Dez dias depois do pontapé inicial, está encerrada a fase de grupos da Copa América, que este ano se joga em território brasileiro. O período não foi longo mas, ainda assim, houve lugar a uma variedade enorme de sensações, nomeadamente no seio dos dois maiores países – futebolisticamente falando – do continente sul-americano: Brasil e Argentina.
No caso da canarinha – e esquecendo os episódios com Neymar, que ficou de fora da competição por uma lesão sofrida poucos dias antes do arranque, numa fase em que enfrentava também problemas pessoais, sendo acusado de violação –, nem se pode dizer que a entrada tenha sido má. Muito longe disso: o Brasil venceu a Bolívia por 3-0 na primeira ronda. A seleção orientada por Tite não se livrou, ainda assim, de ouvir assobios dirigidos pelos próprios adeptos, que não esconderam o descontentamento com a exibição, sobretudo na primeira parte.
O sentimento agravou-se no segundo encontro, frente à Venezuela (0-0). O escrete até esteve melhor do que na partida inicial, com grande ascendente sobre o adversário, mas não conseguiu materializar em golo as oportunidades criadas. Ou melhor: conseguiu, e por três ocasiões, mas todos os golos foram anulados por irregularidades cometidas por Roberto Firmino – falta no primeiro e fora-de-jogo nos outros dois, ambos assinalados com recurso ao VAR.
Na ronda decisiva, porém, o horizonte voltou a ficar mais risonho. O Brasil bateu o Peru por claros 5-0, assegurando o primeiro lugar do grupo A e fazendo as pazes com os adeptos que, como é hábito num desporto movido tantas vezes pelas emoções, passaram da descrença à euforia: agora, a canarinha já voltou a ser vista como favorita à conquista da “sua” Copa América – uma prova que não vence desde 2007. Pela frente terá agora o Paraguai, outra equipa envolta num sentimento de profunda desilusão, que conseguiu passar com apenas dois pontos, sendo um dos “melhores terceiros” por ter um saldo de golos melhor que o convidado Japão.
Os japoneses tiveram tudo para seguir em frente numa prova onde se apresentaram com uma seleção “olímpica”, com a maioria dos integrantes a ter menos de 23 anos. Apesar da entrada em falso (0-4 com o Chile), o empate com o Uruguai (2-2, com excelente exibição do conjunto nipónico) deixava os quartos-de-final à distância de uma vitória. Que não chegou, mesmo com o golo logo aos 15 minutos de um velho conhecido do futebol português: Nakajima, ex-Portimonense. Mena empatou para o Equador e o resultado não viria a sofrer mais alterações, ditando a eliminação dos dois conjuntos.
Messi e o eterno debate No caso da seleção argentina, não se pode dizer que tenha passado a ser apontada como favorita. Melhorou, ainda assim, nas perspetivas com o triunfo sobre o Catar (2-0), que valeu o apuramento, depois da derrota inicial frente à Colômbia de Carlos Queiroz (0-2) e do empate sensaborão perante o Paraguai (1-1), que provocaram mais uma vez convulsões internas – e dúvidas, como sempre, relacionadas com a capacidade de Messi para pôr em prática com a camisola do seu país a qualidade que demonstra no Barcelona.
Segue-se agora a Venezuela, que tem feito uma competição interessante, com empates ante adversários teoricamente mais cotados e a vitória final sobre a muito fraca Bolívia que lhe garantiu a qualificação. Caso siga em frente, e o Brasil supere o Paraguai, haverá lugar a um embate entre canarinha e alviceleste nas meias-finais, no que será o reavivar de uma rivalidade histórica e sempre muito aguardada.
Esse é o cenário para o lado esquerdo da chave dos quartos. Do lado direito, o mediatismo dos integrantes não é o mesmo, mas a competitividade não fica a dever em nada. Ao vencer o confronto direto na última ronda do grupo C, o Uruguai ultrapassou o Chile e garantiu o embate contra o Peru na próxima ronda, atirando os chilenos, bicampeões em título, para a frente da Colômbia.
É preciso, de facto, realçar o trajeto dos cafeteros numa prova até agora imaculada. Sob o comando de Carlos Queiroz, a seleção colombiana começou por sair a sorrir do jogo teoricamente mais complicado do grupo B, vulgarizando a Argentina, e limitou-se depois a cumprir os serviços mínimos, vencendo Catar e Paraguai por duplo 1-0. James Rodríguez, Falcao ou Cuadrado são os destaques mais óbvios, mas Duván Zapata, Roger Martínez ou Wilmar Barrios também se têm exibido a grande nível.
“Teremos daqui a cinco dias a nossa primeira final. Para nós, todos os jogos a partir de agora serão como finais, porque estamos do lado de todos os favoritos, à exceção do Brasil”, salientava Carlos Queiroz após ver confirmado o terceiro triunfo noutros tantos jogos. E com propriedade: se conseguir superar o Chile, vencedor das duas últimas edições da prova (2015 e 2016, ambas no desempate por grandes penalidades e ambas frente à Argentina), a Colômbia enfrentará o vencedor do embate entre Uruguai e Peru – um confronto em que o favoritismo recai quase totalmente nos uruguaios, que detêm o recorde de conquistas da competição (15, contra 14 da Argentina e oito do Brasil).