Lise. A história da espia mais condecorada da ll Guerra Mundial

Lise. A história da espia mais condecorada da ll Guerra Mundial


A francesa Odette Sansom era uma dona de casa com três filhas, vivia em Somerset e era casada com um homem inglês quando, em 1942, resolveu tornar-se agente do SOE – Executivo de Operações Especiais para ajudar a Grã-Bretanha e a França. Sob o nome de código de Lise, foi capturada pela Gestapo e sobreviveu…


1. O exemplo paterno

Nascida em França, em 1912, Odette Samson vivia com o marido e as três filhas em Inglaterra quando eclodiu a II Guerra Mundial. Em 1942, o conflito continuava sem fim à vista e Odette decide ajudar e seguir o exemplo do pai, que servira na Grande Guerra. É então admitida como espia do SOE, onde recebe um treino intensivo: aprende código Morse, técnicas de autodefesa e ainda como sobreviver a um interrogatório, habilidades que se tornariam essenciais durante o seu percurso como agente.

2. Amor em tempos de guerra

Após cinco tentativas – incluindo um acidente de aviação -, Lise conseguiu desembarcar em Cannes, França, ocupada pelas forças nazis, a 31 de outubro de 1942. Apresentou-se ao seu oficial superior, o capitão Peter Churchill (cujo nome de código era Raoul), e começa então a responder com bastante êxito às missões que lhe vão sendo atribuídas pelo SOE. Pelo caminho, Peter e Odette apaixonam-se. Terá sido esse romance que fez com que outro agente os entregasse às forças do Eixo. Em 1943 são detidos e enviados para uma prisão em Paris, e Lise é entregue à Gestapo. Interrogaram-na – e torturaram-na – 14 vezes. Mesmo quando lhe arrancaram as unhas, respondeu sempre a todas as questões da mesma forma: “Não tenho nada a dizer”.

3. Resiliência

Durante o cativeiro, Lise nunca quebrou. Prova disso é este pequeno episódio: certo dia foi chamada ao gabinete da prisão de Karlsruhe, onde foi apresentada a um jornalista do Völkischer Beobachter, uma publicação do partido nazi. Perante o seu silêncio, o repórter escarneceu: “Bem, Frau Churchill, ficará satisfeita por saber que já temos três Churchill nas nossas prisões alemãs. Estamos ansiosos pela chegada de mais um, o senhor Winston Churchill.” 

“Não vão ter de esperar muito tempo”, respondeu ela, “mas quando Winston Churchill vier a Berlim, não vai ser como pensam. Vai circular em triunfo entre o cascalho da vossa cidade”.

4. Ravensbrück 

Em julho de 1944, Lise é enviada para Ravensbrück, um campo de concentração feminino localizado a cerca de 90 quilómetros de Berlim. Aqui sobreviveu a um verdadeiro inferno: deixavam-na semanas sem comer, num bunker com o aquecimento central ligado no máximo. Noutras ocasiões deixavam-na gelar até à hipotermia. Contraiu escorbuto e tuberculose e foi deixada completamente no escuro durante três meses e 11 dias. Ficou quase completamente careca, com a pele coberta de chagas, os gânglios inchados como toranjas. Quando o seu corpo estava prestes a ceder, reanimavam-na com injeções. Aguentou o martírio sem entregar o nome de nenhum agente. 

5. O fim da guerra e do amor

Quando as forças dos Aliados entram na Alemanha, a 3 de maio de 1945, o diretor do campo de Ravensbrück, Fritz Suhren, resolve tentar escapar e usar Lise, pelas suas conexões com a família Churchill, como salvo-conduto. Quando a entrega aos militares norte-americanos, a espia ordena imediatamente a sua prisão. O comandante acabará enforcado por crimes de guerra. De volta ao Reino Unido, Odette e Peter acabam por se casar em 1947. O amor que também a fez superar o cárcere não teve um final feliz: divorciaram-se em 1956.

6. Um recorde de condecorações

Em 1946, Lise – já como Odette Sansom – foi agraciada com a George Cross por se ter recusado a trair os seus colegas sob tortura. Aceitou a condecoração – apenas uma de muitas – em nome dos camaradas que não tinham sobrevivido, disse na altura. Independentemente do sexo, tornou-se o agente do SOE mais condecorado da história da II Guerra Mundial.

7. Odette, o filme

Depois da guerra, a espia tornou-se uma heroína nacional ao ponto de, na década de 50, a sua história ter sido contada num filme que fez sucesso em Inglaterra e nos EUA. Apesar disso, fugiu sempre da fama. Morreu em 1995, aos 82 anos.