O governo do faz-de-conta


António Costa e a geringonça não fizeram a maior parte do que prometeram, mas já prometem ainda mais coisas que também não farão se ganharem as legislativas.


1. António Costa é o grão-mestre do faz- de-conta ou, se se preferir, do faz que faz mas não faz. Quem ouvisse os noticiários radiofónicos desta segunda-feira tomava conhecimento de três ilusões concretas. Primeiro, que se confirmava que as taxas moderadoras não vão mesmo acabar totalmente nos centros de saúde no ano que vem, apesar da solene promessa da geringonça e do apoio parlamentar. Quando muito, a extinção será feita a prestações, ou seja, lá para o dia de São Nunca à tarde. Segundos depois, outra notícia explicava que o Governo Costa/Catarina/Jerónimo não acabou com o pagamento da taxa de subsolo, ao contrário do que tinha inscrito no Orçamento de 2017, que aprovaram em espírito de unidade. As famílias continuam assim a ter esse encargo suplementar nas suas faturas de energia. Ainda no mesmo espaço informativo da manhã, que mediava entre as oito e as oito e 15, ouvia-se, atónito, a notícia de que as obras de fundo de transformação do IP3 (a estrada da morte que passa por Viseu) só vão arrancar em 2023, segundo informação prestada pela Infraestruturas de Portugal. Ou seja, começarão quando deveriam estar completadas, caso se cumprisse a promessa feita pelo ex-ministro Pedro Marques, o tal que foi escolhido para ser cabeça-de-lista do PS ao Parlamento Europeu, onde terá vida repimpada e sem a moléstia de aturar os populares que aldrabou. Os três exemplos citados foram ouvidos circunstancialmente num primeiro dia da semana. Mas podiam ser em dezenas ou centenas de outros que ocupariam dramaticamente horas de noticiários audiovisuais ou centenas de páginas de jornais. O Governo Costa já prometeu tudo. Prometeu reformas e pensões melhores, mas tarda em pagá-las e agravou as penalizações de acesso. Gerou uma Segurança Social incompetente. Prometeu reposições salariais, mas aumentou de tal forma os impostos diretos e indiretos que elas foram engolidas. Prometeu mais saúde, mas o SNS está colapsado, ao ponto de encontrar um médico num hospital público à tarde ser como procurar agulha num palheiro. Prometeu acudir às vítimas dos incêndios, mas poucos foram os que receberam apoios. Prometeu e lançou passes mais baratos mas, em contrapartida, há menos transportes e os passageiros são prejudicados no descanso e nos atrasos ao trabalho. Isto para não falar dos serviços da administração pública, que pura e simplesmente não funcionam minimamente para as coisas mais básicas, salvo, claro está, o fisco. Não é preciso ser exaustivo para concluir que Portugal não anda nada bem. O Governo de António Costa criou uma situação de paralisia nas estruturas essenciais do país. Ainda por cima, toda a máquina do PS, o Governo e os seus parceiros de geringonça entraram definitivamente em modo de propaganda eleitoral acelerada. E isso torna as coisas ainda mais complicadas para os cidadãos. É que nos próximos meses vão somar-se novas promessas utópicas às muitas que não foram cumpridas até agora.

Face a tudo o que vivemos quotidianamente, não se pode estranhar que, por mais que António Costa e Mário Centeno tentem dourar a pílula apresentando até contas públicas com superávite, os dados oficiais e internacionais (como os do Eurostat) indiquem que o nosso nível de prosperidade divergiu pelo segundo ano consecutivo em relação ao dos nossos parceiros europeus. Estes elementos comparativos são essenciais para se ter uma ideia real e não manipulada da situação de um país, uma vez que internamente há muitas formas de iludir os povos. Outro elemento que veio a público recentemente indicava que um cabaz de bens essenciais comprado em Portugal tem um preço sensivelmente igual ao dos outros países europeus. Pagamos o mesmo, mas ganhamos muito menos. Isto apesar de os portugueses serem dos povos europeus que mais horas trabalham e mais tempo gastam nas suas deslocações para ir para o emprego.

2. Angela Merkel já não volta a candidatar-se a chanceler da Alemanha. Nascida e criada na Alemanha de Leste, num regime totalitário comunista, Merkel evoluiu para a direita e foi parar, depois da queda do Muro da Vergonha, à CDU lá do sítio, um partido democrata cristão no qual integrou a ala mais direitista. Durante os seus mandatos, Merkel voltou a mudar muito. De uma radical defensora de intervenções duras como as da troika na Grécia e cá evoluiu para uma linha mais moderada e quase social- democrata, tendo mesmo concretizado uma aliança de governação com o SPD. O momento mais inesperado da mudança deu-se, porém, quando a chanceler não desenvolveu uma política antirrefugiados, dando primazia à preocupação humanitária, o que lhe criou muita hostilidade. Hoje é uma figura política diferente. Abandonou, por exemplo, a defesa da energia nuclear. A ainda chanceler alemã é das poucas referências positivas da Europa. Por isso, é certamente uma escolha a considerar para a liderança política da união. Dir-se-á que é dar ainda mais poder à Alemanha, o que pode ser perigoso. Talvez, mas em vez de um verbo-de-encher teríamos uma figura mundialmente reconhecida à frente do maior e mais complexo espaço político-económico do planeta.

3. Cuidado com as distrações bancárias. Na tática militar e política, as manobras de diversão são essenciais para criar surpresas ao adversário. Há que estar prevenido contra essas estratégias clássicas. No mundo das finanças, também. Enquanto olhávamos para o BPN rebentava o BES, e enquanto nos preocupávamos com o BES estoiravam o Banif e a CGD. Agora andámos a estudar os antigos casos da Caixa, mas cabe perguntar como vão as coisas noutros sítios como, por exemplo, o Montepio e a própria CGD, na qual a gestão de Paulo Macedo está a ultrapassar todas as marcas de ultraliberalismo. Não há dia em que Macedo não corte uma função de serviço público ou não prejudique os depositantes que fogem dos perigos privados. Quem se preocupa? Quem acode aos contribuintes e depositantes da CGD e do Montepio. Afinal, o que é isto?

 

Escreve à quarta-feira