O Presidente turco, Recep Tayip Erdogan, apenas conseguiu mais uma derrota depois de forçar a repetição das eleições locais em Istambul, que se realizaram ontem. Erdogan perdeu a cidade onde começou a sua carreira política e que, nas últimas décadas, foi um bastião do seu partido, o AKP. Com praticamente todos os votos contados, o candidato do AKP, o antigo primeiro-ministro Binali Yildirim, concedeu a vitória ao candidato da oposição, Ekrem Imamoglu (do Partido Republicano do Povo, o CHP), que conseguiu 54% dos votos. Venceu por mais de 775 mil votos – aumentando a pequena margem de 13 mil votos que tinha conseguido em março.
“Quem vence em Istambul ganha a Turquia”, disse certa vez Erdogan, que em tempos foi presidente da Câmara da cidade – e que hoje deve estar preocupado com o futuro. Nem que seja por perder controlo do orçamento de Istambul – que o ano passado foi de 6,42 mil milhões de euros. Algo que não terá sido alheio ao anulamento das eleições de março, após a derrota do AKP, por suposta fraude eleitoral. “Até ontem, o Governo e o partido governante diziam que a Turquia tinha o mais credível sistema de voto”, disse Imamoglu aquando a anulação, acrescentando: “Estão a arranjar desculpas para o seu falhanço”.
Note-se que, até março, o candidato do CHP era praticamente desconhecido na arena política turca. Contudo, a polarização do país uniu as várias fações da oposição atrás da sua candidatura. Incluindo o partido curdo HDP, que abdica das candidaturas em regiões que não consegue ganhar, para criar uma frente única contra Erdogan. Agora, na repetição das eleições, o apoio ainda foi maior. “Fizeram-lhe [Imamoglu] uma injustiça, roubaram-lhe o mandato de presidente da Câmara. Fizeram muitas injustiças aos curdos também, portanto o Imamoglu compreende a situação”, disse um jovem curdo à Ahval, num comício do CHP.