O investigador especial das Nações Unidas para a Pobreza, Philip Alston, alertou para a gravidade das consequências das alterações climáticas, notando que “milhões ficarão empobrecidos” mesmo que as atuais metas estabelecidas no Acordo de Paris sejam cumpridas. Alston, um dos redatores do relatório entregue ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, fala num provável “apartheid climático” em que os ricos pagam para escapar à fome “enquanto o resto do mundo é deixado em sofrimento”, por entre um aumento dos conflitos por recursos e de migrações em massa – com o número de refugiados climáticos a poder chegar aos mil milhões de pessoas até 2050.
Segundo o relatório, os países menos desenvolvidos sofrerão pelo menos 75% dos custos das alterações climáticas, enquanto a metade mais pobre da população mundial apenas produz cerca de 10% das emissões de gases com efeito de estufa. Um dos exemplos dados desta desigualdade foi o do furacão Sandy, que atingiu Nova Iorque em 2012, deixando a maioria dos cidadãos sem eletricidade, enquanto “a sede da Goldman Sachs era protegida por dezenas de milhares de sacos de areia e pela energia dos seus próprios geradores”, ao mesmo tempo que “bombeiros privados eram enviados para salvar mansões” dos mais ricos.
Outro bom exemplo desta disparidade é o ciclone Idai, que atingiu Moçambique em março e foi o pior de sempre na história registada da África oriental – sendo relacionado com as consequências das alterações climáticas. Além da intensidade do próprio ciclone, a fragilidade do Estado moçambicano sentiu-se na pouca capacidade de reação, deixando as ações de salvamento dependentes da ajuda internacional.
O alerta é dado há muito, mas tem caído em saco roto, segundo o relatório de Alston. “Os discursos sombrios de funcionários governamentais em conferências regulares não estão a levar a ações significativas”, à semelhança dos “30 anos de convenções” ambientais, escreveu. As críticas dirigiram-se aos culpados do costume: os negacionistas das alterações climáticas, como o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Mas não se ficaram por aí, apontando o dedo ao próprio Conselho dos Direitos Humanos, que acusam de “pedir relatórios que não levam a lado nenhum, pedir a outros que façam mais mas fazendo pouco ele próprio, adotando resoluções abrangentes mas inconclusivas”.