Pedro Marques Lopes: o presente de Rui Rio a José Sócrates (que banhada de ética!)


Está a brincar connosco? Está a gozar com os militantes do PPD/PSD? Quer ofender os portugueses? É que Pedro Marques Lopes é – apenas e só! – o maior defensor de José Sócrates


1. É a bomba que já circula nos bastidores, que já teve eco nas redes sociais, lançando já a estupefação generalizada entre as hostes sociais-democratas: Rui Rio terá convidado Pedro Marques Lopes para integrar as listas do PSD (este período negro do partido não poderá ser objeto de qualquer confusão com o genuíno partido mais português de Portugal, PPD/PSD) às próximas legislativas, em outubro. Fala-se já mesmo que Marques Lopes será o cabeça-de-lista do partido de Rui Rio por Lisboa ou por Braga. E os factos indiciam a veracidade do rumor: primeiro, Pedro Marques Lopes foi a estrela da Convenção Estratégica Nacional do PSD de Rio sobre justiça, no passado dia 15 de Junho; por outro lado, Pedro Marques Lopes, segundo apurámos, já comunicou à direção de programas da SIC a sua indisponibilidade para continuar no programa de comentário futebolístico O Dia Seguinte (depois de tanto se ter esforçado por tramar Guilherme Aguiar para ocupar o seu lugar…) às segundas-feiras – e já colocou mesmo a sua continuidade no programa de comentário político em que intervém contingente à aprovação de Rui Rio.

 

2. Ora, se antes ainda queríamos acreditar que Rui Rio sempre rejeitaria qualquer tentativa de intromissão do PS no interior do PSD, a nossa ilusão termina aqui: a inclusão de Pedro Marques Lopes é uma cedência total, incondicional e ilimitada à vontade de António Costa. Marques Lopes significa a capitulação – completa, absurda e descarada – do PSD face ao pior PS, ou seja, ao PS dos interesses especiais. A confirmação da inclusão de Marques Lopes nas listas do PSD equivalerá à admissão – mais expressa do que tácita – por parte do líder do PSD de que quer um bloco central com António Costa. Mais: que encara com bons olhos uma espécie de fusão entre PS e PSD, formando um grande partido central (seja lá o que isso for), deixando a extrema-esquerda, o CDS/PP e os novos partidos da direita isolados. Com Pedro Marques Lopes nas listas, Rui Rio pretende sinalizar aos portugueses que é indiferente votar no PS ou no PSD – quem gosta de António Costa poderá votar no PSD de Rui Rio; quem até vê com bons olhos a atuação de Rui Rio poderá votar sem problemas em António Costa. António Costa conseguiu, pois, concretizar aquela que tem sido a sua vontade desde o verão de 2017 (lembram-se do nosso texto no Sol de análise a uma das entrevistas veraneantes de Costa?): infiltrar-se no PSD, tomando controlo da estratégia do partido, replicando o exemplo de… José Sócrates.

 

3. Pois bem, José Sócrates utilizou a mesma estratégia para tentar condicionar politicamente Pedro Passos Coelho: a colocação, pensada e refletida, de um submarino na equipa política mais próxima do líder do PSD. E quem foi esse submarino, em 2007 e, depois, em 2010? Pois bem, foi precisamente um figura pouco conhecida então que se apresentava como um especialista nato em comunicação… de seu nome Pedro Marques Lopes. Como é que Pedro Marques Lopes singrou no espaço mediático, tornando-se uma espécie de “estrela ca(n)dente” do comentário lusitano? Fácil: infiltrando-se no PSD, recolhendo informação politicamente relevante e confidencial da estratégia do partido (designadamente de Passos Coelho) e passando-a para os jornalistas amigos do PS de Sócrates. Consequentemente, José Sócrates teve sempre acesso privilegiado à agenda política, à estratégia e ao discurso do PSD antecipadamente – daí a sensação (que os mesmos jornalistas que eram beneficiários das informações confidenciais surripiadas ao PSD por Pedro Marques Lopes reforçavam) de que o PS anda sempre um passo à frente do PSD. Há até um episódio que é frequentemente citado nas bases do PSD sempre que se invoca o nome de Marques Lopes: no congresso do PSD, após Passos Coelho ter sido eleito líder, Pedro Marques Lopes entregou aos jornalistas – largos minutos antes da alocução aos portugueses – uma cópia do discurso integral do líder do partido. Escusado será dizer que, a partir desse momento, Pedro Marques Lopes virou figura querida dos jornalistas (de alguns…), começando a inundar o espaço mediático português, comentando desde cinema até política, passando por futebol e golfe.

4. Mais grave ainda é o facto de Rui Rio ter escolhido Pedro Marques Lopes para falar na convenção nacional do partido sobre justiça, em Coimbra. Sobre justiça? Sobre justiça, dr. Rio? Está a brincar connosco? Está a gozar com os militantes do PPD/PSD? Quer ofender os portugueses? É que Pedro Marques Lopes é – apenas e só! – o maior defensor de José Sócrates (hoje ultrapassando em radicalismo pró-Sócrates qualquer socialista…), continuando a tomar os famosos pequenos-almoços com o ex-primeiro-ministro acusado de corrupção. E que continua a alimentar a ideia de uma “intentona” dos “direitolas” do Ministério Público contra o ex-primeiro-ministro! E Rui Rio tem a desfaçatez, o topete, a falta absoluta de um mínimo ético de lucidez de nos impingir Pedro Marques Lopes na justiça! Rui Rio é acusado de querer politizar o Ministério Público – e vai buscar o homem (para a área da justiça, meu Deus!) que abertamente apregoa a politização da investigação criminal… para salvar, desde já, José Sócrates! Rui Rio convida para o seu grupo próximo Pedro Marques Lopes… o homem que ainda diz que José Sócrates dará um excelente Presidente da República! Ó Rui Rio, está a gozar connosco? Querem demonstração mais cabal de que Rui Rio está a vender – a preço de saldo! – o PSD aos mesmos interesses especiais que dominam o PS?

 

5. Pois qual será a racionalidade de convidar Pedro Marques Lopes, o homem que mais prejudicou o PPD/PSD nos últimos anos, que é um ídolo da ala mais extremista e menos recomendável do PS, para representar o PSD no Parlamento, falando sobre… justiça? José Sócrates está assistindo a tudo isto sentado no seu sofá de luxo (de Paris?), já com a garrafa de champanhe pronta para abrir… Quem diria que o melhor aliado de José Sócrates seria Rui Rio? Uma coisa é certa: se Pedro Marques Lopes entrar, de facto, nas listas do PSD, nós, pela primeira vez, não votaremos no partido. É uma questão de princípio: não votamos em José Sócrates e seus amigos; não fazemos alianças com o homem da bancarrota. E desafiaremos todos para colocar um ponto final na venda do PSD aos interesses especiais do PS em que Rui Rio está tão empenhado. Descer mais baixo que convidar Pedro Marques Lopes é impossível…

 

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