Domingo, pelas 17 horas, no Estádio Nacional, disputa-se a final do Campeonato de Portugal. E, orgulhoso do seu passado ilustre, o Casa Pia Atlético Clube, os gansos negros que surgiram em 1920, por decisão de um grupos de ex- alunos da Casa Pia, encabeçados por António Pinho e pelo mestre Cândido de Oliveira, estará presente no Jamor para defrontar o Vilafranquense. Claro que as raízes do futebol casapiano são muito anteriores. Afinal, misturam-se com as próprias origens do futebol português pois, já em 1893, por obséquio do provedor da instituição Francisco Simões Margiochi, já o grupo que praticava educação física possuía uma bola de couro vinda especialmente de Inglaterra e juntava-se nas Terras do Desembargador, ali à Rua da Junqueira, para praticar o nobre desporto bretão.
Muitos desses jovens casapianos acabariam por estar na génese do Sport Lisboa, depois Sport Lisboa e Benfica, mas foi preciso esperar mais umas décadas para que finalmente houvesse uma verdadeira organização da Casa Pia dedicada ao desporto, com especial atenção ao futebol.
Tal como muitos jovens da Casa Pia de Lisboa foram fundamentais para a fundação do Benfica, muitos regressaram à origem com a criação do Casa Pia Atlético Clube. E, a 3 de outubro de 1920, o clube estreava-se num desafio frente ao Benfica. Inevitavelmente, dir-se-á.
Cândido de Oliveira, a quem apelidavam de mestre, é uma figura incontornável do futebol nacional e até internacional pois, no seu tempo, muitas das suas ideias foram publicadas em jornais de vários países europeus, como Espanha, França ou Itália. Foi ele o grande impulsionador dos gansos e não tardou que o Atlético casapiano se juntasse a Benfica, Sporting e Belenenses no quarteto dos grandes clubes de Lisboa.
Campeão!
Pouco menos de um ano após a sua criação, o Casa Pia era convidado para uma digressão a Paris. No seu extraordinário e indispensável livro História do Futebol em Lisboa, Marina Tavares Dias descreve essa viagem como um relativo sucesso. Duas derrotas contra o adversário parisiense, Cercle Athlétique de Paris (1-2 e 1-3), vitória frente aos catalães do Espanya (5-4), triunfo que valeu o convite para escalar em San Sebastian, no regresso a Portugal, e ter nova experiência internacional perante a Real Sociedad.
Se os gansos negros já voavam alto, mais alto voariam no final da sua primeira época de vida, conquistando o Campeonato de Lisboa, sem qualquer derrota nos jogos disputados e batendo Benfica, Sporting e Internacional, numa demonstração de qualidade e de coordenação que não deixou de causar natural sensação nos meios desportivos.
António Pinho, José Maria Gralha e António Augusto Lopes, além de Cândido de Oliveira, fizeram parte do primeiro onze da seleção nacional de futebol que, não por acaso, era tão influenciada pelos casapianos que vestia igualmente de camisola, calções e meias pretas.
Na época de 1938-39, o Casa Pia Atlético Clube chegou à i Divisão do futebol português. A aventura, apesar de excitante, acabaria malograda pelos resultados negativos. Em 14 jogos, uma única vitória e 13 derrotas, último lugar destacado da classificação geral e regresso às divisões secundárias, de onde nunca mais sairia. A vitória foi frente ao Barreirense, por 2-1. Goleadas tremendas, no campo do FC Porto (0-10) e do Benfica (1-10) tingiram de preto essa ocasião única do clube, mas não passam de notas de rodapé de uma existência fantástica. Este domingo, os gansos negros voam outra vez nos céus de Lisboa. E vale a pena trazer à superfície a memória de um clube único e de características incomparáveis. Salve, Atlético!