a transferência faz pouco sentido, do ponto de vista do clube de Madrid não faz sentido nenhum. Tendo vendido a sua estrela Antoine Griezmann por 120 milhões, o que faria sentido era ir buscar um jogador mais barato para a posição. Ora, gastou num miúdo que é um grande ponto de interrogação tudo o que ganhara com a venda da sua grande vedeta. Dito de outro modo, trocou o certo pelo incerto.
Por isso chamei a esta transferência intrigante um “negócio à moda de Vieira”. Os 120 milhões foram a maneira de calar os sócios pela venda do jogador. Mas, bem vistas as coisas, se o presidente encarnado foi capaz de vender por 9 milhões um guarda-redes cuja grande especialidade era dar frangos, não espanta que consiga vender por 120 milhões um jovem promissor…